O Estado de S.Paulo - 02/08
Mais uma vez, o IBGE revela o desempenho decepcionante da indústria nacional e, novamente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisa que falta pouco para a indústria e toda a economia virar esse jogo perdedor.
Em junho, a produção física da indústria cresceu somente 0,2% em relação à de maio. Comparada com a de junho de 2011, foi 5,5% mais baixa. Nos seis primeiros meses deste ano, recuou 3,8% e, no período de 12 meses terminado em junho, também perdeu 2,3%.
Essa fraqueza operacional do setor industrial não tem nada a ver com falta de demanda. O consumo interno vai crescendo entre 5,0% e 6,0% neste ano. A indústria não consegue dar conta nem do mercado interno e vai sendo quase uma nulidade no mercado externo.
O problema de fundo, todos sabemos qual é: perda crescente de competitividade. O chamado custo Brasil tem avançado e a indústria brasileira vai ficando para trás.
O governo tem respondido a essa ineficiência com ainda mais ineficiência. Vai distribuindo pacotinhos de ação temporária, que inapropriadamente chama de políticas anticíclicas. Não passam de favores tributários com data marcada para acabar, caso também dessa redução de IPI para o segmento automotivo.
As distorções criadas com esses expedientes casuístas são enormes. Eles não criam mercado nem interno nem externo; apenas antecipam vendas internas. Isso significa que o faturamento que ocorreria mais à frente não sairá mais. Eles inibem investimentos não só porque a indústria fica à espera de nova edição de favores, mas também porque essas políticas voluntaristas, altamente dependentes da disposição da autoridade no comando a colocá-las em prática, deterioram o ambiente de estabilidade e de regras estáveis para os negócios.
Diante da nova planilha de números negativos divulgada ontem, o ministro Guido Mantega se sentiu na obrigação de levantar o moral dos empresários com as afirmações que vem repetindo há meses, de que o pior já passou e que vem aí uma virada. Tomara que, desta vez, esteja certo. Mas, por enquanto, esse otimismo não se confirma. E, mesmo que se confirme, não há como garantir que seja sustentável.
O governo avisa que está tomando providências para reduzir tarifas de energia elétrica. É esse o tipo de ação que vai na direção certa, na medida em que contribui para a redução dos custos de produção e para o aumento da competitividade. O problema é que essa redução vai se limitar a 10%, insuficiente para tirar o quilowatt-hora distribuído no Brasil da posição de um dos mais caros do mundo.
Mas os industriais brasileiros nem sempre colaboram para resgatar a indústria. Como ainda ontem afirmou o ex-ministro do Desenvolvimento Miguel Jorge, os dirigentes da indústria brasileira adoram proteção e "zona de conforto". Acostumados à moleza das reservas de mercado, conformam-se com o impraticável custo Brasil e, em vez de batalhar por reformas, vão aceitando cala-bocas de efeito temporário e perversos a longo prazo. Por exemplo, impostos sobre o faturamento que abrem caminho para outras distorções, como a múltipla tributação.