BRASIL ECONÔMICO - 03/08
A desaceleração global vai piorar, apesar dos bancos centrais. E estes não tentarão muito mais, por não terem mandato para tal
Os últimos otimistas sem base nem argumento saíram de férias no Hemisfério Norte. Afinal, estamos em agosto. Os realistas e eventuais pessimistas ficaram em casa. No Hemisfério Sul, majoritariamente povoado por nações emergentes ou submersas(não me perguntem quem são esses últimos), persistem dúvidas quanto ao grau do contágio da desaceleração mundial ora em curso. Qualifiquemos. Trata-se da mesma crise com os mesmos atores de 2008, apenas deslocados para outros cantos do palco planetário. Mas o tablado é umsó e treme debaixo dos pés de todos. O que tem mudado são as condições de interferência dos atores governos, que ficaram mais amarrados em sua já limitada capacidade de agir, na medida em que a munição monetária foi largamente utilizada, à exceção do caso do Brasil, e em que as condições fiscais estão agravadas por déficits sucessivos. As limitações de ordem política - líderes fracos ou com mandatos quase esgotados, como nos Estados Unidos e na China - tornam impossível a convocação de uma conferência monetária mundial para coordenar melhor a concorrência comercial e cambial entre as principais economias, condição essencial à retomada da produção de modo sustentado e confiável.
Os números da desaceleração mundial ainda vão piorar até o fim deste ano, façam o que fizerem o Fed e o BCE. E estes não tentarão muito mais, por não terem mandato para tal. A política monetária seguirá frouxa, com as taxas de juros básicas próximas de zero, favorecendo os papéis do Tesouro americano, porém com baixa ou nenhuma repercussão sobre a demanda de produtos, sobretudo no sensível setor industrial, no qual se acumulam, hoje, estoques gigantescos de mercadorias sem comprador. Um exemplo: a Coreia do Sul, a supermáquina exportadora de industrializados, sentiu um baque de 9% de queda nas vendas externas de manufaturas neste segundo trimestre. O mesmo ocorre na China, que enfrenta recuo nas suas exportações e, por isso, começa a desaquecer suas compras. Nos Estados Unidos, o quadro de seca nas lavouras de grãos émotivo de preocupação a mais, por introduzir um elemento novo, a inflação de alimentos, num quadro de desemprego persistente.
O mais grave, porém, será ver a repetição das tentativas de mais afrouxamento monetário, ou seja, mais emissões a fim de socorrer o descapitalizado sistema bancário. Mario Draghi, do BCE, acena com isso. A combinação de uma política monetária frouxa com a tentativa de apertar o cerco fiscal contra empresas e famílias só contribuirá para prolongar e agravar as condições da crise. Mais moeda na mão dos bancos apenas engrossará suas reservas ociosas, usadas para especularem commodities, ações e moedas. Eles não querem emprestar mais para famílias e empresas endividadas. E a tentativa de cobrar mais impostos em plena recessão é tarefa inútil. Temos uma combinação monetária-fiscal equivocada para lidar com este momento da crise. Os governos do Hemisfério Norte deveriam estar neutralizando a folga monetária exagerada e fazer mais política fiscal compensatória, mediante devolução direta de recursos fiscais para a base da pirâmide. Como farão o oposto disso, os caminhos de 2013 ainda continuarão trancados, com riscos crescentes de derrapagem nas curvas e novo acidente grave.