Os juros também obedecem a leis de mercado, e, no caso brasileiro, refletem uma demanda reprimida por crédito e uma oferta ainda insatisfatória. O total de crédito no país, embora tenha crescido a taxas anuais de quase 20%, não ultrapassa o equivalente à metade do Produto Interno Bruto (PIB). Nas economias mais desenvolvidas, essa percentagem chega ao dobro, e mesmo nas emergentes os índices estão mais próximos de 70%.
Uma das razões de o crédito ser caro e restrito no Brasil é que o sistema financeiro tem em seu passivo uma elevada concentração de recursos com garantia de liquidez imediata, herança dos tempos em que, para se proteger da inflação, os poupadores se habituaram às aplicações de overnight. De maneira geral, os poupadores não se sentem suficientemente seguros nas aplicações de mais longo prazo, haja vista que é relativamente recente a disseminação de fundos de previdência privada complementar, por exemplo. É um quadro que tende a mudar, pouco a pouco, à medida que o real consiga se mostrar menos vulnerável à inflação - e não sejam tomadas decisões em Brasília que gerem dúvidas sobre o futuro.
A garantia de liquidez imediata teve como lastro principal a rolagem da dívida pública. A diminuição e o alongamento desse endividamento certamente contribuirão para que os poupadores se sintam mais atraídos para aplicações de médio e longo prazos, especialmente se tiverem estímulos tributários para tal.
Enquanto essa transformação não se materialize, haverá um embate entre os bancos e os tomadores de crédito. Os juros muito elevados criaram, de fato, um ciclo vicioso. Por falta de opção, os que precisam recorrer ao crédito se arriscam a uma situação de desequilíbrio financeiro diante de qualquer eventualidade ou turbulência que afete seus rendimentos. O crédito caro embute, então, o risco de inadimplência alta. E a falta de pagamentos leva o sistema financeiro a compensar a perda com a cobrança de uma taxa média de juros salgada. Esta é uma das causas de um elevado spread no Brasil - diferença entre o que o banco paga ao investidor em seus títulos e o que cobra do tomador de empréstimo.
O embate muitas vezes resvala para disputas judiciais, que podem adiar a solução e ter um resultado imprevisível para ambos os lados. Assim, os bancos acabam cobrando menos juros em créditos nos quais se sentem mais garantidos (desconto em folha, retomada de bens e imóveis etc.) e vão ao exagero nos financiamentos sem garantia (cartões de crédito, crédito pessoal, cheque especial). São uma aberração taxas de 50% ao ano quando a inflação se encontra abaixo de 6% e a Selic aquém de 10% .
O governo parece acreditar que a quebra desse círculo vicioso ocorrerá por uma maior concorrência por parte de bancos estatais (BB e CEF). Não deveria ser muito otimista, diante da pouca mobilidade da clientela (é pequeno o número de clientes que costumam mudar de banco atraído por oferta de crédito menos caro). Então, é pouco provável que os juros recuem significativamente apenas por esse movimento, sem que outros fatores que contribuem para taxas elevadas se alterem. Os bancos, com razão, pedem menos impostos para praticar taxas mais civilizadas. O governo não gosta da reivindicação. Mas o espaço de negociação precisa ser mantido aberto, para que cheguem a pontos comuns. O Brasil não está condenado a ter juros nas nuvens por todo o sempre.