FOLHA DE SP - 19/04/12
Apesar do rebuliço e das baixas de juros nos bancos privados, não dá para saber efeito real da "liquidação"
A TAXA BÁSICA de juros da economia, a Selic, caiu ontem de novo. Grosso modo, a Selic indica o custo básico dos bancos para tomar dinheiro emprestado, fundos que depois serão reemprestados à clientela, pessoas físicas e empresas. Na verdade, o bolo do custo de captação dos bancos tem mais ingredientes, mas, para esta conversa, a Selic é um equivalente razoável.
Todos os maiores bancos privados passaram a oferecer juros menores em algumas operações. Embora alguns deles o neguem até agora, tratou-se em primeiro lugar de um gesto para apaziguar a pressão oficial. Em segundo lugar, mas não se sabe em qual medida, deram o desconto para não perder negócios.
De qualquer modo, considerada a queda de ontem da Selic, os bancos estão dando esmola com o dinheiro alheio, digamos, ao menos em parte, pois o custo deles caiu.
Note-se também que muitas das linhas de crédito agora "barateadas" são aquelas nas quais os bancos correm menos risco de calote ou mais risco de perder clientes.
Bancos baratearam o custo do crédito para a compra de carros e o do consignado. Nesses casos, as taxas já estão entre as menores da praça, pois as garantias de pagamento ou retomada do bem são razoáveis. No caso do consignado, as parcelas do financiamento são capturadas da conta do tomador de empréstimo, sem choro nem vela.
Como se observava em reportagem de ontem desta Folha, bancos privados também foram mais agressivos na redução dos juros para empresas, pois nesse caso sentiram um pouco mais o calor da concorrência: empresas operam com vários bancos e fazem um leilão de cotações antes de tomar empréstimos.
Houve reduções "de tabela" nas taxas do cheque especial, mas não se sabe muito bem quem vai ter acesso a essas linhas mais baratas. Provavelmente, aqueles que não vão mergulhar muito profundamente nesse poço do inferno do crédito, no qual taxas de juros na casa de 190% ao ano condenam o tomador à danação financeira eterna.
Obviamente não se pode culpar os bancos do "crime" de evitar negócios ruins e prejudiciais. Mas tem sido cuidadosa a movimentação geral da banca privada, alardeada, porém, em anúncios publicitários gritantes. Contrapropaganda.
Ou seja, o pessoal sentiu o golpe do governo, percebeu os danos de imagem e ficou acuado politicamente. Enfim, resolveu pelo menos dar um jeito naquele horrível "faux pas" (escorregão) diplomático da Febraban, que foi a Brasília como se estivesse visitando a criadagem na copa & cozinha -ou ao menos foi assim que a coisa "pegou" no Planalto. Mas isso é conversinha política.
Vai demorar pelo menos até a metade do ano para sabermos de fato em quanto as taxas baixaram, para qual quantidade de empréstimos. Ou melhor, para tentarmos saber o que ocorreu de fato, pois outros determinantes dos juros poderão ter tido papel relevante e embolar o meio de campo da análise. Nível de inadimplência, demanda de crédito, perspectiva de crescimento da economia, estado geral das finanças e da liquidez pelo Brasil e pelo mundo etc. são fatores que influenciam o nível das taxas de juros.
De qualquer modo, o governo começou um experimento para saber o que se passa no mercado bancário. Mas é pouco. Faltam reformas.
A TAXA BÁSICA de juros da economia, a Selic, caiu ontem de novo. Grosso modo, a Selic indica o custo básico dos bancos para tomar dinheiro emprestado, fundos que depois serão reemprestados à clientela, pessoas físicas e empresas. Na verdade, o bolo do custo de captação dos bancos tem mais ingredientes, mas, para esta conversa, a Selic é um equivalente razoável.
Todos os maiores bancos privados passaram a oferecer juros menores em algumas operações. Embora alguns deles o neguem até agora, tratou-se em primeiro lugar de um gesto para apaziguar a pressão oficial. Em segundo lugar, mas não se sabe em qual medida, deram o desconto para não perder negócios.
De qualquer modo, considerada a queda de ontem da Selic, os bancos estão dando esmola com o dinheiro alheio, digamos, ao menos em parte, pois o custo deles caiu.
Note-se também que muitas das linhas de crédito agora "barateadas" são aquelas nas quais os bancos correm menos risco de calote ou mais risco de perder clientes.
Bancos baratearam o custo do crédito para a compra de carros e o do consignado. Nesses casos, as taxas já estão entre as menores da praça, pois as garantias de pagamento ou retomada do bem são razoáveis. No caso do consignado, as parcelas do financiamento são capturadas da conta do tomador de empréstimo, sem choro nem vela.
Como se observava em reportagem de ontem desta Folha, bancos privados também foram mais agressivos na redução dos juros para empresas, pois nesse caso sentiram um pouco mais o calor da concorrência: empresas operam com vários bancos e fazem um leilão de cotações antes de tomar empréstimos.
Houve reduções "de tabela" nas taxas do cheque especial, mas não se sabe muito bem quem vai ter acesso a essas linhas mais baratas. Provavelmente, aqueles que não vão mergulhar muito profundamente nesse poço do inferno do crédito, no qual taxas de juros na casa de 190% ao ano condenam o tomador à danação financeira eterna.
Obviamente não se pode culpar os bancos do "crime" de evitar negócios ruins e prejudiciais. Mas tem sido cuidadosa a movimentação geral da banca privada, alardeada, porém, em anúncios publicitários gritantes. Contrapropaganda.
Ou seja, o pessoal sentiu o golpe do governo, percebeu os danos de imagem e ficou acuado politicamente. Enfim, resolveu pelo menos dar um jeito naquele horrível "faux pas" (escorregão) diplomático da Febraban, que foi a Brasília como se estivesse visitando a criadagem na copa & cozinha -ou ao menos foi assim que a coisa "pegou" no Planalto. Mas isso é conversinha política.
Vai demorar pelo menos até a metade do ano para sabermos de fato em quanto as taxas baixaram, para qual quantidade de empréstimos. Ou melhor, para tentarmos saber o que ocorreu de fato, pois outros determinantes dos juros poderão ter tido papel relevante e embolar o meio de campo da análise. Nível de inadimplência, demanda de crédito, perspectiva de crescimento da economia, estado geral das finanças e da liquidez pelo Brasil e pelo mundo etc. são fatores que influenciam o nível das taxas de juros.
De qualquer modo, o governo começou um experimento para saber o que se passa no mercado bancário. Mas é pouco. Faltam reformas.