O GLOBO - 23/04/12
Um veterano senador procurou o colega José Sarney (PMDB-AP) tão logo se convenceu da criação da CPI que investigará eventuais crimes cometidos pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira e sua gangue. “Aqui no Senado somos os mais experientes em matéria de CPIs. Essa vai dar no quê?” – perguntou. “Em merda. E nos caberá limpá-la”, ouviu de Sarney.
CPI é instrumento de luta da oposição. Governo é exterminador de CPIs. O que as CPIs apuram é remetido ao Ministério Público. A do Cachoeira será uma CPI pelo avesso. A oposição jamais cogitou dela. O PT cogitou e conseguiu montá-la. Tudo o que a polícia e Ministério Público apuraram desde 2009 servirá para dar partida à CPI.
Não lembro de político conhecido, filiado a qualquer partido, que tenha feito uma defesa entusiasmada da CPI do Cachoeira. Há um silêncio ensurdecedor a respeito, principalmente dos governadores. É como se todo mundo pensasse assim: “Com toda a certeza vai dar merda”. É da natureza das CPIs.
Lula é o pai da CPI do Cachoeira. Dilma recusou-se a ser a mãe. A CPI foi concebida para alcançar dois objetivos. O primeiro: enlamear a biografia do maior número possível de políticos e de administradores públicos no ano em que a Justiça poderá julgar o caso do mensalão. Assim, a conta do mensalão ficará menos pesada para o PT. Lembra daquele personagem de Chico Anísio dono do bordão “Sou, mas quem não é?” No passado remotíssimo, o PT se dizia um partido imaculado — os outros é que eram sujos. Uma vez que chegou ao poder acabou ficando tão sujo quanto os outros. Hoje, o PT se esforça em demonstrar que os outros são iguaizinhos a ele.
O segundo objetivo da CPI inventada por Lula em parceria com José Dirceu e o PT: disputar com o julgamento do mensalão a atenção do distinto público. Desse ponto de vista, reconheça-se, o objetivo foi alcançado antes mesmo de a CPI deslanchar de vez. Por ora, fala-se mais dela do que do julgamento dos mensaleiros. Em compensação...
Em compensação, o processo do mensalão se arrastava preguiçosamente no Supremo Tribunal Federal(STF). O voto do relator, ministro Joaquim Barbosa, está pronto. Mas para que o julgamento comece falta o voto do ministro-revisor Ricardo Lewandowski. O barulho provocado pela CPI obrigou Lewandowski a trabalhar mais rápido.
Ainda não é certo que o STF julgue neste ou no próximo semestre os 38 réus do mensalão. Porém, já foi mais incerto. Um denso clima de pressa se impõe nos gabinetes dos 11 ministros. E na maioria deles se aposta que o destino dos mensaleiros será definido por um ou dois votos de diferença. Talvez três. A depender.
A depender do ministro Antonio Dias Toffoli, que ainda não sabe se votará. Toffoli foi assessor do líder do PT na Câmara dos Deputados entre 1995 e 2000. Advogado do PT nas duas campanhas presidenciais de Lula, trabalhou com Dirceu na Casa Civil de 2003 a 2005. Lula o nomeou Procurador Geral da República e ministro do STF.
Embora ainda se mexa, a primeira vítima da CPI do Cachoeira jaz estendida no chão — a empreiteira Delta de Fernando Cavendish, dona de obras de porte em todos os estados brasileiros. Cautelosa, Dilma autorizou a Controladoria-Geral da União a abrir processo para avaliar se a Delta deve ser declarada inidônea e proibida de participar de licitações oficiais.
Dilma finge que não se mete com a CPI. Diz que ela é assunto afeito unicamente ao Congresso. Fatura a imagem de boa moça que não teme a apuração de malfeitos. Menos, menos! À sombra, Dilma influencia na indicação de nomes para a bancada do governo na CPI. E exige ser ouvida sobre qualquer coisa que se passe por lá.
Compreensível que se comporte assim. O que fascina numa CPI é que nem o presidente da República, por mais forte que seja, pode dormir em paz enquanto ela durar. Um boy, uma secretária ou um motorista são capazes de tirar o sono do presidente e deixar o país com a respiração suspensa.
Entrevista:O Estado inteligente
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