Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 15, 2012

Falta convencer - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 15/04/12



O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, parece impressionado com o fato de que não consegue, como antes, fazer a cabeça dos marcadores de preços.

Embora o Banco Central tenha repisado que a inflação deste ano convergirá para o centro da meta (4,5%), o mercado insiste em trabalhar com níveis mais altos, superiores a 5,0% - mesmo depois de conhecida a inflação bem mais baixa de março (de apenas o,21%, segundo o próprio Banco Central apurou com a Pesquisa Focus).

É um pouco cedo para afirmar categoricamente que o Banco Central perdeu credibilidade porque, a rigor, ainda não há instituição mais confiável na execução dessa tarefa. Mas é inegável que a atuação do Banco Central e, mais do que isso, a falta de justificativas coerentes para ela criaram um ambiente mais carregado de incertezas.

As explicações para as decisões de política monetária mudam a cada ata do Copom. A queda dos juros começou em agosto sob o argumento de que se prenunciava catástrofe financeira de vastas proporções - que não veio. Depois, que a alta anterior dos preços das commodities havia cedido e que, assim, não pressionaria a inflação interna. Em seguida, que a atividade econômica estava em desaceleração, o que sugeria que o Banco Central olhava também para a criação de empregos - embora a economia registrasse nesse quesito o melhor desempenho da história.

No início deste ano, o Banco Central anunciou o que pareceu meta de juros: a determinação de alcançar a Selic de um dígito (abaixo de 10%). E a todo momento indica que o controle da inflação também passou a ser obtido por meio da imposição de providências macroprudenciais, cujo objetivo é regular o crédito ou o câmbio, e não enquadrar a inflação.

Alguns observadores têm contra-argumentado, em defesa do Banco Central, que até instituições mais ortodoxas encarregadas da estratégia e da execução da política monetária, como o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o Banco Central Europeu (BCE), o Banco Nacional da Suíça (banco central) e o Banco do Japão (BoJ) fazem experimentos monetários. E que não faria sentido o Banco Central do Brasil ser exceção.

Esta é mesmo uma crise global diferente e exige respostas diferentes, como as dos grandes bancos centrais, no limite da responsabilidade (ou da irresponsabilidade). E não haveria, em princípio, contraindicação para que, nessas circunstâncias, o Banco Central do Brasil também buscasse outros caminhos para as Índias.

A diferença é que lá fora os novos vieses de política monetária vêm com justificativas e avisos claros dos objetivos pretendidos. Por aqui, não. A política mudou e o Banco Central procura outros efeitos. Mas mantém o discurso de que as intervenções no câmbio só buscam evitar a volatilidade das cotações, não a desvalorização do real; e que a política monetária opera apenas para enfiar a inflação para dentro da meta, não para alcançar juros de um dígito ou incentivar a atividade produtiva e o emprego.

O resultado é a criação de um cenário em que não fica clara a estratégia. É natural que essa falta de explicações prejudique uma missão importante do Banco Central num regime de metas de inflação: a da condução das expectativas.

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