FOLHA DE S. PAULO
Quando o Brasil cresce a mais de 5%, tem de parar para respirar. "Modelo" parece estar se esgotando
Outubro parece ter sido mesmo o fundo do poço da atividade econômica no Brasil. A economia estagnou no terceiro trimestre, cresceu entre 0,2% e 0,4% no quarto e não deve ir muito mais longe do que isso no início deste 2012.
Assim, não devemos ter crescido mais que 2,8% em 2011 (menos que a Alemanha); talvez não mais que 3,5% em 2012. E daí?
Considere-se o número matematicamente chutado para o crescimento do PIB em 2012: 3,5%. Parece que o Brasil tem crescido muito desde 2004 (média de 4,3% ao ano). Mas frequentemente voltamos a cair para os tais 3,5%. Temos picos de alta; quando chegamos ao ritmo de quase 6%, temos de parar para respirar (a inflação sobe).
Sim, é melhor que a média 1990-2003 (1,9%), é um crescimento mais regular, com melhora na distribuição do rendimento do trabalho. Daí o grande alívio e o contentamento quase geral da nação.
O país cresceu 5,7% em 2004, depois de três anos medíocres (média de 1,7%). Mas no biênio seguinte, de alta de juros e real forte, o crescimento ficou em 3,6%, na média.
Houve então os anos acelerados de 2007 e 2008 (média de 5,6% ao ano), com o vento a favor do moribundo ciclo de crescimento demasiado no resto do mundo, com supervalorização de commodities (que exportamos em massa) e com a novidade do "fim da dívida externa" (tivemos superavit nas contas externas e acumulamos reservas).
2009 foi abaixo de zero. Por causa da crise lá fora? Decerto. Mas o Banco Central iniciara em 2008 uma campanha de alta de juros que apenas não foi mais adiante devido à ameaça de recessão aguda.
Provavelmente, sem crise lá fora mas com juros subindo para conter a inflação, voltaríamos ao ritmo de algo entre 3,5% e 4%, como no biênio 2005-2006. Mesmo com os extraordinários 7,5% de 2010, a média do biênio 2009-2010 ficou em 3,6%.
Parece uma cabala aritmética? Talvez não. Alguma coisa acontece na economia brasileira quando o crescimento passa dos 5%. Não se trata de destino. Mas a inflação sobe. Neste 2012, além de inflação ainda alta (em torno de 5%), teremos alta do deficit em conta-corrente (compramos no exterior nosso excesso de consumo).
Um tanto mais preocupante é que, dizem economistas, podem estar se desvanecendo os efeitos dos ganhos de produtividade decorrentes de mudanças ocorridas entre 1994 e 2005.
Desde então, não foram destravados empecilhos regulatórios sérios ao funcionamento do mercado. Afora o pré-sal, ainda uma incógnita ou em preparação, não surgiu um novo setor (de preferência tecnologicamente mais avançado) para puxar o investimento. A taxa de investimento sobe devagar, sem grandes novidades produtivas, seguindo o crescimento do mercado interno e o preço das commodities.
Mas está difícil dar gás adicional à alta do consumo: há limite para alta de benefícios sociais e do salário mínimo, o mercado de trabalho está apertado e a inflação (afora o câmbio) torna os produtos brasileiros menos competitivos. Precisamos de mudanças mais profundas.
O joguinho de um ponto de juros para cá, de um pouco mais ou menos de gasto público acolá não vai resolver o nosso problema. É um debate meio morto. Afora o tédio.