FOLHA DE SP - 14/01/12
RIO DE JANEIRO - Há tempos, num debate fora do Rio sobre literatura, alguém na plateia se referiu a biografias que escrevi -de Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda- e perguntou de quem seria a próxima. De brincadeira, respondi que estava pensando em Agamenon Mendes Pedreira, o jornalista venal, corrupto e mau-caráter. Como a piada caísse no vazio, expliquei que Agamenon era um personagem fictício, criado no "Globo" pelos humoristas Hubert Aranha e Marcelo Madureira, da turma do "Casseta".
A piada continuou no vazio, exceto para Marcelo e Hubert, que souberam dessa resposta e, anos depois, ao ter a ideia de filmar a vida de Agamenon, se atreveram a me convidar para fazer o "biógrafo não autorizado" do velho escroque da imprensa. E eu, num atrevimento ainda maior, aceitei.
O filme, "As Aventuras de Agamenon, o Repórter", acaba de estrear em 300 cinemas pelo Brasil, o que faz com que, desde então, eu não tenha muito onde me esconder. Por onde passo, desconhecidos íntimos gritam: "Te vi!", "Você, hein?" ou "E a Luana Piovani?", o que recebo como avaliações a favor. Os críticos também têm sido magnânimos comigo -limitam-se a citar minha participação.
Outros convidados, além de Fernanda Montenegro como narradora, são Pedro Bial, Caetano Veloso, Jô Soares, Paulo Coelho, Nelson Motta e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, todos dando seus "depoimentos" sobre Agamenon. Exceto Fernanda e Jô, nenhum de nós é ator, embora estejamos a toda hora diante das câmeras, no papel de nós mesmos.
Mas ninguém supera a convicção e a naturalidade com que FHC se refere ao imaginário Agamenon. Em certos momentos, quase me fez acreditar que Agamenon existia de verdade. A "aisance" de FHC na tela lembrou-me algumas de suas grandes atuações na Presidência.