O Estado de S. Paulo - 20/01/2012 |
Como esperado, a decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P), de rebaixar a qualidade de nove dívidas da área do euro, provocou uma catadupa de reações de repúdio - de governantes, especialistas, críticos e analistas de mercado.
Depois de ter emudecido durante dois dias, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, recobrou sua capacidade de falar e aproveitou para passar uma descompostura nos seus adversários do Partido Socialista, que viram na decisão da S&P uma condenação de sua política econômica: "Não é a S&P que determina a política econômica da França", disse ele.
Alguns políticos da França e de Bruxelas a reprovaram por outras razões: Olli Renh, comissário de Assuntos Econômicos e Monetários da União Europeia, por exemplo, alertou que o veredicto da S&P "atende a interesses de certos círculos monetários e financeiros; e não aos da Europa". Outros preferiram dizer que está mais do que na hora de serem criadas agências de classificação exclusivamente europeias, que não sejam influenciadas por interesses espúrios.
Essa reação é um tanto estranha porque, até agora, a S&P foi a única agência estrangeira que rebaixou as dívidas da França e da Áustria. Se quiserem ficar com avaliações de ratings que eventualmente sejam feitas com critérios diferentes, não têm necessidade de criar uma nova, nem que seja europeia.
Não dá para negar as lambanças que essas agências, grandes e pequenas, cometeram ao longo dos últimos seis anos. Estiveram excessivamente atreladas a interesses imediatos de grandes conglomerados financeiros e fizeram seu jogo. Por exemplo, carimbaram com o triplo A pacotes de ativos vendidos pelos bancos que, de uma semana para a outra, se revelaram lixo tóxico. Além disso, vivem relação comercial que, no mínimo, deve ser considerada promíscua, à medida que são pagas pelos diretamente interessados no conteúdo dos seus laudos.
No entanto, no episódio específico desse rebaixamento, não dá para falar que a S&P tenha inventado algo. As condições macroeconômicas desses países obviamente pioraram. Qualquer organismo internacional comprovaria isso com inúmeras e inexoráveis estatísticas.
Afora isso, mal ou bem, as agências de avaliação cumprem função que apenas organismos altamente especializados podem desempenhar: atestar a qualidade de compromisso assumido por um devedor. Pelos erros já cometidos e pelas suas omissões, certamente precisam ser mais bem reguladas - ou minimamente controladas. Mas também não foram elas que inventaram nem o endividamento excessivo nem o calote soberano.
Há, sim, o argumento de que o simples rebaixamento das dívidas ajuda a afundar uma economia que tenta se recuperar. Pode ser verdade. Mas quem mais contribuiu para afundar as economias da área do euro: as agências de classificação de risco, que, de um modo ou de outro, apontam o tamanho do câncer; ou os dirigentes políticos, que primeiramente afundaram seus países nas dívidas e, depois, em vez de buscarem uma solução duradoura, nada mais fizeram do que enrolar e ganhar tempo com sucessivas reuniões de cúpula?
Ruim com elas, pior sem elas.
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Entrevista:O Estado inteligente
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