O GLOBO - 18/01/12
A China cresce ainda. Cresce fortemente, mas um pouco menos. A inflação desceu. Esse foi o alívio que a segunda maior economia ofereceu ontem ao mundo para atenuar a frente fria que sopra da Europa sobre a economia mundial. As bolsas subiram, as ações da Vale, ainda mais, e o mundo respirou por um dia. A China é aquele país que atrai, assusta, e com o qual todos contam.
Trocando em miúdos, foi essa a encomenda feita à China: desacelerar devagar para afastar a inflação, mas não cair abruptamente. E foi o que o país fez. Em geral, números de uma ditadura não são confiáveis. O da inflação é bem menos crível que o do crescimento. A inflação caiu de 6,5% para 4,1% de julho a dezembro. Se for como o governo diz, está ótimo. Vejam abaixo no gráfico.
Anunciado pelo Conselho de Estado, o número da inflação dá razões para ceticismo, mas alimentou a esperança no mercado. O raciocínio é assim: se a inflação caiu e o preço pago pelo PIB não foi tão grande, então o governo pode adotar novos estímulos monetários para manter o crescimento chinês.
Vários números surpreenderam: vendas do varejo, produção industrial, o próprio PIB, que terminou em 9,2%. O PIB chinês vem desacelerando trimestre a trimestre. Mas tudo dentro do previsto. Essa é a razão do alívio porque o que o mundo não aguenta mais é o inesperado.
No primeiro trimestre de 2010, o PIB cresceu 12,1%, mas o ano fechou em 10,4%; desacelerou mais, para 9,6%, no segundo trimestre de 2011; e fechou em 9,2%. Se for o último trimestre contra o último trimestre do ano anterior, o número é 8,9%. Ou seja, a economia saiu de 12% para 9%, mas sob controle. No primeiro trimestre de 2009, o PIB anualizado chinês caiu, de repente, para 6,6%. Aquilo assustou. Agora, os números descem mais devagar. O investimento estava crescendo a 25% em outubro do ano passado, agora cresce a 18,5%. Isso reduz o ritmo futuro, mas nada dramático.
Mesmo assim, os institutos de análise, alguns economistas e reportagens de jornais têm mostrado as várias inconsistências da economia chinesa. O porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas, Ma Jiantang, disse que este é um ano de "desafios" e "complexidades".
A Vale continua apostando que a China terá que fazer grandes investimentos em infraestrutura e continuará comprando minério de ferro do Brasil por muitos anos. Este ano, segundo Roberto Castello Branco, o país tem que correr para completar as 10 milhões de casas populares que começou a construir no ano passado e iniciar mais 10 milhões. Segundo o diretor de Relações com Investidores da Vale, o governo pretende agora no XII Plano Quinquenal apostar no crescimento das regiões central e oeste, que são menos desenvolvidas.
Ontem, outra estatística impressionou: pela primeira vez a China tem uma população maior na área urbana do que na rural, 51,3%. Isso exige investimentos em infraestrutura. E há ainda 656 milhões no campo. O processo de urbanização vai exigir muito investimento. Isso é visto ora como gás para crescimento, ora como risco de colapso, pela pressão grande demais para ser atendida. Como diria Ma Jiantang, é desafio e complexidade ao mesmo tempo.
Numa entrevista recente na Globonews, Roberto Milani, exportador e importador, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, me disse que desde a primeira vez que foi lá fazer negócios, nos anos 1980, até agora, o país virou outro. Além das óbvias mudanças ocorridas, há outras que muita gente ainda não acredita. Ele disse que os salários têm aumentado e que existem áreas em que os chineses começam a deixar de ser competitivos. Segundo Milani, é preciso, nessas áreas, procurar produtos nos países vizinhos, como Mianmar. Pode ser. Mas a China ainda tem salários muito mais baixos do que seus competidores e tem o empurrão nas exportações do câmbio subvalorizado.
Com a certeza de que a Europa continuará em ambiente recessivo, que o Japão mantém ritmo próximo de zero e a economia americana se recupera devagar, a esperança do mundo é de que a China continue crescendo. Segundo o empresário Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, o crescimento chinês este ano ficará entre 8% e 8,5%, e o governo manterá os estímulos fiscais e monetários. O crescimento do ano passado foi bom para o Brasil, ressalta Tang, porque o nosso superávit comercial com a China pulou de US$ 5,2 bilhões para US$ 11,5 bilhões. Por enquanto, tudo como dantes: o vento bom continua vindo da Ásia.
Trocando em miúdos, foi essa a encomenda feita à China: desacelerar devagar para afastar a inflação, mas não cair abruptamente. E foi o que o país fez. Em geral, números de uma ditadura não são confiáveis. O da inflação é bem menos crível que o do crescimento. A inflação caiu de 6,5% para 4,1% de julho a dezembro. Se for como o governo diz, está ótimo. Vejam abaixo no gráfico.
Anunciado pelo Conselho de Estado, o número da inflação dá razões para ceticismo, mas alimentou a esperança no mercado. O raciocínio é assim: se a inflação caiu e o preço pago pelo PIB não foi tão grande, então o governo pode adotar novos estímulos monetários para manter o crescimento chinês.
Vários números surpreenderam: vendas do varejo, produção industrial, o próprio PIB, que terminou em 9,2%. O PIB chinês vem desacelerando trimestre a trimestre. Mas tudo dentro do previsto. Essa é a razão do alívio porque o que o mundo não aguenta mais é o inesperado.
No primeiro trimestre de 2010, o PIB cresceu 12,1%, mas o ano fechou em 10,4%; desacelerou mais, para 9,6%, no segundo trimestre de 2011; e fechou em 9,2%. Se for o último trimestre contra o último trimestre do ano anterior, o número é 8,9%. Ou seja, a economia saiu de 12% para 9%, mas sob controle. No primeiro trimestre de 2009, o PIB anualizado chinês caiu, de repente, para 6,6%. Aquilo assustou. Agora, os números descem mais devagar. O investimento estava crescendo a 25% em outubro do ano passado, agora cresce a 18,5%. Isso reduz o ritmo futuro, mas nada dramático.
Mesmo assim, os institutos de análise, alguns economistas e reportagens de jornais têm mostrado as várias inconsistências da economia chinesa. O porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas, Ma Jiantang, disse que este é um ano de "desafios" e "complexidades".
A Vale continua apostando que a China terá que fazer grandes investimentos em infraestrutura e continuará comprando minério de ferro do Brasil por muitos anos. Este ano, segundo Roberto Castello Branco, o país tem que correr para completar as 10 milhões de casas populares que começou a construir no ano passado e iniciar mais 10 milhões. Segundo o diretor de Relações com Investidores da Vale, o governo pretende agora no XII Plano Quinquenal apostar no crescimento das regiões central e oeste, que são menos desenvolvidas.
Ontem, outra estatística impressionou: pela primeira vez a China tem uma população maior na área urbana do que na rural, 51,3%. Isso exige investimentos em infraestrutura. E há ainda 656 milhões no campo. O processo de urbanização vai exigir muito investimento. Isso é visto ora como gás para crescimento, ora como risco de colapso, pela pressão grande demais para ser atendida. Como diria Ma Jiantang, é desafio e complexidade ao mesmo tempo.
Numa entrevista recente na Globonews, Roberto Milani, exportador e importador, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, me disse que desde a primeira vez que foi lá fazer negócios, nos anos 1980, até agora, o país virou outro. Além das óbvias mudanças ocorridas, há outras que muita gente ainda não acredita. Ele disse que os salários têm aumentado e que existem áreas em que os chineses começam a deixar de ser competitivos. Segundo Milani, é preciso, nessas áreas, procurar produtos nos países vizinhos, como Mianmar. Pode ser. Mas a China ainda tem salários muito mais baixos do que seus competidores e tem o empurrão nas exportações do câmbio subvalorizado.
Com a certeza de que a Europa continuará em ambiente recessivo, que o Japão mantém ritmo próximo de zero e a economia americana se recupera devagar, a esperança do mundo é de que a China continue crescendo. Segundo o empresário Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, o crescimento chinês este ano ficará entre 8% e 8,5%, e o governo manterá os estímulos fiscais e monetários. O crescimento do ano passado foi bom para o Brasil, ressalta Tang, porque o nosso superávit comercial com a China pulou de US$ 5,2 bilhões para US$ 11,5 bilhões. Por enquanto, tudo como dantes: o vento bom continua vindo da Ásia.