Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 22, 2012

A tempestade pode não vir - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 22/01/12


Apesar das projeções sombrias divulgadas na semana que passou pelo Banco Mundial (Bird) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), há um punhado de sinais que apontam para dias mais ensolarados no cenário da economia internacional.

O primeiro deles vem dos Estados Unidos e dá conta de notável recuperação do emprego. Em dezembro, por exemplo, os níveis de desocupação recuaram dos 9,2% a que chegaram, em julho, para 8,5%. As novas projeções sobre a atividade econômica também sugerem certa reação. Em vez da quase paradeira que foi o crescimento insatisfatório de 1,7% estimado para 2011 (os números definitivos ainda não estão disponíveis), as novas previsões são de que dá para esperar para 2012 uma expansão do PIB de pelo menos 2,5%.

Outro bom indício foi passado pelo Escritório Nacional de Estatística da China: salto de 9,2% na economia chinesa no ano passado, mais alto do que as apostas que vinham sendo feitas pela maioria dos observadores internacionais - de um avanço não superior a 8,6%. Além disso, foi confirmada uma inflação sob controle, de não mais do que 5,4%. Ficou nítido, então, que também em 2012 a China pode avançar mais do que os 8,0% hoje esperados.

Dos dirigentes da área do euro - epicentro dos maiores riscos de estagnação e de turbulência - ainda não foram obtidas decisões consistentes para a saída desta crise de dívidas e fortalecimento da moeda comum. No entanto, mudou a maneira como o Banco Central Europeu (BCE) - agora sob a direção do italiano Mario Draghi - passou a atacar os grandes focos de incêndio. Além de prosseguir com suas operações de recompra de títulos soberanos dos países mais vulneráveis do bloco monetário (especialmente da Itália e da Espanha) com o objetivo de criar mercado e derrubar juros (yields), o BCE abriu uma linha, em princípio, ilimitada de crédito de mais longo prazo (3 anos) com as instituições financeiras, a juros de apenas 1% ao ano. O primeiro megaleilão realizado em 21 de dezembro alcançou a magnitude de 489,2 bilhões de euros (US$ 630 bilhões). A segunda oferta está agendada para fevereiro.

No conjunto, essas enormes operações de crédito produziram quatro efeitos de grande importância: (1) abriram canal indireto de refinanciamento das dívidas soberanas, na medida em que financiaram também o principal credor - os bancos; (2) obtiveram no mercado relevante redução dos juros cobrados no lançamento de novos títulos destinados tanto à rolagem de dívida velha como ao financiamento de novos déficits orçamentários; (3) afastaram as mais sérias ameaças de colapso geral do crédito; e (4) desarmaram as principais fontes de desconfiança e turbulência que pairavam sobre o mercado financeiro mundial.

Informações mais frescas mostram que o BCE elevou para perto de 2,7 trilhões de euros o total de ativos que, em meados de 2011, era de 1,9 trilhão de euros - como se pode ver no gráfico. Essa injeção de moeda emitida do nada começa a levantar duras críticas dos mais ortodoxos. No entanto, não há, no momento, nenhum vestígio preocupante de inflação.

As forças que apontavam para um panorama global de marasmo e depressão ainda não foram dispersadas. Mas, puxando essas novidades para o nosso chão, ficou claro que as cozinheiras do governo Dilma, que preparam a caldeirada de política econômica de 2012 (o tal do novo mix), já não podem partir do princípio de que há uma tempestade perfeita em formação no mercado internacional.

Arquivo do blog