Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, agosto 10, 2011

Um dia de trégua - Míriam Leitão


O Globo - 10/08/2011


A volatilidade continuará nos mercados de bolsa, moedas e bônus. Ontem foi um dia positivo, depois da tempestade da segunda-feira. A expectativa era de que o Fed jogaria mais dinheiro no mercado; ele não jogou, mas se comprometeu com mais dois anos de juros negativos. Para o Brasil, o preocupante é a recessão na Europa e nos EUA, que compram um em cada três dólares que o país exporta.

Há graus diferentes de complicações nas duas regiões, mas o mesmo problema: baixo ou nenhum crescimento. A Europa é pior. Esta semana, começou a subir o risco da França. É que a Zona do Euro não mostrou ainda capacidade de resolver o problema das dívidas dos países. Tem apenas usado o Banco Central Europeu, que, na segunda-feira, comprou 5 bilhões de dívidas da Itália e Espanha. Seria preciso fazer deslanchar o mecanismo do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) para que ele pudesse entrar mais ativamente na solução do problema. Não há dinheiro na Europa para recomprar dívidas de países grandes como a Itália, mas se o FEEF for reforçado, e em vez de 400 bilhões tivesse 1 trilhão, se houvesse agilidade, seria possível debelar a crise de confiança. Enquanto isso não for feito, a crise vai contaminando os países.

Nos Estados Unidos, o risco mais imediato é a recessão. Segundo a nota do Fed, ontem, "o crescimento econômico está consideravelmente mais baixo" do que esperava. Tão baixo que as pressões inflacionárias do começo do ano cederam e não preocupam mais, e por isso o banco central americano aprovou - com três votos contrários - que os juros ficarão entre zero e 0,25% até 2013. Não foi feito o Quantitative Easing 3 - a terceira injeção monetária - mas ao mesmo tempo a porta não foi fechada. A nota do Fed diz indiretamente que novos instrumentos podem ser usados.

A notícia de que não haveria medidas monetárias foi meio banho de água fria. A bolsa aqui passou a subir menos, e nos Estados Unidos chegou a ficar negativa. Mas terminou em alta aqui e lá. Foi uma trégua depois da histeria da segunda-feira, mas esse sobe e desce deve continuar, enquanto durar a incerteza em relação aos efeitos do novo patamar de crescimento mundial. No governo brasileiro, havia ontem à tarde uma sensação de alívio, de o mundo ter passado pelo impensável: o rebaixamento da dívida americana. Ao mesmo tempo, tudo continua sendo monitorado para evitar a repetição de desequilíbrios como os que ocorreram em 2008.

O mundo entrou em 2011 achando que era ano de crescimento, depois da queda de 2008/2009 e a estabilidade do ano passado. Para nós, a perspectiva era um crescimento menor, depois do salto de 2010, mas ainda assim o país mirava alta de 5%. Agora, todas as previsões caíram. Como se pode ver nos gráficos abaixo, Estados Unidos e Europa não conseguem elevar a produção industrial nem baixar o desemprego.

- A economia americana está criando novos empregos, mas num ritmo lento: menos de 200 mil por mês, para um país que perdeu entre oito a nove milhões de vagas. Totalmente insuficiente para o que se perdeu. O mercado imobiliário continua muito baixo. A discussão é como crescer sem o mercado imobiliário, porque ele está perdido por muito tempo, e as famílias continuam endividadas - diz André Sacconato, da Brain Brasil Investimentos.

Os Estados Unidos já foram mais importantes no comércio brasileiro do que são hoje, mas se somarmos o que o Brasil vendeu para a Europa e os Estados Unidos dá pouco mais de 30%.

Os PIBs da França, Grécia, Irlanda, Itália, Portugal, Espanha, Alemanha foram menores em 2010 do que em 2007, tirando efeitos da inflação. Perderam três anos. Para Irlanda e Grécia, a projeção do FMI é de que somente em 2016 os dois voltarão ao tamanho que tinham em 2007. Perderão uma década. A Itália volta a 2007 em 2014; a Espanha, em 2013; e Portugal, em 2015. Enfim, isso, evitando-se o pior, que é o colapso da dívida desses países ou uma desaceleração da economia mundial.

Pelo menos ontem foi dia de recuperação na Bovespa, de redução das perdas fortes acumuladas no ano. Mas é cedo para dizer que a turbulência passou.

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