FOLHA DE SP - 02/07/11
Há PF numerosa e serviços secretos a granel nas Forças, mas o governo é sempre o último a saber
UMA PERGUNTA MUITO procedente diante dos incessantes casos e personagens de corrupção que irrompem, sempre, por intermédio do noticiário: por que, há décadas, tudo isso depende da imprensa para vir à tona e gerar alguma providência governamental?
Diz o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que "a imprensa não pauta a presidente". O que ele pensou em dizer, ao adotar a gíria dos jornalistas, é que Dilma Rousseff jamais age pelo que sai na imprensa ou na TV. Cometeu uma inverdade gratuita, e seria lastimável se fosse verdadeiro.
Quando menos, ao poder público cabe a obrigação de verificar cada anormalidade governamental exposta com seriedade, seja por quem for. Mesmo que fugissem a essa obrigação sempre que pudessem e lhes conviesse, todos os presidentes "se pautaram" pela imprensa. Dilma Rousseff não é diferente. E agora mesmo muitos caem do galho aos ventos do noticiário observado pela presidente.
Vamos notar uma exceção atual e admirável. Revelada na Folha (domingo) pelo repórter Marco Antonio Martins, já está em pleno curso, sem origem em notícia que a forçasse, a investigação da Procuradoria-Geral da Justiça Militar em torno de oito generais, entre eles o comandante do Exército, e outros oficiais responsáveis por obras do Exército que, em alguma altura, proporcionaram desvios de verba.
Mas a regra não se altera. Há Polícia Federal numerosa e aparelhada, farto setor de informação na Secretaria de Segurança Institucional, serviços secretos a granel nas três Forças militares, espias voluntários e dedos-duros por interesse em toda parte e em todos os negócios, mas o governo é sempre o último a saber -pela imprensa ou pela TV. Ou assim aparenta. Afinal é o último ou aparenta? Ambos. Depende da transação corrupta, consideradas as pessoas envolvidas e a área em questão.
Há, porém, um sinal denunciador da aversão vigente, nas dependências governamentais apropriadas, não só à iniciativa de atenção especial com áreas e negócios tendentes à corrupção, mas até de acatar informações espontâneas sobre as improbidades.
Jornalistas não descobrem sozinhos nada do que revelem. Os tais casos em que "a imprensa pauta" o governo deixam portanto a evidência de que o informante nela depositou a confiança que não teve nos serviços que, em teoria e na lei, estariam à sua e à disposição da moralidade administrativa. E não confiou por um de dois bons motivos, senão por ambos: ou não acreditou que o assunto fosse levado até onde deveria ir ou temeu ser delatado e vítima de represália.
Pior para os governos e suas eminências, que ficam sempre como responsáveis finais pelas escolhas, nomeações e mesmo proteção aos apontados nos escândalos de corrupção. E melhor para os jornalistas e para a imprensa ou TV.
Entrevista:O Estado inteligente
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