Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, agosto 11, 2011
Mais crise, mais dólar - Alberto Tamer
O Estado de S. Paulo - 11/08/2011
Enquanto as bolsas continuam caindo lá fora, os investidores correram para os títulos do Tesouro americano, aqueles mesmos que a Standard & Poor"s pretendia desvalorizar reduzindo a nota de crédito dos Estados Unidos. São os mais seguros (e menos rentáveis) neste vendaval que assola os mercados nos dois lados do Atlântico. A opção para os títulos americanos, são os títulos americanos, comentou o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, com o qual todos concordam. No momento, apenas China, Japão, Grã-Bretanha e Brasil detêm 58% de todos os títulos do Tesouro americano. E estão comprando mais por falta de opção. O que todos temem, agora, não é a incapacidade de os EUA não honrarem sua dívida, mas o risco maior de recessão. O bom e o mau. Quais as consequências de tudo isso para o Brasil? Muitas, mas nem todas são negativas. O preço das commodities está recuando com a fuga das aplicações de risco. O índice das commodities em geral está ainda valorizado no ano (28%), mas aumentou apenas 1,5% na última semana. E tendem a recuar mais. Motivos: fuga do risco para títulos americanos e menor demanda provocada pela desaceleração econômica, que se acentua. Tudo isso é bom e mal para o Brasil. Bom, porque reduz a pressão de alta sobre os preços dos alimentos e derivados de petróleo que alimentam a inflação e, ao mesmo tempo, deve conter a entrada de dólares decorrente das exportações de matérias-primas. Ao lado das aplicações financeiras, essa é a porta de entrada até agora escancarada por onde entra a moeda americana. Mas é mal porque enfraquece a balança comercial. Muitos analistas já estimam que o superávit deve ficar ainda em US$ 10 bilhões este ano porque os contratos já estão fechados, mas pode virar déficit em 2012. Não seria de todo mal considerando as reservas de US$ 343 bilhões, mas também não é bom diante da crise lá fora que pode conter os investimentos. Juro compensa. A decisão do Fed de manter juros reais negativos no mínimo por mais dois anos, vai atrair mais investidores para papéis do Brasil. Mesmo que o BC venha a reduzir os juros, o diferencial entre a taxa interna e externa é enorme. Juro real negativo lá fora, e 6% aqui, descontada a inflação. E isso num mercado de menor risco, com reservas cambiais que podem ser usadas. O que eles dizem lá fora? Os economistas mais respeitados no exterior estão preocupados, mas se recusam a aceitar o clima de pânico que dominou as bolsas. Entre eles, dois prêmios Nobel, Paul Krugman e Joseph Stiglitz, aos quais se juntou o não menos respeitado Kenneth Rogoff. O erro foi considerar que a economia americana (e europeia também) tinha saído da recessão. A solução? Rogoff, Krugman e Stiglitz rompem de alguma forma com os ortodoxos e não aceitam a teoria de cortar gastos para reduzir a dívida mesmo com risco de recessão. A saída é atrair investimentos privados, afrouxar a política monetária, criar e injetar dólares no mercado. Até aceitam mais inflação. Bom para eles, não para nós. O banco central americano pode anunciar ainda este mês nova compra de títulos (QE 3), agora de Estados e municípios, injetando mais alguns bilhões ou trilhões de dólares no mercado. Ruim para o Brasil, pois desvaloriza ainda mais a moeda americana, bom para eles que estão dizendo aos consumidores americanos, venham, peguem dinheiro a custo zero e saiam comprando. Ou se cria emprego a qualquer custo, ou a economia mundial vai continuar assim ainda por alguns anos. O que se espera? O mercado previa ontem que os bancos centrais aumentarão as intervenções no mercado e que, de uma forma ou de outras, os EUA vão adotar medidas fiscais e monetárias para reanimar a economia. Quanto ao Brasil, o BC aumentou as reservas em US$ 150 bilhões nos últimos meses e ainda ontem comprou mais dólares. No mais, é manter e não desestimular a demanda interna que foi fortalecida pela entrada no mercado de 35 milhões de consumidores. Deu certo em 2008, quando a crise era pior. Pode dar certo agora.
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