Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 09, 2010

MÍRIAM LEITÃO Temperatura em alta


O GLOBO - 09/07/10

Setores diferentes contam a mesma e boa história sobre a conjuntura econômica brasileira, seja supermercados, indústria automobilística ou indústria têxtil. As vendas estão subindo, as expectativas em relação a este ano são de confirmação do crescimento das vendas. Mas as queixas que automóveis e têxteis têm sobre o câmbio são a alegria do varejo.

Juntei no programa Espaço Aberto da Globonews esses três setores. Genival Beserra, diretor comercial da rede Prezunic, empresa média carioca na área de supermercados, a sexta maior do país, conta que este ano as vendas estão crescendo 15% e devem terminar o ano em um patamar de 20% sobre 2009. Admite que houve queda entre o primeiro e o segundo trimestre no ritmo de crescimento, mas disse que julho já começou bem. Ele vive num setor em ebulição com as vendas e fusões, com redes gigantes se formando através da compra de redes menores como eles, mas garante que o grupo não quer ser comprado.

José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da General Motors, disse que as vendas estavam fortes no primeiro trimestre e depois caíram com a volta do IPI, mas agora está havendo crescimento.

— Este ano vamos terminar com vendas de três milhões e trezentos mil veículos no mercado interno, com crescimento de 8% a 9%, mas com relação ao mercado externo, está em queda absoluta.

A GM exportava daqui para 40 países e hoje está reduzida a meia dúzia. Chegamos a US$ 1,6 bilhão e hoje devemos ficar entre US$ 400 milhões ou US$ 500 milhões.

Esta mesma reclamação sobre o mercado externo é feita pelo diretor da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, mas em direção contrária. Ele teme o problema da invasão de produtos chineses.

— A indústria têxtil caminhou muito bem no primeiro semestre, a despeito do fortíssimo crescimento das importações.

As vendas da indústria nacional aqui dentro cresceram 12% em termos de volume, mas as importações físicas subiram cinco vezes mais. Seja como for, o ano está sendo muito bom em termos de demanda e está sendo possível acomodar crescimento do consumo dos produtos nacionais com o crescimento das importações principalmente de produtos chineses — disse Fernando Pimentel, da Abit.

Pimentel disse que o câmbio da China e o nosso tornam a competição desequilibrada, até porque a concorrência no mercado externo se acirrou com o encolhimento de diversas economias.

Pinheiro Neto também reclama do câmbio baixo que estaria dificultando ainda mais as vendas internacionais da empresa. Pimentel garante que não é o choro de sempre.

Segundo ele, o setor de têxteis vai crescer 12% este ano, a indústria têxtil é a quinta ou a sexta maior do mundo, e que tem 30 mil empregos.

Acrescenta que apesar disso, o produto chinês é um competidor com várias vantagens.

Calcula que só o câmbio desvalorizado representa um subsídio de 25% a 30%.

— Isso está levando ao resultado negativo na balança comercial de US$ 3,5 bilhões no setor. Exportamos US$ 1,5 bilhão e importamos US$ 5 bilhões — diz Pimentel.

Para os supermercados, admite Genival Beserra, nada melhor do que o câmbio baixo, que incomoda tanto os outros entrevistados.

— É bom porque importamos frutas, bebidas, bacalhau, peixe. Para nós, é favorável.

A indústria brasileira tem muita concentração e com esse câmbio aí, alguém se dá bem. E é o varejo. Vamos ter um Natal mais gordo. Os supermercados têm conseguido reter o consumidor porque a cesta básica, por exemplo, se você olhar ao longo dos anos, ela em vez de aumentar, caiu de preço. Os supermercados têm reduzido suas margens e isso aumenta as vendas em geral.

A GM está passando por várias mudanças. No Brasil, assumirá uma mulher, e o atual presidente, Jaime Ardilla, vai assumir a direção regional da empresa.

— Sem dúvida teremos que nos acostumar, é a primeiríssima vez que isso acontece.

Além disso, a América Latina passará a se reportar diretamente ao CEO (presidente mundial) da companhia em Detroit.

A GM mundial passou por uma crise de grandes proporções entre o final de 2008 e 2009 quando foi salva com dinheiro do governo americano.

Ela conseguiu pagar um empréstimo de US$ 6 bilhões ao governo dos Estados Unidos, mas seus maiores acionistas continuam sendo os governos americano e canadense.

É, ainda, uma estatal.

Todos os três entrevistados disseram que estão muito esperançosos em relação a 2010, com metas de crescimento forte sobre o fraco ano de 2009. Genival, do Supermercados Prezunic, e Pinheiro Neto, da GM, estão esperando a continuação do crescimento nos próximos anos. Fernando Pimentel tem menos otimismo. Ele acha que este segundo semestre vai ser muito bom, até porque vendas de têxteis e confecções são maiores no segundo semestre, na coleção primaveraverão, mas diz que está com “otimismo realista” em relação aos próximos anos, principalmente por temer as incertezas da economia mundial.

Genival aposta nos novos consumidores brasileiros, mesma aposta feita por Pinheiro Neto.

— Acabamos de anunciar investimentos de US$ 5 bilhões no Brasil até 2012. Estamos renovando nossa linha de 18 produtos. Achamos que até 2015 o Brasil consumirá 4,5 milhões de veículos por ano, principalmente pelo aumento da classe média.

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