Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Brasil põe ovos de ouro até 2010 VINICIUS TORRES FREIRE


O IOF brazuka, a moratória de Dubai e a pontual -mas surpreendente- melhora do emprego nos EUA balançaram o coreto de onde os grandes investidores mundiais fazem suas apostas nos "emergentes". Mas não está na hora de sair do Brasil.
É o que consta de um relatório do Citi de segunda-feira, dia 7, que discute estratégias de investimento na América Latina para seus clientes. O núcleo do texto é algo óbvio, a não ser pelo grande peso dado à decisão brasileira de taxar capitais externos e pela avaliação de que as Bolsas da América Latina podem sofrer uma "correção" (cair) de 20% a 30% em meados de 2010. Trata-se de chute calculado, mas não desprezível, pois é a conversa de quem lida com dinheiro grosso.
"A chave [para tomar decisões e mudar a carteira] é o dólar", dizem. Argumentam que é algo passageira a pequena mas geral instabilidade que começou coincidentemente com a taxação de aplicadores estrangeiros no Brasil, em 19 de outubro.
O pessoal do Citi diz que o IOF foi um "sucesso". Sem isso, o dólar teria ido abaixo de R$ 1,70. Isso afeta um pouco os ganhos de quem investe no Brasil, mas há muitos outros motivos para se aplicar aqui. "O debate global provocado pela atitude do Brasil tem sido intenso. Outros países, inclusive Taiwan, Rússia e Turquia desde então impuseram várias limitações aos influxos de capital."
E pode ser que África do Sul, Indonésia e Colômbia façam o mesmo em breve, escreve o pessoal do Citi, assim como se debate quando a China vai deixar o yuan se desvalorizar em relação ao dólar. Tudo isso afetou a tendência de sete anos de desvalorização da moeda americana em quase todo o mundo. Mas o dólar só deve inverter seu curso quando estiver mais próxima a alta dos juros nos Estados Unidos -ou seja, a partir de meados de 2010.
A suspeita de que o Fed poderia agir antes, devido aos dados melhores de desemprego, não vai se sustentar. Tal melhoria teria sido um ponto fora da curva da lenta recuperação americana.
Apesar dos tremeliques, na média as commodities subiram 10% desde meados de outubro, nota o relatório, mais um ponto para a defesa de sua estratégia de risco. Os indicadores de risco de crédito para a América Latina continuam baixos.
O fluxo de capital externo para fundos da região piorou desde meados de outubro, mas nos últimos dias o dinheiro estaria voltando, diz o pessoal do Citi. O fluxo de dinheiro para emergentes em 2009 já é 45% superior ao do ano recorde de 2007.
O relatório observa, com ênfase, que o governo do Brasil tem gastado muito, mas não se detém muito nesse ponto. Diz que o(a) próximo(a) presidente precisará tomar providências e ponto. A alta de juros virá e muito forte, com a Selic passando de 8,75% para 12,25% no final do ano que vem, muito acima da previsão média dos economistas brasileiros (em torno de 10,5%). Mas nem isso acham grave, pois o Brasil não estaria combatendo uma inflação em alta, mas apenas adequando uma economia pujante demais ao limite de sua capacidade. Acreditam que o país crescerá 5,9% em 2010.
Como o real foi uma das moedas que mais subiu, tende a ser uma das que mais deve sofrer quando o dólar voltar a subir. Daí o tombo dos mercados previsto para meados de 2010.

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