Abraços Partidos mostra que nem Almodóvar está livre de errar
Isabela Boscov
Divulgação
ESTRANGULAMENTO Penélope Cruz em Abraços Partidos: desgracioso e raivoso
Dezesseis anos atrás, Pedro Almodóvar chegou a um estrangulamento criativo. O espanhol vinha de uma fase vivíssima, durante a qual, com Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos,Ata-me! e De Salto Alto, se firmara como um comediante do absurdo e o mais original dos diretores europeus. Em Kika, seus temas e estilo habituais tornaram-se pesados e estéreis. Almodóvar deu a volta por cima: em 1999, com Tudo sobre Minha Mãe (e, depois, Fale com Ela e Volver), iniciou outra fase extraordinária, de um olhar intensamente revelador sobre as pulsões que outros considerariam desvios ou aberrações. Agora a história se repete. Abraços Partidos(Los Abrazos Rotos, Espanha, 2009), desde sexta-feira em cartaz no país, trata de um roteirista (Lluís Homar, um ator opaco) que antes de ficar cego era diretor e tinha um romance com sua musa (Penélope Cruz). A qual, antes de ser atriz, era garota de programa e amante de um magnata sórdido. Dito assim, o enredo parece dar continuidade à etapa atual da carreira do espanhol – mas é sua implosão. Como Kika, é um filme desgracioso, absorto em si mesmo e algo raivoso. Agora, é esperar que Almodóvar reinicie um novo ciclo. E que também este venha a ser extraordinário.