FOLHA DE S. PAULO
BRASÍLIA - Enganado por FHC na aprovação da emenda da reeleição, Paulo Maluf ficou sem opções em 1996. Queria mais um mandato de prefeito em São Paulo, mas o tucanato cronometrou o casuísmo para 1998, quando só serviria ao presidente e a governadores.
Maluf então inventou Celso Pitta para sucedê-lo. Era um de seus secretários mais vistosos. Negro, não era político e foi vendido como honesto e bom administrador -esse último suposto predicado acabou desmoronando na prática.
Pitta saiu quase do zero nas pesquisas. Na campanha, exibia dois ativos. O prestígio de seu chefe, Paulo Maluf, e à época sofisticada propaganda eletrônica maquinada por Duda Mendonça. Uma imagem computadorizada fazia deslizar sobre trilhos suspensos, em São Paulo, o Fura-Fila. O simpático trenzinho acabaria com a agonia dos paulistanos. Nunca deu certo, mas o malufismo elegeu um sucessor.
Nesta semana, Dilma Rousseff fez uma apresentação sobre o PAC, as obras de infraestrutura do governo Lula. Uma delas é o trem-bala entre São Paulo e Rio. A ministra, pré-candidata a presidente, mostrou um filminho com uma linha percorrendo o trecho entre as duas maiores capitais do país.
A apresentação de Dilma foi tão virtual como a de Pitta, em 1996.
Não por coincidência, o publicitário inoculando ideias e estratégias no projeto Dilma-2010 é João Santana, que por alguns anos trabalhou com Duda Mendonça.
O trem-bala lulista sai de São Paulo, passa por Campinas e chega ao Rio atravessando montanhas, voando sobre penhascos e cortando ao meio bairros inteiros nas periferias das cidades. A promessa é colocá-lo em circulação até 2014, ano de Copa do Mundo. Como furar todos esses caminhos para o trem-bala passar? Não importa. Até porque, é sabido, a história se repete muitas vezes como farsa.