O ESTADO DE S. PAULO
Perfeitamente incorporado à paisagem praiana do Rio, o ministro Carlos Minc causa espécie no ambiente do planalto. Não é o primeiro nem será o último personagem que aparece na capital da República imbuído da convicção de que, sendo peculiar, fará a diferença.
De vez em quando aparece um. Chama atenção, prende todos os interesses, divide opiniões, junta sempre muita gente, é assunto por um tempo, até que começa a pecar pelo exagero e entra na mira da máquina de moer boas imagens.
Carlos Minc está nesse ponto, pronto para a inflexão.
No momento, o menor dos problemas do ministro do Meio Ambiente é a possibilidade de uma demissão. Desse mal não morre enquanto atender à necessidade do governo no tocante à concessão de licenças ambientais para as obras do PAC.
Esse risco também não corre enquanto mantiver acesa a chama da briga com os grandes produtores rurais. Coisa recente, segundo parlamentares na bancada que tiveram com Minc conversas "normais e cordiais" no ano passado.
Ao construir essa dicotomia o ministro dificultou qualquer ação contra ele, pois o menor gesto seria visto como vitória dos "latifundiários".
Fica o presidente Luiz Inácio da Silva de mãos amarradas. Daí a segurança de Minc ao informar sua permanência "até o fim do governo", antes mesmo da conversa formal marcada com o presidente para tratar da "algazarra" durante a ausência dele.
Daí a retomada do ataque, em tom de deboche, sobre o desejo da bancada ruralista de cortar o "pescocinho do Carlinhos".
Quanto mais tensão se mantiver entre ele e um grupo que não priva mesmo de boa fama, mais seguro fica no cargo, mais constrangimento as ONGs que reclamam da política ambiental do governo têm de ligar a queixa à pessoa de Carlos Minc, mais heroica parecerá sua posição, com mais consagração poderá sonhar na próxima eleição.
Enquanto se assiste ao conflito vazio, não se questiona a eficácia do ministro na administração das questões substantivas relativas ao ministério nem se contesta sua capacidade de acomodar interesses e avançar naquilo que lhe concerne: o manejo racional dos recursos do meio ambiente.
Mas, pelo jeito, Minc já percebeu que essa briga sempre esteve perdida. Ao governo importa pouquíssimo o destino do ambiente. Não é um tema que sensibilize a massa do eleitorado nem é algo que possa fazer frente a um robusto calendário de obras em cima de um palanque.
Se não quiser macular sua bem-sucedida trajetória de político e ambientalista, se não quiser sair por aí com a pecha de carimbador de licenças ambientais, Minc parece convencido de que terá de combater algum dragão da maldade para, no contraponto, ficar no papel de santo guerreiro.
Nada contra, é do jogo atuar para deleite da arquibancada. Apenas é preciso levar em conta aquele velho lema segundo o qual a esperteza, quando é muita, vira bicho e engole o dono.
Até agora, a estratégica de Carlos Minc tem dado certo. Mas a falta de sutileza, o imperativo de marcar com tintas muito fortes sua posição, pode levar ao efeito contrário.
Tudo o que é demais, até o factoide, enjoa. E o ministro não tem sido muito hábil na calibragem do estilo carnavalesco, seu maior e mais poderoso inimigo. Muito mais que qualquer integrante da bancada ruralista.
Por ora, ainda há ali alguma intimidação, uma vez que no terreno dos simbolismos Minc é do "bem" e os produtores rurais são do "mal". Ninguém em sã consciência quer briga com quem, em tese, é soldado do bom combate.
Mas, quando a insistência é muita, o público desconfia. Ele teria se saído razoavelmente bem da mais recente ofensiva - ou "algazarra" no dizer do presidente Lula - se tivesse parado no pedido de desculpas aos ruralistas por tê-los chamado de "vigaristas".
Mas, não, resolveu insistir. Jactou-se da sustentação recebida para permanecer no cargo e, contrariando a promessa de ser mais cauteloso com as palavras, deu-se à imprudência de recrudescer. E aí já em termos de pura provocação, o que levanta nos eleitos como inimigos a forte suspeita de que ao reagir apenas batem palmas para o ministro dançar.
Minc sabe perfeitamente bem que o objetivo da "turminha" não é exibir como troféu o "pescocinho" nem a "picanha do Carlinhos". Sabe que a agricultura no Brasil não é um valhacouto de vândalos interessados em transformar "nossos biomas em latifúndios, em monocultura".
Sabe que o choque real de concepções se dá no governo. As derrotas de que reclama foram todas impostas dentro e não fora do governo. Portanto, Minc está fazendo, e de maneira consciente, uma guerra com fantasmas sob o sol do meio-dia, na impossibilidade de lutar contra os reais adversários, pelos motivos e com as armas certas.
Tenta ganhar a chamada guerra da comunicação, área de sua notória especialidade.
Esquecido, porém, de que só existe um personagem na posse do salvo-conduto para exorbitar do verbo impunemente e o nome dele não é Carlos Minc.
Perfeitamente incorporado à paisagem praiana do Rio, o ministro Carlos Minc causa espécie no ambiente do planalto. Não é o primeiro nem será o último personagem que aparece na capital da República imbuído da convicção de que, sendo peculiar, fará a diferença.
De vez em quando aparece um. Chama atenção, prende todos os interesses, divide opiniões, junta sempre muita gente, é assunto por um tempo, até que começa a pecar pelo exagero e entra na mira da máquina de moer boas imagens.
Carlos Minc está nesse ponto, pronto para a inflexão.
No momento, o menor dos problemas do ministro do Meio Ambiente é a possibilidade de uma demissão. Desse mal não morre enquanto atender à necessidade do governo no tocante à concessão de licenças ambientais para as obras do PAC.
Esse risco também não corre enquanto mantiver acesa a chama da briga com os grandes produtores rurais. Coisa recente, segundo parlamentares na bancada que tiveram com Minc conversas "normais e cordiais" no ano passado.
Ao construir essa dicotomia o ministro dificultou qualquer ação contra ele, pois o menor gesto seria visto como vitória dos "latifundiários".
Fica o presidente Luiz Inácio da Silva de mãos amarradas. Daí a segurança de Minc ao informar sua permanência "até o fim do governo", antes mesmo da conversa formal marcada com o presidente para tratar da "algazarra" durante a ausência dele.
Daí a retomada do ataque, em tom de deboche, sobre o desejo da bancada ruralista de cortar o "pescocinho do Carlinhos".
Quanto mais tensão se mantiver entre ele e um grupo que não priva mesmo de boa fama, mais seguro fica no cargo, mais constrangimento as ONGs que reclamam da política ambiental do governo têm de ligar a queixa à pessoa de Carlos Minc, mais heroica parecerá sua posição, com mais consagração poderá sonhar na próxima eleição.
Enquanto se assiste ao conflito vazio, não se questiona a eficácia do ministro na administração das questões substantivas relativas ao ministério nem se contesta sua capacidade de acomodar interesses e avançar naquilo que lhe concerne: o manejo racional dos recursos do meio ambiente.
Mas, pelo jeito, Minc já percebeu que essa briga sempre esteve perdida. Ao governo importa pouquíssimo o destino do ambiente. Não é um tema que sensibilize a massa do eleitorado nem é algo que possa fazer frente a um robusto calendário de obras em cima de um palanque.
Se não quiser macular sua bem-sucedida trajetória de político e ambientalista, se não quiser sair por aí com a pecha de carimbador de licenças ambientais, Minc parece convencido de que terá de combater algum dragão da maldade para, no contraponto, ficar no papel de santo guerreiro.
Nada contra, é do jogo atuar para deleite da arquibancada. Apenas é preciso levar em conta aquele velho lema segundo o qual a esperteza, quando é muita, vira bicho e engole o dono.
Até agora, a estratégica de Carlos Minc tem dado certo. Mas a falta de sutileza, o imperativo de marcar com tintas muito fortes sua posição, pode levar ao efeito contrário.
Tudo o que é demais, até o factoide, enjoa. E o ministro não tem sido muito hábil na calibragem do estilo carnavalesco, seu maior e mais poderoso inimigo. Muito mais que qualquer integrante da bancada ruralista.
Por ora, ainda há ali alguma intimidação, uma vez que no terreno dos simbolismos Minc é do "bem" e os produtores rurais são do "mal". Ninguém em sã consciência quer briga com quem, em tese, é soldado do bom combate.
Mas, quando a insistência é muita, o público desconfia. Ele teria se saído razoavelmente bem da mais recente ofensiva - ou "algazarra" no dizer do presidente Lula - se tivesse parado no pedido de desculpas aos ruralistas por tê-los chamado de "vigaristas".
Mas, não, resolveu insistir. Jactou-se da sustentação recebida para permanecer no cargo e, contrariando a promessa de ser mais cauteloso com as palavras, deu-se à imprudência de recrudescer. E aí já em termos de pura provocação, o que levanta nos eleitos como inimigos a forte suspeita de que ao reagir apenas batem palmas para o ministro dançar.
Minc sabe perfeitamente bem que o objetivo da "turminha" não é exibir como troféu o "pescocinho" nem a "picanha do Carlinhos". Sabe que a agricultura no Brasil não é um valhacouto de vândalos interessados em transformar "nossos biomas em latifúndios, em monocultura".
Sabe que o choque real de concepções se dá no governo. As derrotas de que reclama foram todas impostas dentro e não fora do governo. Portanto, Minc está fazendo, e de maneira consciente, uma guerra com fantasmas sob o sol do meio-dia, na impossibilidade de lutar contra os reais adversários, pelos motivos e com as armas certas.
Tenta ganhar a chamada guerra da comunicação, área de sua notória especialidade.
Esquecido, porém, de que só existe um personagem na posse do salvo-conduto para exorbitar do verbo impunemente e o nome dele não é Carlos Minc.