O Estado de S. Paulo - 26/06/2009 |
Um a um, os organismos de acompanhamento da economia mundial estão prevendo uma recuperação mais rápida e mais consistente da crise em pelo menos três economias emergentes: China, Índia e Brasil. Quarta-feira, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) avisou que há novos puxadores da economia global. E apontou os três. A China deverá crescer 7,7% neste ano e 9,3% no próximo. A Índia, 5,9% e 7,2%, respectivamente; e o Brasil, depois de alguma coisa próxima do zero, deverá expandir-se 4,0% no ano que vem. O quarto gigante emergente é a Rússia, que, no momento, enfrenta um encolhimento do seu setor produtivo. Mas esta é uma economia que também pode reagir mais rapidamente se, na condição de grande exportadora, faturar com a alta dos preços do petróleo. Enquanto isso, o mundo rico vergará sob o peso de forte recessão. Os Estados Unidos, por exemplo, recuarão 2,8% neste ano e crescerão apenas 0,9% em 2010; a zona do euro afundará 4,8% em 2009 e o Japão, 6,8%. (Confira tabela.) É claro que os emergentes não terão força suficiente para resgatar do buraco o resto da economia mundial. Em todo o caso, há aí uma novidade: desta vez, os emergentes não ajudarão a deprimir ainda mais a economia mundial, como aconteceu nas crises anteriores. Ao contrário, o crescimento econômico nos três mais fortes emergentes significa certo aumento das encomendas ao resto do mundo, não só em petróleo, minérios e alimentos, mas, também, em produtos acabados, especialmente máquinas. A previsão de que os três emergentes estão dançando música diferente das economias ricas traz de volta a tese do descolamento, que é a ideia de que, aos poucos, o mundo emergente vai tendo um desempenho econômico crescentemente mais independente do que se vê nos chamados países centrais. Um dos argumentos que mais reforçam esse ponto de vista é o comportamento dos preços das commodities, especialmente do petróleo, que estão com alta forte, apesar do mergulho do mundo rico na recessão. A força dos emergentes é novidade na medida em que nas crises anteriores eles não passavam de fornecedores de produtos primários. Quando o mundo rico se prostrava na recessão, caía a procura de matérias-primas e os países em fase de desenvolvimento iam junto. A tese do descolamento está assentada no pressuposto de que o mercado interno dos países emergentes vai ficando gradativamente mais importante, o que significa que a produção, que antes atendia preponderantemente ao chamado modelo exportador, vai sendo canalizada para os mercados internos. A recuperação mais forte dos emergentes não levanta apenas interjeições; também aponta para certos custos. Um dos impactos que podem ser sentidos especialmente no Brasil é a valorização da própria moeda, fator que pode tirar competitividade do produto industrializado. Explica-se: na medida em que crescer a percepção externa de que as economias da vez são as dos emergentes, ficará inevitável um aumento dos investimentos estrangeiros diretos, que tendem a elevar a oferta de dólares na economia. Confira Contra corrente - O crédito continua crescendo no Brasil, apesar da crise. Em maio de 2008, o crédito era de 36,1% do PIB. Doze meses depois, havia aumentado para 43%. Em 12 meses de crise global, o crédito interno só cresceu. |
Entrevista:O Estado inteligente
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