O ESTADO DE S PAULO O ministro Roberto Mangabeira Unger, que chefia a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, tem uma crítica corrosiva à política industrial do governo. E não é a mesma dos liberais, para os quais nem deveria existir política industrial. Ele logo diz que seu ponto de vista deve ser manifestado "sem anestesia". A política industrial tradicional do Brasil, afirma ele, "consiste em pegar o dinheiro do trabalhador (recursos do FAT) e entregá-lo a 20 empresários bem relacionados com o Estado". Mangabeira refere-se à atuação do BNDES, cujo maior vício está em contemplar apenas essa gente fina e não se importar com o universo das pequenas e médias empresas. "O discurso é francês, mas a prática é coreana." E essa é uma das explicações para cerca de 50% da mão de obra permanecer na informalidade. Nisso ele não culpa só o governo central e as empresas que vivem dos privilégios. Culpa também os sindicatos que cuidam apenas de quem está empregado e não de quem fica de fora. O BNDES resolve assim, para os empresários privilegiados, a questão do alto custo do crédito no Brasil, porque cobra uma fração dos juros vigentes no sistema e não propriamente na rede bancária. Mangabeira concorda em que os juros altíssimos não são cobrados apenas pelos bancos. A própria indústria impõe custos financeiros elevados no crédito que oferece aos clientes (30, 60, 90 dias, fora o mês para pagamento de duplicata). E o mesmo ocorre no comércio que empurra ao consumidor os juros embutidos no preço à vista. O problema é mais profundo, explica Mangabeira, porque os juros altos são a manifestação de uma "mentalidade rendeira" que prevalece no Brasil: "Quem malogra como empreendedor pode prosperar como credor do Estado", ou seja, vive dos retornos proporcionados pelo mercado financeiro, que, em última análise, repassa o rendimento dos títulos do Tesouro. A contrapartida é a parcela da população que vive dos pequenos retornos: "Quem não consegue emprego também não morre de fome", porque garante os benefícios dos programas sociais. E esse arranjo social, de grandes e pequenos retornos, proporciona especial resultado para as elites: "ganha eleição; mas não muda o País." Para ele, uma política industrial capaz de mudar o Brasil não pode calcar-se no modelo atual, do fordismo tardio. Trata-se de um sistema produtivo que garante padrões de excelência fabril e só se mantém competitivo graças ao uso de mão de obra semiqualificada barata. Por isso, quando se trata de desenvolver o Nordeste e outras regiões à margem do sistema, afirma, é preciso fugir de duas ilusões. A primeira é a "ilusão do pobrismo", que insiste nos empreendimentos artesanais ou no extrativismo, e não passa daí. A outra é a "ilusão do são-paulismo", a ideia de que cada Estado ou região só se desenvolverá se passar pelos estágios por que já passou São Paulo. Mas, afinal, o que pretende Mangabeira? Ele quer que não propriamente o governo, mas o Estado apoie as iniciativas criativas com enorme potencial que proliferam no País. São empreendimentos que normalmente se organizam em redes que, no entanto, não decolam porque não têm apoio tecnológico ou financeiro. Para isso, é necessário mudar muita coisa no Brasil e não só o BNDES. É preciso mudar as cabeças, o que já devia ter começado. Mas nunca é tarde demais |
Entrevista:O Estado inteligente
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