O GLOBO
Tudo está se movendo ao mesmo tempo no mundo da transmissão da notícia. Tanto que nem sei por onde começar esta coluna. A "Newsweek" numa edição recente avisou que aquele era o primeiro número de uma nova revista, reformulada diante do fato de que "a internet está fazendo muito bem o trabalho de dar notícias e análises instantâneas". O que sobra para um veículo lento como uma revista?
A "Newsweek" acha que sobra o espaço de reportagens exclusivas e grandes ensaios que tenham um argumento claro e inédito.
A revista fechou editorias, somou outras, foi obrigada a se reinventar.
No artigo "Uma nova revista para um mundo em mudança", a publicação começa dizendo que "não é segredo que o negócio do jornalismo está com problemas".
A "Economist" publicou que 70 jornais fecharam na Inglaterra desde o começo de 2008. O "Independent" depende hoje de investidores estrangeiros.
Os jornais franceses estão sendo subsidiados. Todd Gitlin, professor de jornalismo da Columbia, divulgou um texto online sobre "As muitas crises do jornalismo ",dizendo que quatro lobos estão às portas da imprensa americana: a queda da receita de anúncios, a queda da circulação, a difusão da atenção do leitor, e uma crise de autoridade. A soma dos dois primeiros acabou com a lucratividade das empresas.
O "New York Times" teve um prejuízo tão grande neste começo de ano que apressou as providências para, de um lado se livrar do que mais arruína seu balanço, o "Boston Globe", e, de outro, encontrar novas formas de receita com o conteúdo que produz.
Está em dúvida sobre um novo sistema de assinatura, micropagamentos por conteúdo acessado, pedidos de doação, qualquer coisa que aumente suas receitas.
Desde 2001, a circulação dos jornais americanos caiu 13,5% nos dias úteis e 17% nos domingos, sendo cinco pontos percentuais dessa queda só no ano passado. A receita de anúncio caiu 23% em dois anos e o emprego caiu 15%. Foram fechados escritórios em vários estados e países. Um mapamúndi que assinalava todos os locais onde o "Washington Post" tinha correspondentes ou escritórios foi retirado da redação do jornal americano.
Era constrangedor o sumiço diário de pontos do mapa.
A crise que atingiu todos os setores da economia bateu também nas empresas jornalísticas, mas o fato é que a mídia convencional já vinha sendo desafiada por todas as novas formas de transmitir a notícia.
As três maiores redes de TV aberta dos Estados Unidos — ABC, CBS e NBC — sempre tiveram pouca audiência diante das TVs pagas, mas de 1990 para cá, o percentual de americanos que se informa nas redes abertas caiu de 30% para 16%. A Pew Research Center, que tem registrado as estatísticas da audiência de notícia no rádio, TV e jornais, constatou em 2008, pela primeira vez, mais gente recebendo informação via internet do que nas plataformas tradicionais. Apesar disso, quando se pergunta quem só recebe informação online, o dado é de apenas 5%. O mais alarmante da pesquisa foi o aumento de 25% para 34% dos americanos de 18 a 24 anos que não tinham recebido notícia alguma, em qualquer dos veículos, no dia anterior.
Não sou dos que temem as mudanças como um sinal dos tempos. Não é a notícia que está em crise, é a tecnologia que tem ampliado espaços, revolucionado conceitos, criado novas ferramentas para se fazer o que sempre foi feito na humanidade: informar, discutir, analisar.
A imprensa tem vivido num vértice de mudanças intensas, e a sensação de quem vive no mundo da informação é que ele nunca mudou tanto em tão pouco tempo.
O Google News não tem um único editor humano.
Seu processo de escolher e distribuir informação é feito por robôs. Arianna Huffington é dona de um dos maiores casos de sucesso da internet, o "Huffington Post", que reúne 3.000 blogs e tem o dobro de visitantes que o website do "New York Post". Outro dia, ao receber o premio webby (o Grammy da Internet), ela fez um discurso, de poucos toques, como requer os tempos de twitter: "Obrigada. Eu não matei os jornais".
Desde que a "Economist" publicou, a n o s atrás, uma célebre capa com o título: "Quem matou os jornais?", os grandes jornais investiram em versões online, aderiram aos blogs e twitter, optaram por não cobrar por conteúdo, depois passaram a cobrar, voltaram a liberar o acesso, agora introduziram sistemas mistos, com textos de livre acesso e outros que exigem assinatura. O "Guardian" é hoje mais lido do que nunca. Por causa da internet, ele tem duas vezes mais leitores fora da Inglaterra do que em seu próprio país.
O fato é que a notícia não morreu nem vai morrer.
Na verdade, ela nunca circulou tanto, nem encontrou fórmulas tão instantâneas de espalhar-se como agora. O que ainda não ficou claro é como as empresas serão sustentáveis financeiramente. A receita de publicidade na internet cresce menos do que a queda da receita dos veículos tradicionais.
Muitas respostas terão que ser encontradas pelas empresas e pelos jornalistas para os desafiadores tempos novos. Não resta alternativa a não ser seguir o turbilhão. Afinal, quem não gosta de novidade, jornalista não é.
oglobo.com.br/miriamleitao
e-mail: miriamleitao@oglobo.com.br
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