Louca por um Oscar, Angelina Jolie sofre de todas as maneiras
possíveis em A Troca – e acaba fazendo até um diretor sempre
tão desafetado quanto Clint Eastwood perder o passo
Isabela Boscov
Nove anos atrás, Angelina Jolie ganhou um Oscar de atriz coadjuvante por Garota, Interrompida. Mas não há dúvida de que quer completar um par. Mais ainda do que em O Preço da Coragem, no qual fazia a viúva do jornalista decapitado por terroristas Daniel Pearl, em A Troca (Changeling, Estados Unidos, 2008) ela joga tudo o que tem na missão de persuadir espectadores e votantes da Academia – especialmente estes últimos – de que é uma atriz com maiúscula. No filme dirigido por Clint Eastwood, que estreia nesta sexta-feira no país, Angelina é Christine Collins, uma telefonista e mãe solteira que, num sábado de 1928, saiu para fazer hora extra, deixando o filho de 9 anos aborrecido em casa, e ao voltar não o encontrou. Christine é uma figura real da crônica de Los Angeles: ao notificar o desaparecimento, entrou numa das mais convolutas e indignas histórias de abuso registradas na cidade – e elas não são poucas, dada a tradição de corrupção policial que só na última década Los Angeles começou a desfazer. Sob pressão popular para solucionar o caso, a polícia tratou de localizar um menino que correspondesse à descrição de Walter Collins. Qualquer menino. Quando, após meses de angústia, Christine recebeu na estação de trem um garoto que não era o seu, e assim o disse, a polícia sugeriu que ela estava em choque, ou esquecida, ou ainda contrariada por ter de retomar as responsabilidades de mãe. Christine arrolou testemunhas, procurou advogados e levantou registros médicos para provar que estava certa – e, pela insistência, foi internada em um manicômio.
Municiada com tanto desespero e arbitrariedade, Angelina exibe seu repertório: sofre, chora tanto em silêncio como aos prantos, grita, mostra-se uma fortaleza de autocontrole, e também ora se revolta, ora se humilha. É o que se convenciona chamar de uma entrega ao papel. A questão é, a qual papel? Menos ao de Christine Collins, certamente, e mais ao de diva com uma consciência social e vários filhos, que aqui projeta numa personagem qualidades de sua persona pública. O resultado é antiquado como as performances de uma daquelas estrelas dramáticas dos anos 50 – faz lembrar Susan Hayward em Quero Viver!, um marco do histrionismo. O que não se pode negar é que Angelina de fato tem força. O suficiente, por exemplo, para tirar da rota um diretor econômico e desafetado como Eastwood, que aqui se enreda num sem-número de entrechos e estados de espírito, dos quais não se extrai nada além de som e de fúria.