O presidente da diretoria da empresa, José Sérgio Gabrielli, disse que, em 2008, os investimentos terão sido de R$ 55 bilhões e que, em 2009, não serão menores. O que se considera certo, porém, é que, mesmo não havendo cortes em relação a 2008, os investimentos de 2009 serão menores do que os R$ 72 bilhões que a empresa previu em agosto, em proposta enviada ao Congresso.
Antes da eclosão da crise global, o governo Lula e a direção da estatal falavam com entusiasmo incontido sobre as possibilidades das reservas descobertas em águas ultraprofundas na Bacia de Santos, abaixo da camada de sal, cuja exploração, diziam, tornaria o Brasil um dos maiores exportadores de petróleo do mundo e geraria receitas fiscais para resolver históricos problemas sociais do País. Falavam que, com investimentos bilionários, o Brasil obteria os avanços tecnológicos indispensáveis para explorar petróleo em condições inéditas e alcançar resultados espetaculares.
As dimensões da crise impuseram um pouco de racionalidade a alguns dos membros do governo mais entusiasmados com as possibilidades do pré-sal. "Essa volatilidade em seis meses não era esperada por nós", disse Gabrielli em dezembro - quando confirmou o adiamento do anúncio do plano de investimentos da Petrobrás -, ao comentar a abrupta queda da cotação do petróleo, de mais de 70%, de julho até agora. "Foi uma queda muito rápida."
O plano de investimentos de 2008 a 2012 foi elaborado em meados de 2007, quando o petróleo estava em cerca de US$ 70 o barril, e com tendência de alta. No plano, a Petrobrás tomou como base a cotação do petróleo a US$ 50 o barril em 2009 e a US$ 45 em 2010 para garantir o fluxo de caixa necessário para investir US$ 104,4 bilhões no período. Nas últimas semanas, a cotação diária do óleo tem ficado abaixo ou ao redor de US$ 40.
Os riscos da exploração comercial das reservas do pré-sal do Campo de Tupi, na Bacia de Santos, já eram bem maiores do que os de outras reservas, por causa das dificuldades técnicas a serem superadas e que geravam muita incerteza sobre sua viabilidade econômica, mesmo com o petróleo cotado acima de US$ 80 o barril. Com a brutal queda do preço, mesmo sendo viável, como garante o presidente da Petrobrás, a exploração dessas reservas implicará riscos financeiros muito maiores para a empresa e para o País.
Gabrielli e outros membros do governo mantêm o discurso otimista com relação ao pré-sal. "Avaliamos que o pré-sal, aos preços atuais do barril, em US$ 40 ou US$ 50, é viável." Há, de fato, possibilidade de exploração do óleo do pré-sal a custos toleráveis para a empresa, no norte da Bacia de Campos, com potencial de 3,5 bilhões de barris. É que a reserva está localizada em águas rasas, próxima do litoral do Espírito Santo, o que significa custos de exploração e de logística muito menores e com muito menos riscos do que os do Campo de Tupi, distante centenas de quilômetros do continente e em águas muito profundas.
Mas, por razões meramente políticas, o discurso do governo sobre as possibilidades do pré-sal do Campo de Tupi continua ufanista. Num momento em que os responsáveis por investimentos e gastos no setor privado - dirigentes de empresas e chefes de família - agem com cautela e prudência para não assumir compromissos que poderão ter dificuldade para cumprir, o governo quer mostrar confiança no futuro e ter argumento para gastar mais, mesmo que as circunstâncias exijam um aperto nas contas públicas. Por fim, não se deve esquecer que a presidente do Conselho de Administração da Petrobrás é a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer transformar na candidata do PT a sua sucessão.
É uma combinação de interesses perigosa para a saúde financeira da Petrobrás.