Blog Noblat
Depois de uma semana de doce fazer nada na Bahia (à exceção de assinar a lei que permite interrogar presos por videoconferência), o presidente Lula retorna a Brasília neste sábado. Sai da praia de Inema para entrar, de fato, no fogo de 2009, ano de Oxossi (o caçador guerreiro), que prenuncia estresse para Luiz Inácio e muitos dirigentes mundo afora, em que pese o otimismo notório do brasileiro. Lula gozou a terceira temporada de férias no Éden baiano bem ao seu gosto: pescou, andou de barco, tomou banhos de mar e teve amenas conversas praieiras ou à sombra de mangueiras frondosas do mágico recanto presidencial descoberto por Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor.
Mantido a segura distância dos jornalistas por barreiras em terra e no mar, o presidente retorna ao Palácio do Planalto mais roliço, mais corado, ar bem menos contrafeito ou zangado que o da chegada. Aparentemente, sem sintoma algum da azia que costuma ataca-lo sempre que lê algo de ruim sobre sua pessoa ou seu governo, como confessa na entrevista à revista Piauí (nas bancas), justificativa para a sua ojeriza a leituras de jornais, revistas e blogs, que agravam sua gastrite.
Deve ser por essas e outras que Lula não cansa de repisar sobre sua forte impressão espiritualista de "em outras vidas, em algum lugar do passado", ter nascido baiano. Quem sabe seria São Tomé de Paripe, a três quilômetros da última estação ferroviária do cada dia mais violento subúrbio de Salvador, onde Inema, privativo pedaço de terra da Base Naval de Aratu, área da Marinha, segue sendo um raro mar de tranquilidade.
Lugar ideal para quem quer ficar longe de problemas, por alguns dias que seja. Afastado da ansiedade causadora daquelas perturbações caracterizadas por um estado quase permanente de inquietação, preocupação, angústia, desassossego, ansiedade e medo, entre outras sensações, que, segundo os especialistas, costumam estar na raiz das azias mais comuns e freqüentes.
Em Inema só entra convidado e com autorização militar. Este é o caso do petista Jaques Wagner, que também esteve na praia com Lula. Não apenas por identidade política e partidária com o presidente, mas por uma daquelas gentilezas de praxe do visitante em relação ao governador da terra visitada. Ainda assim, dos dois lados, todos juram: "foi conversa de velhos companheiros sindicalistas", da qual a política caseira e nacional foi afastada. Preocupação só quando os dois falaram, por momentos, sobre a guerra de israelenses e palestinos, a partir da nova invasão e morticínio de civis e crianças na belicosa Faixa de Gaza.
Nem mesmo o poderoso e ostensivo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima e seu principal aliado atualmente, o prefeito João Henrique Carneiro, foram vistos na Base de Aratu ou arredores. Isso apesar do forte prestígio demonstrado por JH no subúrbio soteropolitano, onde obteve a mais expressiva votação na eleição recente que lhe garantiu o segundo mandado no Palácio Tomé de Souza, e turbinou a audácia que o fez lançar, no dia da posse, o nome do ministro de Lula, pelo PMDB, como concorrente de Wagner ao Palácio de Ondina em 2010.
Geddel prefere o jogo das mensagens cifradas da tradicional política baiana, que sempre causam grandes polêmicas e incêndios difíceis de apagar desde os governos de Otávio Mangabeira, Balbino ou Antonio Carlos Magalhães. No sábado passado, na hora em que o presidente Lula desembarcava de férias na cidade, a caminho da Base Naval de Aratu, o ministro de Lula enchia Salvador - e mais de 100 municípios do Estado - de outdoors onde seu rosto redondo aparece cheio de simpatia e amor pra dar. E a mensagem no cartaz ("pago às minhas expensas", como garantiu à repórter Patrícia França): "Conte comigo para realizar um feliz 2009".
O presidente Lula, em seu retiro em Inema pode nem ter sabido de nada, mas deve ter visto um dos cartazes no seu caminho de volta para a Base Aérea de Salvador, antes de retornar a Brasília. Quanto ao governador Wagner, este seguramente captou a mensagem do ministro Geddel. E deve ter anotado no livro de débitos e créditos para contabilizar mais tarde. Qando Lula já estiver de volta ao estresse do Palácio do Planalto.