Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Míriam Leitão Elos da economia

 O Globo 

O empresário Carlos Mariani ligou para vários setores das indústrias química e petroquímica antes de me conceder uma entrevista, e perguntou como seria 2009. "Todos disseram que, diante da crise, não podiam fazer previsões." No setor de distribuição de aço há uma certa esperança de que neste primeiro trimestre eles consigam reduzir o estoque, segundo Christiano da Cunha Freire.

Entrevistei os dois na Globonews, para saber como estava a situação econômica dentro da cadeia produtiva. Mariani é presidente da Abiquim, onde estão agregados tanto os produtos químicos para uso industrial, quanto os produtos químicos de uso final, como medicamentos, material de limpeza e defensivos agrícolas. Christiano preside o Instituto Nacional de Distribuidores de Aço.

Eles disseram que enfrentam o mesmo e complexo problema: carregam estoques que foram produzidos e comprados a um preço muito mais alto do que o atual. As empresas têm que reduzir os estoques, mas terão que absorver prejuízos com as vendas a preços menores. Esta é uma das imensas incertezas do ano. Mariani acha que no seu setor há um problema adicional: "As empresas dos extremos, a grande indústria de produto final e a produtora de matéria prima, conseguem se financiar, mas as empresas menores, que estão no meio do setor, não conseguem financiamento, e quando conseguem, os juros são altos."

Christiano disse que quem tem financiado os setores intermediários de aço são as próprias empresas, e não os bancos.

Tanto a indústria química quanto a siderúrgica estão passando por um duro primeiro trimestre neste ano, como conta Mariani. "Nós tivemos em 2008 uma excelente performance. Apesar da crise do último trimestre, o ano foi excepcional. A partir de outubro os sinais da crise ficaram claros. Em novembro a indústria teve que se adaptar, em função da redução de demanda desses setores consumidores de ponta. Um sinal mais claro dessa redução veio em dezembro, com queda nas vendas de 25% sobre dezembro do ano anterior e sobre novembro também. As empresas imediatamente ajustaram os seus níveis de produção. Estamos, agora, nos adaptando a um novo nível de demanda e a novos parâmetros de preços. A nafta, que chegou a ser vendida a US$ 1.300 a tonelada, hoje custa US$ 220 a tonelada. Isso vai significar plástico a outro preço, defensivo agrícola a outro preço" disse ele.

Mariani acha que a transição para a redução de estoques e mudança de níveis de preços vai durar todo o primeiro trimestre, pelo menos. De qualquer maneira, todos os segmentos têm dificuldade de fazer previsões para este ano.

Christiano disse que na distribuição de aço, a melhora pode vir logo no começo do segundo trimestre de 2009.

"O ano de 2008 fechou muito bem, mas o último trimestre foi muito feio. Dezembro foi na ordem de 35% menor que o dezembro do ano anterior. No setor siderúrgico, os altos fornos estão sendo abafados, um movimento que começou nos Estados Unidos, em outubro, e foi muito brusco, mas que ao fim vai ajustar o volume de aço produzido. Alguns movimentos foram exagerados. Nos EUA chegaram a abafar 50% dos fornos. O Brasil começou a fazer esse ajuste em dezembro, quando ficou claro que a crise chegaria aqui. O último trimestre de 2008 foi difícil, o primeiro deste ano está sendo de ajuste. Mas agora estamos começando a ver o segundo trimestre de 2009 de maneira positiva. Janeiro, na verdade, está mais positivo do que o esperado para o setor de distribuição de aço, com um aumento de 6% em relação ao último trimestre do ano" disse Christiano.

Ele disse que o setor siderúrgico terá uma queda de 40% neste começo de ano, mas a distribuição não irá tão mal, porque conseguirá entregar à indústria final os seus estoques — o setor estava com 900 mil toneladas de estoque. Mas Christiano admite que a indústria siderúrgica pagará um preço alto por este ajuste brusco. "Quando uma empresa abafa um forno não é brincadeira. Isso não é ligar na tomada e tirar da tomada. A indústria fica três meses fora do ar. O custo é muito alto."

O setor petroquímico vem de anos fantásticos. No ano passado houve um crescimento de 19%. De 2002 para 2008 o faturamento de todos os segmentos juntos saiu de US$ 38 bilhões para US$ 123 bilhões, um salto espetacular. Eu perguntei a Mariani se o setor não aproveitou este momento para acumular gorduras e enfrentar o tempo das vacas magras. "Sim, claro, isso foi feito. Mais do que isso, o setor aproveitou um bom momento para fazer uma grande reestruturação, que era necessária. Agora temos duas grandes centrais petroquímicas, nas quais ocorreram uma reorganização societária, e a Petrobras voltou à petroquímica. Tudo isso era necessário", disse ele.

Seja como for, são tempos difíceis. As empresas enfrentam uma revolução nos parâmetros de preços, um encolhimento do mercado interno e externo, um acúmulo de estoques formado pela queda brusca de movimento. E tudo isso num país com os mais altos juros do planeta.

Com Leonardo Zanelli

Arquivo do blog