Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 10, 2009

MILLÔR

Qual é o povo mais sábio?
O que derruba o Rei ou o que lhe dá 80% de apoio?

Você aí, católico, cristão, ou simples fanático – e se, de repente, eu lhe provar que o Lula é o Anjo do Mal? Aprendi isso jogando pôquer com ele. Seu baralho só tem curinga.

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I Estão falando muito de língua, agora. Como se ortografia fosse língua! Mas, falar nisso, dizem que foi ao escritor Fernando Sabino que Jânio pronunciou a frase: "Fi-lo porque qui-lo". Assim, escutada por um mineiro, a frase logo ecoaria, com toda a maledicência semântica, pelo Salão Intelectual do Otto Lara Resende, e por todas as minas gerais. Mas Jânio, professor emérito de português e dominador de todas as re-entrâncias de verbos, hifens, crases, hipérbatos e cognatos, negava. Vi-lo e ouvi-lo negar isso no programa da Marília (a Gabriela).

Me acompanhem. Acompanharam? Tudo bem. Jânio, candidato a prefeito de São Paulo, depois de ter chutado pra córner a Presidência da assim chamada República, esperava sua entrada no programa da Gabi. Usava um chapeuzinho tipo Sherlock – ele amava a Inglaterra vitoriana – e exibia um ridículo cavanhaque branco. Cinco late-hippies, ou seja, punks, também esperavam.

Pra mim o mais punk ali era o Jânio. Pois só acredito em punk em movimento, na dinâmica, até mesmo na porrada. Entre punk comportado e o Jânio, sou mais Jânio.

Encurtando. No meio do programa a Marília perguntou: "Presidente, é verdade que o senhor disse ‘Fi-lo porque qui-lo’?". Ao que o Jânio fulminou, fingindo uma irritação que nunca teve: "Não, senhora, jamais O disse! Porque, se O dissesse, sei muito bem que o pronome relativo que, incluso na conjunção, atrai a partícula pronominal. Teria dito:
‘Fi-lO. Porque O quis!’".

II Mudando de assunto e ficando no mesmo: desafio dirigido a qualquer desses promulgadores da nossa undécima reforma ortográfica. Mostro a ele uma página – trinta linhas, 2 978 toques – de texto, contendo algumas das inovações ortográficas feitas ou endoçadas (endossadas? Vê aí, correção) por ele mesmo. Se errar menos de dez vezes, é um gênio da antiortografia (com hífen ou sem hifen).

III Nesse negócio de língua tem-se (!) que tomar muito cuidado. Eu, para exemplo, antes de fazer qualquer afirmativa linguística, consulto sempre meu guru lexicográfico, o deputado Aldo Rebelo.

IV Falar em língua. E o factoide, do qual Cesar Maia se apossou? Como ninguém sabe tudo (mais fácil do que não saber nada), o Aurélio cita a palavra como brasileirismo, a abonação vindo de uma nota do GLOBO, de 1996! É pouco.

O Houaiss nem se toca. Nunca ouviu falar.

Mas o Random House, de 1966, já dá factoid. Como "algo fictício ou não comprovado, apresentado como fato, para efeito de propaganda, e é aceito como fato por constante repetição".

Saudade do Goebbels, inventor da intrusão domiciliar
(via rádio).

V Falar em Maia. Saiu do governo, todo mundo de "pau-nele!", mas deixando a Cidade da Música, que o consagrará pra posteridade. Não estou justificando dinheiros gastos nem pregando devassidão pública. Mas o que são 200 ou 300 milhões gastos a mais numa obra genial dessas, comparados com os 150 milhões afanados pelo Juiz Lalau na construção de um tribunalzinho regional que a gente nem sabe onde fica?

Vê só, ô meu! As grandes obras do mundo não são feitas por caras bonzinhos, honestinhos, feito você e eu, impertérrito leitor. Tudo foi feito por caras que não távão nem aí pra tua ou pra minha opinião, nem mesmo pra do Eduardo Paes. Quanto custou, ou custaram, o tão famoso Taj Mahal, as pirâmides do Egito (qualquer uma),
a Catedral de Notre-Dame? Ah, e Brasília?

VI OBAMA é a glória e redenção negra, a liberação americana, a simpatia e esperança universais.
Tudo bem. Louvemo-lo. Esperancemo-lo.

Mas, anos antes, ainda na era P.O. (pré-Obama),
os negros americanos já tinham atingido muitas alturas – nas artes, na literatura, no cinema. Na política.

Só um exemplo. A Califórnia, um dos Estados mais importantes dos que formam o Unidos, já tinha eleito um negro como Governador. Mas não se contentou, a Califórnia, no seu liberalismo hollywoodiano, em eleger
um negro. Elegeu um negro preto, Schwarz Negger.

Que, nascido na Áustria, nem afroamerican é.
É austroamerican.

Com ifen!

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