Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Hans Donner e os óvnis

VIAJANTE DAS ESFERAS

Hans Donner, o homem das vinhetas da Globo, devota-se
a um novo projeto: a construção de um centro de observação
de ufos que terá um relógio imenso como teto


Marcelo Marthe

Fotos Divulgação
PLIM-PLIM Donner em sua casa, com móveis que ele criou, e a maquete do centro ufológico, com o prédio visto de lado e de cima: tempo de ETs

Hans Donner, responsável pelas vinhetas da Globo, tem uma ligação fora do comum com as esferas – e não se está falando só das curvas de sua mulher, a modelo Valéria Valenssa. Na escola de design que frequentou na juventude, em Viena, ele já tinha fixação pela figura geométrica. Em 1974, aos 26 anos, uma "força" (o termo é seu) o trouxe ao Brasil. Aqui, ele arranjou um emprego na Globo. "Todos diziam: você é louco de trocar a Áustria por um lugar de bananas e macacos", recorda-se. No retorno à Áustria natal, para acertar a mudança, "alguém" (outra vez, o toque esotérico é do próprio Donner) teria feito com que ele desenhasse, num guardanapo do avião, o símbolo que o consagrou: aquela esfera que contém uma tela de TV com outra, vamos lá, esfera dentro. Hoje, no entanto, Donner vê "a marca do plim-plim" como um simples passo em sua busca por uma criação superior: um relógio sem ponteiros em que as horas são marcadas pelo contraste entre claro e escuro. Essa invenção, o Timension, é a obra pela qual ele quer ser lembrado na posteridade. "A TV passa. O Timension nos leva a outras dimensões", diz. E como. No esforço para divulgar sua criação, Donner agora se preocupa com óvnis. Está engajado na construção de um certo Centro de Observação Ufológica e Espacial da Serra da Beleza, no interior fluminense. "É uma região crucial para o estudo da presença de ETs em nosso planeta", informa. No topo do prédio que projetou – em formato de disco, porque as esferas voadoras não são muito usadas –, Donner pretende instalar uma versão gigante do Timension. Com 42 metros de diâmetro, seria o maior relógio do mundo.

Que há algo de esotérico na forma como Hans Donner encara o mundo, qualquer um que já tenha visto suas vinhetas percebe. Basta citar aquelas aberturas do Fantástico com pirâmides, galáxias e mulheres misteriosas emergindo da água. Ao inventar o Timension, há 22 anos, ele não via apenas uma oportunidade de negócio – acreditava ter descoberto o que chama de "design do tempo". "Há dois anos, em João Pessoa, um homem me alertou: ‘Você veio ao Brasil para fazer a logomarca da Globo. Mas você nasceu para criar o logotipo da vida’", diz. Ele investiu os tubos na tentativa de popularizar sua criação. Apostou numa versão de pulso, mas o preço salgado de 3 000 dólares a unidade impediu que a ideia fosse adiante. Em 2000, na festa dos 500 anos do Brasil, espalhou seus "relógios do Descobrimento" por várias capitais e tentou faturar com um modelo de pulso mais convencional que o Timension. Deu tudo errado. "Joguei 120 000 relógios no lixo", afirma. Mas Donner não desistiu. Em 2007, conseguiu incorporar uma versão digital do Timension como protetor de tela no Windows Vista, sistema operacional da Microsoft. Neste mês, o relógio digital se torna aplicativo de celulares da Samsung. Também em breve, poderá ser baixado no iPhone. Mas a construção do centro ufológico é seu projeto mais ambicioso.

Donner embarcou nele depois de receber "sinais". "Há uma sincronicidade que liga as pessoas, os momentos e os lugares na minha vida", diz. Em 2005, quando produzia a abertura da minissérie JK, Donner sonhava com uma colaboração do arquiteto Oscar Niemeyer. Para fazer a ponte entre ambos, entrou em cena Luís Carlos Prestes Filho, funcionário do governo do Rio de Janeiro e filho do jurássico guerrilheiro comunista. Prestes apresentou-o a Niemeyer em troca de um favorzinho: que Donner desse uma mão à empreitada ufológica. Três sinais foram decisivos para convencê-lo a entrar nessa. Primeiro, Donner ficou encantado ao saber que o lugar se chama Serra da Beleza – e sua mulher tornou-se famosa como mulata globeleza, entende? O segundo sinal foi o fato de a serra ficar na região de... Valença. Ao viajar para o local, sobreveio o terceiro sinal. "A primeira coisa que avistei foi uma farmácia chamada Valéria. Ainda bem que filmei tudo, senão iam dizer que pirei", diz.

Sua visita ao lugar causou frisson no mundo da ufologia. O agitador do projeto, Marco Petit, também editor de uma revista sobre o tema, ciceroneou Donner e Valéria até o ponto onde o tal observatório deverá ser erguido. "Ao conhecer detalhes da maciça atividade alienígena na área, Donner aderiu imediatamente", noticiou a revista. Donner fez ainda uma palestra sobre seu despertar para o "lado transcendental" e apresentou aos presentes um vídeo que mostrava uma regressão temporal do universo até o Big Bang. Ainda segundo a mesma revista, ele deixou no ar a esperança de que seu relógio criará uma conexão com "outras civilizações do universo". O observatório não tem data para sair do papel – mas o lobby é intenso. Em 2007, Donner chegou a se reunir com o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, para pedir apoio. Ele pretende explorar a ideia do "teto-relógio" em outros projetos pelo mundo – já negocia algo semelhante num edifício de Cingapura.

Aos 60 anos, Donner diz que nunca viu um óvni. Mas acredita. "Se sou um canal para revelar a Verdade do tempo, que tem uma dimensão muito maior que nossa vidinha na Terra, como duvidar de que existam outros seres lá fora?", afirma. A ex-globeleza, mãe de seus dois filhos, dá uma força. Recém-convertida à Igreja Universal do Reino de Deus, Valéria já não pode ser madrinha de escola de samba – mas aceitou ser madrinha do projeto. O que não quer dizer que leve os ETs a sério. Diz ela: "A diferença entre mim e o Hans é que eu tenho os pés no chão".

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