Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 17, 2009

Dilma candidata: agora é para valer

De corpo e alma em 2010

Com dieta, cirurgia plástica e mudança radical no corte de
cabelo, Dilma Rousseff mostra os (bons) resultados do seu
PAC, Plano de Aprimoramento Cosmético. É o primeiro passo
de sua caminhada rumo à sucessão de Lula


Otávio Cabral

Jorge Araujo/Folha Imagem

VISUAL DE CANDIDATA
Dilma aposentou os óculos, modificou o penteado, tirou as rugas e afinou o rosto: ninguém mais duvida que ela seja a candidata de Lula à Presidência em 2010



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Quadro: Os desafios de Dilma

A inauguração pública na semana passada da nova fisionomia da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, não deixou ninguém indiferente. Ao lado do presidente Lula e do governador de São Paulo, José Serra, Dilma reapareceu em grande estilo na abertura de uma feira de moda. Ela estava quase 10 quilos mais magra e sem óculos, que foram substituídos por lentes. O cabelo ficou ruivo, com um corte repicado que se derruba elegantemente pela testa. O PAC da ministra, Plano de Aprimoramento Cosmético, incluiu também uma cirurgia plástica que lhe deu ar mais jovial e atraente (veja o quadro). Um dia depois da estreia do novo visual, Dilma e Lula conversaram a sós em Brasília. O presidente reafirmou o desejo de vê-la disputando sua sucessão, pediu à ministra que transfira aos poucos suas funções na Casa Civil, que se dedique intensamente ao PAC original, o Programa de Aceleração do Crescimento, principal aposta eleitoral de Lula, e à montagem de uma aliança política consistente. A combinação entre a exibição de sua nova face e o despacho a sós com Lula é a evidência mais forte de uma suspeita antiga: apesar dos despistes de praxe, a ministra-candidata já está mergulhada, de corpo e alma, na campanha presidencial de 2010.

A transformação estética, naturalmente, é a etapa mais fácil da caminhada de Dilma Rousseff rumo ao Palácio do Planalto. Agora, seu maior desafio como candidata é herdar a extraordinária popularidade do presidente, seu padrinho político e fiador de sua candidatura. Lula já pediu a todos os ministros uma lista de inaugurações para montar uma agenda política conjunta com Dilma. O objetivo é apresentá-la ao eleitorado e fixar sua imagem como a candidata do presidente, a única capaz de dar continuidade a seu governo. Lula espera transformar parte de sua popularidade recorde, que chega aos 70%, em votos para Dilma. Para receber a herança bendita, porém, a ministra precisa se tornar conhecida. Hoje, apenas metade do eleitorado sabe quem ela é. "Ser conhecida é fácil. O difícil é ser vista como viável tanto para os políticos como para o eleitorado", diz o publicitário Fernando Barros, presidente da Propeg, um dos responsáveis pela propaganda da Presidência da República.

Ricardo Stuckert/PR

NOS BRAÇOS DO POVO
Lula é assediado em evento no Nordeste: o desafio do presidente mais popular desde a volta à democracia é transferir parte de seu apoio para viabilizar Dilma

Segundo especialistas em marketing político ouvidos por VEJA, a transferência de votos, fator decisivo para as pretensões eleitorais de Dilma, é um processo de mão dupla. Lula precisa ter o que transferir e a ministra precisa estar preparada para receber o monumental apoio popular do presidente. Em outras palavras, Lula conseguirá transferir votos a Dilma se atravessar com sucesso a crise econômica, unir a máquina do governo em torno da ungida e atrair os movimentos sociais e os empresários para financiar a candidatura e lhe dar peso político. "Lula ainda tem dois anos de governo pela frente em meio a uma crise econômica mundial. Ninguém pode prever que efeito essa crise terá em sua popularidade e na sua sucessão", afirma Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope. Os especialistas dizem que, caso a popularidade de Lula resista à crise, a ministra ainda precisará sofrer uma transformação interior tão vistosa quanto a que lhe alterou a fisionomia para herdar os votos de Lula.

A fórmula mágica do sucesso eleitoral recomenda que Dilma Rousseff adquira capacidade de liderança, uma tarefa árdua para uma executiva impetuosa e de gênio difícil. A ministra, que no ano passado ganhou um sugestivo bambolê de caciques do PMDB, também precisaria ter maior jogo de cintura para se aproximar de partidos e líderes regionais que apoiam o governo. Além de mostrar que tem chances reais de vencer, Dilma também teria de dar sinais de que vai compartilhar o poder caso chegue ao Planalto. A fórmula, mesmo cumprida à risca, não é infalível. Isso porque do outro lado do ringue político haverá um oponente fortíssimo em 2010, governador do estado mais importante do país e líder em todas as pesquisas – o tucano José Serra. "Um candidato de Lula, com seu governo forte e bem avaliado, irá para o segundo turno. A partir daí, será uma disputa imprevisível, ainda mais com um adversário como José Serra, que tem um partido forte e o governo de São Paulo como cartão de apresentação", afirma o publicitário Edson Barbosa, marqueteiro do PT na última eleição presidencial.

Reprodução Lula Rodrigues

EXEMPLOS DA HISTÓRIA
Hermes da Fonseca (à esq.), eleito em 1910 com o apoio de Nilo Peçanha, e Lott, candidato de JK derrotado em 1960: finais distintos para candidatos tirados do bolso do colete presidencial

Mesmo ignorada por metade do eleitorado e patinando em um dígito nas pesquisas, a candidatura de Dilma vem ganhando musculatura. No mês passado, o instituto Datafolha divulgou levantamento no qual a ministra aparece com 8% das intenções de voto no cenário mais provável, no qual concorreria contra Serra, Ciro Gomes (PSB) e Heloísa Helena (PSOL). Apesar do baixo índice, Dilma tem o que comemorar. Levando-se em conta a pesquisa anterior do Datafolha, realizada em março, ela saltou de 3% para 8% nas intenções de voto – o que representa um crescimento de 167%. O salto ocorreu entre o eleitorado que aprova o governo Lula. Nesse público, concentram-se 89% de seus votos atuais. Outros 9% vêm dos que consideram Lula regular e apenas 1% dos que reprovam seu governo. "Nenhum presidente desde Collor atingiu tal patamar de aprovação. Por isso é difícil prever qual será o teto eleitoral de Dilma. Mas é muito provável que continue crescendo à medida que os eleitores identifiquem mais claramente o apoio de Lula a ela", afirma Mauro Paulino, diretor do Datafolha.

É raro aparecer um candidato competitivo que seja ignorado por metade do eleitorado e nunca tenha testado as urnas, caso de Dilma. Mas já aconteceu antes. Em 1910, para ficar apenas no século passado, o presidente Nilo Peçanha lançou a candidatura de Hermes da Fonseca, que nunca disputara eleição e tinha como principal atributo político ser sobrinho de Deodoro da Fonseca, herói da proclamação da República. Hermes da Fonseca derrotou o escritor e diplomata Rui Barbosa e foi eleito presidente da República. Mais recentemente, em 1960, Juscelino Kubitschek inventou a candidatura de um ministro sem experiência eleitoral, Henrique Lott. Mesmo apoiado por um presidente muito popular, Lott foi derrotado por Jânio Quadros. Suspeita-se que JK tenha apoiado Lott apenas para que ele perdesse a eleição, certo de que voltaria ao poder cinco anos depois. Há, atualmente, suspeita parecida no serpentário de Brasília. A derrota da ministra, segundo esse ponto de vista, pavimentaria o caminho para a volta de Lula ao Planalto em 2015. Se a intenção de JK foi realmente essa, nunca se soube. A renúncia de Jânio e a instalação do regime militar impediram sua volta ao governo. No caso de Lula, a história ainda está para ser escrita.

A candidatura da ministra começou a ser arquitetada por Lula no fim de 2007 em conversas com João Santana, seu marqueteiro político. Nessa época, as principais apostas de Lula e do PT haviam desmoronado, uma atrás da outra, por suspeitas variadas. Em março passado, Lula falou de sua intenção pela primeira vez com Dilma. Inicialmente, ela rejeitou a ideia, mas aos poucos foi ganhando confiança. "Dilma era uma aposta de Lula. Hoje, é candidata", diz o ministro José Múcio, das Relações Institucionais. A ministra tem se esforçado para se aproximar cada vez mais do figurino exigido de um candidato presidencial. Sua agenda está cada vez mais cheia de compromissos com políticos. Uma vez por semana, ela se reúne com João Santana, que já começou a treiná-la para o corpo-a-corpo com a imprensa e os eleitores. A sisudez ainda é um obstáculo, mas ela tem feito progressos. Em dezembro, ao aparecer pela primeira vez no jantar anual da bancada governista no Senado, Dilma bebeu vinho, distribuiu sorrisos e, ao final, cantou El Día que Me Quieras, em parceria com o senador Eduardo Suplicy: "Acaricia mi ensueño / El suave murmullo de tu suspirar / Cómo ríe la vida / Si tus ojos negros me quieren mirar!". A transformação interior é mais difícil e bem menos explícita, mas já começou.

Política do corpo – e do rosto também

Fotos John Macdougall/AFP e Ian Salas/Corbis/Latinstock

DESPOJADAS
A alemã Angela Merkel (à esq.) e a chilena Michelle Bachelet: franjinha e um pingo de maquiagem

Dilma Rousseff deu uma esticada? Nada mais comum. Nestes tempos de recursos estéticos que aos poucos vão acabando com a imagem do político feio, todo mundo quer ficar bem na foto. Submetidas a um escrutínio maior, as mulheres de grande visibilidade na vida pública enfrentam duas demandas em constante interação: se mexem muito no visual, passam a imagem de frivolidade e, por associação, de deficiência na capacidade de comando; se não se cuidam, transmitem a impressão de desleixo ou de pouca vitalidade. Até a mais despojada das políticas atuais, Angela Merkel, 54 anos, primeira-ministra da Alemanha, já fez um sutil aprimoramento. O cabelo escorrido, de franjinha, anda um pouco mais encorpado e a maquiagem zero deu lugar a um fiozinho de delineador sobre os olhos; dois cabeleireiros ale-mães digladiam-se até hoje pelo mérito da discreta transformação. Michelle Bachelet, 57, presidente do Chile, é outra do time das simples: o sorriso aberto é seu grande acessório. No mais, não muda o uniforme-padrão composto de tailleur, colarzinho de pérolas e cabelo de baixa manutenção. No extremo oposto fica a vaidosa presidente da Argentina, Cristina Kirchner, 55. O excesso de intervenções estéticas, de maquiagem e de apliques no cabelo cria um conjunto extravagante. Discrição também não é o forte da primeira-ministra da Ucrânia, Yulia Tymoshenko, 48. Fora as eternamente complicadas relações com a Rússia, o assunto mais comentado na Ucrânia é a famosa e loira trança de camponesa que ela combina com roupas sempre claras e de grife. A milionária Yulia já soltou a cabeleira uma vez para provar que a trança é de verdade, mas muita gente ainda não acredita.

Fotos Juan Mabromata/AFP e Ria Novosti/AFP

EXAGERADAS
A argentina Cristina Kirchner e a ucraniana Yulia Tymoshenko: múltiplas intervenções

Qual a relação entre capacidade política e boa aparência? Evidentemente nenhuma. Mas, como a segunda pode alavancar a chance de mostrar a primeira, voltamos à transformação visual da ministra Dilma, que deu o passo definitivo no campo estético e fez uma plástica. Cirurgia mesmo, com bisturi, e não a propalada bioplastia, esta uma prática menos universal, que consiste em injetar sob a pele um gel derivado do petróleo – o polimetilmetacrilato, ou PMMA – e depois moldar a gosto a área assim alisada e empinada. As intervenções da ministra usaram as técnicas tradicionais de rejuvenescimento. Nos olhos, uma blefaroplastia, operação que, com finos cortes, removeu, embaixo, as bolsas responsáveis pelo ar abatido e, em cima, o excesso de pele nas pálpebras (para constar: Fernando Henrique Cardoso e José Serra também fizeram). No resto do rosto, um lifting, intervenção em que, através de um grande corte serpenteando por trás das orelhas, a pele da face e do pescoço é puxada para os lados e para cima, esticando rugas e dobras. Como é comum, as duas cirurgias foram feitas ao mesmo tempo, no dia 20 de dezembro, na clínica gaúcha Moinhos Plastic Center. A ministra passou menos de duas horas na mesa de cirurgia. Os médicos que a operaram, Renato Viera e Sérgio Panizzon, têm fama de cautelosos e avessos a modificações radicais. A aparência algo inflada exibida pela ministra ao estrear o rostinho novo em público, na semana passada, parece ser resultado do inchaço remanescente. As cicatrizes do lifting ficaram escondidas sob o cabelo. Este, por sinal, é a prova de que o rejuvenescimento pode estar ao alcance de uma tesoura de cabeleireiro: o penteado duro e armado deu lugar a um corte repicado, mais leve e jovial. Quanto ao amplamente divulgado uso de PMMA no procedimento, Panizzon é categórico: "Não posso dar detalhes da cirurgia da ministra, mas garanto que não fizemos bioplastia. Essa é uma técnica reconhecidamente arriscada, que pode provocar grandes desastres". Não, felizmente, na área da ministra.

VEJA

Fotos Lailson Santos, Rose Brasil/ABR e Cesar Greco/Folha Imagem
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