PARIS - Foi bonita a festa de posse de Jon Favreau. Jon quem? Favreau é um talentosíssimo garoto de 27 anos, que se tornou o redator dos discursos do candidato Barack Obama e passou os últimos dois meses escrevendo o texto que o agora presidente dos Estados Unidos pronunciou ontem, certamente o discurso de maior audiência planetária de todos os tempos (atenção, a música sempre foi do candidato, agora presidente; Favreau só põe a letra). Não, não estou criticando, não estou dizendo que Obama é retórica e nada mais. Vivo da palavra faz 45 anos. Logo, tenho por ela carinho absoluto e o mais profundo respeito por quem, como Favreau e Obama, sabe usá-las. Mais: foi a palavra que levou um negro, o primeiro, à Casa Branca, o que é dizer muito. Além disso, segundo perfil de Favreau publicado pelo jornal espanhol "El País" na segunda-feira, o redator de Obama, quando foi convidado a trabalhar com ele, explicou qual era a sua filosofia para escrever discursos: "Um discurso pode alargar o círculo de pessoas a quem importa esta coisa [a política]. É como dizer à pessoa que sofreu: "Te escuto. Mesmo que estejas decepcionado e cínico a respeito da política do passado, porque tens boas razões para sentir-se assim, podemos ir na direção correta. Só te peço uma oportunidade"." Bem feitas as contas, foi essa a razão do triunfo de Obama. A maioria dos americanos quis lhe dar, precisava lhe dar a oportunidade de desfazer (ou, ao menos, diminuir) o cinismo com a política, que não é, de resto, característica apenas dos norte-americanos. O discurso de posse foi a mais solene tentativa de refazer a maneira de ver a política, além de uma tremenda reafirmação de orgulho americano. A partir de hoje, sai Favreau, entra Obama, sai a palavra, entra a ação. crossi@uol.com.br |
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