Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, agosto 05, 2012
Ficou nanico - CELSO MING
Acostumado com juros altos, o brasileiro médio olha para seu extrato de investimentos financeiros e balança a cabeça decepcionado.
E sai por aí a consultar o gerente do banco, seus conselheiros financeiros ou simples palpiteiros sobre o que fazer para obter ao final do mês alguma coisa mais próxima do que estava acostumado, porque contava com esse retorno para complementar seu orçamento doméstico.
Na média, R$ 1 mil aplicados num fundo DI renderam, em julho, apenas R$ 5,40. Somente para comparar, há dez anos, os mesmos R$ 1 mil pagaram R$ 11,40 ao mês. Como os juros devem continuar em queda, a perspectiva é de um retorno ainda mais baixo. Não paga nem o preço da condução de ida e volta ao banco.
Anos e anos de inflação ensinaram o brasileiro a lidar com a perda de valor do seu dinheiro. Por causa disso, ele aprendeu a fazer contas e, no início dos anos 90, chegou a ser o maior comprador de calculadoras financeiras do mundo.
No entanto, o brasileiro não aprendeu ainda a viver com juros baixos, situação normal em qualquer país avançado, onde, há anos, o rendimento financeiro mal cobre a inflação e hoje chega a ser negativo em termos reais. Essa limitação não é apenas do brasileiro médio. É também dos bancos que ainda se teimam em cobrar, nos fundos de investimento, taxas de administração de mais de 1,5% ao ano, incompatíveis com a nova realidade.
A primeira reação do pequeno e médio aplicador aos rendimentos bem mais baixos tende a ser a de sair gastando, por entender que já não vale mais a pena deixar seu dinheiro numa aplicação financeira. Mas a experiência de outros países mostra que essa atitude pode ser temporária. A partir do momento em que perceber que já não pode contar com o mesmo retorno de suas reservas seja para prover seu futuro, seja para emergências, tentará poupar ainda mais.
Outra opção é buscar mais risco, sempre sujeito a perdas de patrimônio. No entanto, também acostumado ao rendimento relativamente fácil das aplicações firmes, o brasileiro não aprendeu a lidar com o risco. Em princípio, gosta da ideia de tocar um negócio por conta própria, que também implica riscos, mas tem medo de investir em ações por seguir como prisioneiro de uma mentalidade de curto prazo.
Talvez esta seja boa oportunidade para aceitar mais risco, porque a crise global derrubou as cotações das aplicações de renda variável para possíveis pontos de compra. Hoje, há um bom número de ações à venda no mercado por preços que correspondem a alguma coisa entre 60% a 80% do seu valor patrimonial. Quem sabe (e pode) esperar e não perde o sono com trancos das bolsas, tem aí mais oportunidades do que propriamente riscos.
O Brasil é uma economia com baixo índice de poupança, de não mais do que 16% da renda. A atual política econômica, por sua vez, partiu do princípio de que precisa incentivar a expansão de um grande mercado de consumo e, por isso, não vê necessidade de incentivar o investimento. Pessoas que procuram fazer reservas muitas vezes são vistas preconceituosamente como meros "rentistas".
Não é apenas o brasileiro médio que não aprendeu a lidar com os juros baixos na administração de suas finanças. Também os administradores da economia brasileira não se deram conta de que não basta derrubar os juros e de que é preciso criar mais incentivos para aumentar a poupança nacional.
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