Entrevista:O Estado inteligente

domingo, agosto 05, 2012

Dependência do petróleo - ALBERTO TAMER




O Estado de S.Paulo - 05/08


O Brasil vai continuar importando mais gasolina pelos próximos dois anos porque, apesar da desaceleração econômica, o consumo de derivados continua crescendo e, mais sério ainda, a produção de etanol recua com problemas climáticos e financeiros. É um cenário que não deve mudar a curto prazo porque as refinarias que estão sendo agora construídas só entrarão em operação depois de 2014, daqui a dois anos. E isso com otimismo. As atuais, mesmo com algumas adaptações feitas pela Petrobrás, operam apenas petróleo leve e o da Bacia de Campos é pesado. Agora é esperar o pré-sal e acreditar nele. Só que a Petrobrás não pode deixar de investir também na Bacia de Campos, que dá sinais de declínio e responde pela produção nacional.

A grande realidade é que o Brasil está pagando o preço da dependência. É autossuficiente em petróleo, mas não em derivados.

Mas o que houve? A última refinaria construída no Brasil foi inaugurada em 1980 e vinha atendendo a demanda, até recentemente. De acordo com a Petrobrás, o mercado está aberto desde 1997, mas não houve interesse da iniciativa privada em construir refinarias.

A empresa passou a ampliar e modernizar suas refinarias, desde a década de 90, para elevar a capacidade de processamento de petróleo pesado e de produção de derivados que ainda precisam ser importados, diante do aumento da demanda, como o diesel, o gás liquefeito de petróleo e a nafta (matéria-prima petroquímica).

Mais recentemente, foi decidida a construção de quatro grandes unidades de refino: a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco: o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro; a Refinaria Premium I, no Maranhão; e a Refinaria Premium II, no Ceará, que foram projetadas para operar com petróleo pesado.

Com isso, a empresa espera reduzir a exportação de petróleo bruto e aumentar a exportação de derivados, cujo valor agregado é maior, permitindo maiores ganhos para a balança comercial.

Mas, o problema é que a primeira refinaria, a de Pernambuco, só deverá começar a produzir em novembro de 2014, se não houver mais atrasos.

Não é dramático. Tudo isso levou o Brasil a uma dependência delicada. Delicada, desconfortável, mas não dramática, porque há pelo menos quatro fatores atenuantes: 1. Os preços se mantêm em torno de US$ 102 o barril, de acordo com levantamentos diários da Opep, com base numa cesta de vários tipos de petróleo; 2 . Não há tendência de altas explosivas ( já chegou a US$ 150), porque a economia cresce à taxa de 2% anualizada, a demanda mundial estagna, a Arábia Saudita compensou o 1 milhão de barris por dia que deixou de ser comprado do Irã e ninguém acredita na ameaça dos aiatolás de bloquear o estreito de Ormuz; 3. Os consumidores estão reduzindo sua dependência da Opep, produzindo mais e comprando no Canadá, México e países africanos; 4. Os consumidores acumulam os maiores estoques dos últimos cinco anos.

Exportar ajuda. Outro fato atenuante para o Brasil é que o custo da importação de derivados tem sido em parte compensado pela Petrobrás com aumento da exportação de outros derivados, como o óleo combustível, o querosene de aviação e o bunker (combustível naval), além de petróleo pesado.

No primeiro trimestre de 2012, por exemplo, foram importados pela Petrobrás 764 mil barris diários de petróleo e derivados e exportados 714 mil barris, o que deixou um saldo negativo de apenas 50 mil barris/dia.

Mudar a matriz energética? Nada muda nos próximos dois anos e se algo mudar será para aumentar a dependência da importação de gasolina, diesel e derivados, o que certamente irá ocorrer se a economia voltar a crescer mais de 3%. Não há nada a fazer a não ser buscar uma matriz energética com menor dependência do petróleo e maior do gás, um grande esquecido. Nesse setor, os EUA estão iniciando uma verdadeira revolução. Aumentam cada vez mais seu consumo de gás e tentam reduzir o de petróleo, que produzem mais com a recuperação dos seus poços, e importam menos do Oriente Médio.

No Brasil, é esperar o pré-sal que já produz 3% do total no país, e aceitar a nova dependência. O certo, como disse com muita ênfase nesta semana a presidente da Petrobrás, Graça Foster, é corrigir os erros do passado, construindo refinarias apropriadas para atender a demanda de um mercado interno que só irá crescer nos próximos anos. Afinal, há 32 anos não se constrói uma refinaria no Brasil.

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