Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 09, 2009

A última chance Zuenir Ventura

As estatísticas dizem que eu, não, mas minha neta Alice e mais 70% das pessoas vivas hoje no planeta continuarão aqui em 2050 e sofrerão o impacto das mudanças climáticas: enchentes, seca, tempestades e o nível do mar subindo. Mesmo sabendo disso, por que não tomamos providências sérias? Por que a 15aConferência do Clima de Copenhague ainda não é garantia de acordo? Por que não damos importância ao aquecimento global, que não é prioridade para o brasileiro? Uma pesquisa do DataFolha acaba de revelar que, das 2.073 pessoas ouvidas em 124 municípios, apenas 5% se preocupam com a questão. Numa lista de dez problemas, o clima vem em sétimo lugar, atrás da pobreza (22%), fome e violência (ambas com 19%), Aids (8%), doenças infecciosas (7%) e mortalidade infantil (6%).

Em 1992, participei da cobertura da Rio-92, que era tida como “o mais ambicioso encontro” do gênero, da mesma maneira que o de agora é visto como o mais importante do século. O governo federal transferiu-se para cá, as Forças Armadas garantiram a segurança do evento e os 179 chefes de Estado presentes assinaram a Agenda 21. O documento continha as estratégias para preservar o planeta, reduzindo a produção de poluentes. Buscava-se um modelo limpo de crescimento econômico que não degradasse o meio ambiente, e consagrava-se o conceito de desenvolvimento sustentável.

Dez anos depois, mais de 100 líderes mundiais foram a Johannesburgo, na África do Sul, para discutir os progressos registrados a partir do encontro do Rio. O balanço foi uma decepção. Apenas 40 países adotavam algum tipo de medida preservacionista.

Na verdade, em 2002, recursos naturais como florestas e rios estavam ainda mais ameaçados.

As emissões de gás carbônico tinham crescido 10%. Nos EUA de Bush, o aumento foi de 18%.

Agora, a COP-15 está sendo considerada a última chance de evitar o caos no clima. Como disse o primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Rasmussen, “temos duas semanas para salvar o planeta”.

Depois de muitas incertezas, pelo menos o começo foi promissor, com a chegada de Barack Obama trazendo boas novas. A sua Agência de Proteção Ambiental preparou um estudo mostrando que os gases do efeito estufa põem em risco a saúde humana, não apenas a natureza, e por isso precisa ter suas emissões controladas com rigor, sem enfrentar o Congresso.

Ainda é cedo para otimismo, já que não se sabe que acordo pode sair do encontro, mas o interesse que a conferência está despertando no mundo, o destaque do evento na nossa mídia, tudo isso deve fazer com que pelo menos a partir de agora mais de 5% dos brasileiros passem a se preocupar com o problema.
Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, foi quem me fez entender que desqualificar a aprovação de Lula (83%) e de seu governo (72%), atribuindo-a aos grotões, acaba em ironia. É que muitos dos “baixa renda” do presidente preferem Serra (38%) a Dilma (17%).

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