O Prêmio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, desembarcou por aqui e disse quatro coisas:
(1) Que há exagero na euforia que o mundo demonstra pela economia brasileira; (2) que o despejo de recursos estrangeiros no País é um perigo porque tem todo o jeito de uma bolha financeira; (3) que a valorização do real é excessiva e perigosa; e (4) que essa distorção do câmbio deve ser atacada com taxação na entrada de capitais e compra de moeda estrangeira (formação de reservas) pelo Banco Central (BC).
Nenhuma objeção em relação ao primeiro ponto. Há mesmo esse deslumbramento e, como acontece com todas as mitificações, a distância que vai da fascinação para a execração é quase imperceptível. Basta que algo de errado aconteça para que a euforia vire rejeição. Na arrumação prevalecente da economia brasileira há o que louvar e mais ainda a admirar se as condições forem comparadas com as dos países ricos e, mesmo, com as de alguns emergentes. É a tal história: quando me olho no espelho me deprimo, mas quando olho para certas caras à minha volta me alivio.
Mas não se pode perder de vista as fragilidades, os riscos, os velhos problemas não resolvidos, as reformas por fazer, o altíssimo custo Brasil, o baixo índice de escolaridade, o enorme desperdício do setor público, a impressionante burocracia e por aí podemos avançar desfilando mazelas. No entanto, uma vez levada em conta toda a vulnerabilidade, nada há de errado em tirar proveito dessa euforia externa e surfar na bonança que rola no Planeta.
Krugman também está certo quando diz que a forte entrada de recursos externos tem a ver com bolhas e com o criatório delas que está nos países ricos. O problema é saber o que fazer para evitar os riscos associados a essas bolhas, especialmente o principal deles, que é o de que, a qualquer momento, os capitais batam em retirada. Não dá para confiar demais em um modelo de crescimento excessivamente dependente dos recursos externos que, de resto, compõem o tal criatório de bolhas. A saída está em aumentar a poupança nacional para que o País possa dispensar esses recursos quando eles fizerem mais mal do que bem.
Nada também a objetar quanto ao terceiro ponto: a valorização do real é excessiva e perigosa. E aí chegamos ao quarto ponto. A receita de Krugman para enfrentar o excesso e o perigo é pobre e inadequada.
Cobrar IOF na entrada de capitais pode até funcionar - o que é duvidoso. O problema é que o Brasil não pode dispensar esses recursos. Não haverá o que chegue para o financiamento do pré-sal, para o PAC, para os projetos de infraestrutura, para as obras da Copa e da Olimpíada e para a capitalização da empresa brasileira, pública e privada.
Enquanto o País não aumentar sua poupança, o único jeito de dispensar a entrada de capitais é parar os investimentos, com as consequências conhecidas. E, outra vez, até agora não se viu grave contraindicação à compra de dólares pelo BC. Mas, atenção, este é um expediente enxuga-gelo. Os dólares estão afluindo porque o Brasil tem reservas de US$ 240 bilhões. E muito mais afluirão quando elas saltarem para, digamos, US$ 400 bilhões.
Por mais renomado que seja um economista, é complicado ele descer do avião, assumir uma tribuna e desovar recomendações.
Confira:
Sem essa - Nem o Banco Central (BC) nem outro setor do governo Lula estão preparando medidas que autorizariam os bancos daqui a emprestar a clientes no exterior recursos de correntistas brasileiros ou aplicações feitas no Brasil.
Há semanas os jornais têm apresentado esse projeto entre outros tantos que estão sendo considerados pelo BC para aumentar a demanda de dólares e, assim, reduzir a pressão baixista do câmbio interno.
Essa ideia não tem como ser colocada em prática porque o Banco Central não teria condições de supervisionar os bancos brasileiros no exterior.