Texto integral Segunda-feira sem Lula "Segunda-feira sem carne". Esse é o mote de uma campanha liderada por Paul McCartney. A idéia é eliminar o consumo de carne às segundas-feiras. Nesse dia, segundo Paul McCartney, o melhor que podemos fazer é trocar o filé por uma fatia de tofu. Foi a maneira que ele encontrou para combater o aquecimento global - ele e suas filhas, Stella e Mary, que também se uniram à campanha. O gado, além de estimular o desmatamento em lugares remotos como o Pará, emite gases que se espalham pela atmosfera e causam o efeito-estufa. Eu pretendo aderir a outra campanha, igualmente singela: "Segunda-feira sem Lula". Este é um de meus últimos podcasts. A partir de julho, renunciarei a este trabalho. Terei de continuar a me ocupar profissionalmente de Lula por mais um ano e meio, até a posse de seu sucessor. Isso porque a coluna impressa, nas páginas de VEJA, permanecerá em seu lugar, igualzinha, me obrigando a manter esse empenho emburrecedor de tentar acompanhar os pensamentos de Lula, que se espalham pela atmosfera e causam uma espécie de efeito-estufa mental. Mas a renúncia ao podcast permitirá que às segundas-feiras - e só às segundas-feiras - eu consiga trocá-lo por algo menos danoso ao meu ambiente doméstico. Lula era minha anta. Agora ele é meu filé. Pessoalmente, a opinião dele sobre um determinado assunto sempre me interessou tanto quanto a opinião do porteiro de meu prédio. Eu já disse isso no passado. Continua sendo assim. O que mudou de uns tempos para cá foi meu grau de engajamento. Um disparate como o que ele pronunciou na última segunda-feira (!), quando comparou a uma simples disputa entre flamenguistas e vascaínos o espancamento e o assassinato de oposicionistas iranianos por parte dos pistoleiros dos aiatolás, teria provocado meu esperneio. Em meus piores artigos, um esperneio indignado. Em meus melhores artigos, um esperneio debochado. Eu talvez tivesse esperneado também contra Maria Victoria Benevides e Fabio Konder Comparato, que condenaram o emprego do termo "ditabranda" para caracterizar o regime militar brasileiro, mas se calaram despudoradamente quando Lula defendeu a teocracia iraniana, com suas fraudes eleitorais, com sua censura à imprensa, com seus paramilitares que metralham manifestantes da janela. Agora enjoei de espernear. Por mais que me esforce, só consigo ver Lula e o resto do rebanho lulista como agentes poluentes. Eles contaminam o ar. Eles desertificam o solo. Eles sufocam o planeta. Como um filé. Como uma bisteca. Como uma picanha. E eu? Eu me tornei um tofu. Terça-feira: Lula. Quarta-feira: Lula. Quinta-feira: Lula. Sexta-feira: Lula. Mas a segunda-feira será muito melhor para mim. Será uma segunda-feira sem Lula. |