O Estado de S. Paulo - 18/06/2009 |
A cada farra nos negócios segue-se a adoção de regras de disciplina. A última foram as leis Sarbanes-Oxley, que chegaram em 2002, depois da lambança contábil das americanas Enron e WorldCom. A próxima foi anunciada ontem pelo presidente Barack Obama. Pretende aumentar a regulação do sistema financeiro americano. Seu ponto central é enfeixar no Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) mais condições para fiscalizar e supervisionar a atividade das instituições financeiras bancárias e não bancárias. Se a proposta a ser examinada pelo Congresso é aumentar os poderes do Fed, fica claro que até agora ele não teve poderes suficientes para regular o recentemente identificado sistema financeiro paralelo. Isso dá certa razão ao presidente anterior do Fed, Alan Greenspan, quando afirma que não tinha mandato para executar as tarefas que hoje os críticos dele vêm cobrando. Apenas os bancos comerciais estão hoje sob a tutela do Fed. Ainda assim, é um mandato com conflitos de jurisdição, partilhado com agências de atuação apenas estadual. O governo Obama põe sob a tutela do Fed não só bancos comerciais, mas, também, quaisquer instituições consideradas capazes de provocar risco sistêmico (quebras em cadeia), sejam elas bancos de investimento, seguradoras de crédito ou fundos de hedge. E anuncia organismos de supervisão também para sociedades de crédito hipotecário e administradoras de cartões de crédito. Em compensação, o Fed não terá a mesma facilidade para agir nas emergências. Para abrir canais especiais diretos com o mercado para suprir os bancos em situações de bloqueio de crédito terá de pedir autorização prévia ao Congresso. A nova batelada regulatória prevê a imposição de rédeas curtas a outros dois segmentos do mercado financeiro: ao mercado de derivativos; e à criação de instrumentos financeiros complexos, como os CDS (Credit Default Swaps), que empacotam ativos com o objetivo de escapar aos balanços das instituições financeiras e, portanto, a quaisquer organismos de regulação. Boa pergunta consiste em saber até que ponto o governo Obama conseguirá se opor à atuação contrária a essa regulação dos lobbies das instituições financeiras, tão mal-acostumadas à permissividade que reinou até agora. Em todo o caso, há muito não se ouviam tantas e tão pesadas críticas à atuação dos bancos no Congresso americano. Por mais abrangente que seja, a nova legislação esbarra em sérias limitações. Uma delas consiste em desconsiderar o caráter global da atividade financeira. De nada adianta botar tranca na porta da frente se canais subterrâneos permitirem a livre atividade dos bancos em outros países. No artigo que assinou anteontem em alguns jornais de circulação internacional, como o El País, de Madri, o presidente Lula perguntou se os países ricos estão de fato dispostos a aceitar a supervisão e o controle supranacionais que o sistema financeiro global requer. Não podem organismos de atuação apenas local pretender controlar instituições financeiras globais. Quer dizer, mais rigor nos Estados Unidos é necessário, mas não basta. É preciso estendê-lo ao resto do mundo e isso pede uma agência internacional de supervisão. Confira O Federal Reserve precisará se preparar para estar em condições de supervisionar as instituições financeiras num regime em que elas não podem quebrar. Terá de montar um enorme departamento de auditoria. Não está claro como será feito o monitoramento dos bancos americanos fora dos Estados Unidos. E, se a fiscalização se estender aos fundos de hedge, o Fed terá de saber como atuam nos paraísos fiscais. Falta saber como serão evitadas administrações irresponsáveis em grandes empresas não financeiras (como montadoras de veículos), que também não podem quebrar, como se viu. |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
quinta-feira, junho 18, 2009
Rédea curta nos bancos Celso Ming
Arquivo do blog
-
▼
2009
(3759)
-
▼
junho
(349)
- SAMBA DE UMA NOTA SO'- MODERN JAZZ QUARTET
- EDITORIAIS
- Clipping de 30/06/2009
- Celso Ming E agora, Kirchner?
- Joseph Stiglitz,Acordo sobre a crise é um pequeno ...
- Míriam Leitão Bolsa Juros
- Vinicius Torres Freire O grande pacotão de Lula
- Yoshiaki Nakano A recuperação da crise e as diverg...
- Dora Kramer Socialização do prejuízo
- A alternância redundante Wilson Figueiredo
- Merval Pereira Sem controle
- Reinado Azevedo
- Bolsa Ditadura
- Golpe? Onde?
- Traído pela arrogância petista
- Clipping de 29/06/2009
- O cara
- EDITORIAIS
- Carlos Alberto Di Franco Simbiose - oligarquia e p...
- Roberto Romano Lulla, o porta voz dos aiatolás e d...
- Eis aqui, leitor, um intelectual de verdade
- Sarney não deverá renunciar, diz historiador
- Vinicius Torres Freire Gasto público em ritmo elei...
- EDITORIAIS
- José Serra Uma visão latino-americana da crise
- Dora Kramer Jogo dos sete erros
- Celso Ming Sem anestesia
- Sérgio Fausto Problemas na vizinhança
- O fracasso da greve na USP
- JOAQUÍN MORALES SOLÁ La muerte se coló en medio de...
- MARIANO GRONDONA ¿Cómo explicar el disenso entre M...
- Miriam Leitão Lento regresso
- Merval Pereira A voz rouca das ruas
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Não se salva ninguém?
- Míriam Leitão Contas amarelas
- Celso Ming BCs mais poderosos
- EDITORIAIS
- Villas-Bôas Corrêa Exemplar secretário- geral da C...
- Cesar Maia:Ken Starr e Joseph McCarthy
- Rompendo a censura Zuenir Ventura
- Dora Kramer Cerimônia do adeus
- O governo não sabe... (Giulio Sanmartini)
- Nelson Motta Questão de estilo
- Merval Pereira O joio e o trigo
- VEJA Carta ao Leitor
- Veja Entrevista Leonardo Nascimento de Araújo
- Diogo Mainardi Dois mil anos depois...
- Roberto Pompeu de Toledo Politicolíngua, série Sarney
- Maílson da Nóbrega O incrível Lula e o BC
- Lya Luft
- MILLÔR
- Panorama
- Senado Hora de esvaziar as lixeiras
- Araguaia Curió fala das execuções sumárias de guer...
- Irã Mulheres lideram os gritos por liberdade
- A morte de Michael Jackson
- Distúrbio fronteiriço: a vida à beira do abismo
- HPV: teste detecta a atividade do vírus
- O transplante de Steve Jobs, da Apple
- Casa Opções de aquecimento para o inverno
- Alex e Eu, a cientista e o papagaio
- A Criação da Juventude, de Jon Savage
- VEJA Recomenda
- da Veja-Livros mais vendidos
- Celso Ming Decolando e descolando
- Clipping de 26/06/2009
- EDITORIAIS
- Merval Pereira Por um fio
- Dora Kramer Dupla face
- Fernando Gabeira Futuro do Senado
- Luiz Carlos Mendonça de Barros Fed, saindo à francesa
- Vinicius Torres Freire Banca estrangeira segura cr...
- Míriam Leitão Nervos de aço
- CELSO MING Aperto adiado
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Dinheiro dado
- Clipping de 25/06/2009
- Vinicius Torres Freire Polícia para o golpe no Senado
- Míriam Leitão O incomum
- Demétrio Magnoli Revolução na revolução
- EDITORIAIS
- Dora Kramer Débito de confiança
- Merval Pereira Esperteza demais
- PODCAST Diogo Mainardi
- José Arthur Giannotti* - A baderna e a esclerose d...
- Vale a pena ver de novo
- Miriam Leitão Clima frio
- Editoriais
- Clipping de 24/06/2009
- Celso Ming Para os pobres
- José Nêumanne A diferença entre servir à Pátria e ...
- Roberto DaMatta Coluna em pedaços: o problema da p...
- Dora Kramer O que não tem remédio
- Merval Pereira Santo de casa
- Dora Kramer Um pontapé no rapapé
- Momento de decisão Merval Pereira
- Clipping de 23/06/2009
- EDITORIAIS
- Governança global Celso Ming
- Engenheiros, taxistas e empregos Vinicius Torres F...
- Irã: As muitas faces Míriam Leitão
-
▼
junho
(349)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA