O GLOBO
As previsões dos economistas erraram o alvo. A queda do PIB não foi tão forte, foi melhor do que a melhor projeção. Mas é difícil comemorar um resultado que mostra que o país não só encolheu pelo segundo trimestre seguido, como os investimentos despencaram, sinalizando que a recuperação terá menos fôlego. A verdade sobre os números é que a economia brasileira está em recessão.
A boa notícia - relativa, porque, afinal, o numero é negativo - é que neste momento os economistas estão revendo para melhor seus números com as previsões para o ano de 2009. Quem achava que o número do PIB seria negativo, está diminuindo a queda. Quem apostava em crescimento zero, como a MB Associados, acha agora que zero pode ser o piso, aumentando a chance de um resultado positivo, ainda que bem baixo.
O que está segurando a economia é o mercado doméstico, já que a exportação caiu muito e o investimento também. Nada que elimine o fato de que o Brasil entrou em recessão.
A definição de manual é que recessão acontece após dois trimestres seguidos de encolhimento do PIB. Mas existem outros critérios. Esquecendo todas as medidas arbitradas por economistas, o fato é que a economia brasileira no primeiro trimestre do ano produziu menos; teve uma queda de 14% no investimento em relação ao começo do ano passado; importou e exportou 16% menos; as empresas deixaram parte de suas fábricas ociosas; arquivaram planos de investimento e de contratação; há temores de aumento do desemprego. Isso tudo mostra um quadro recessivo, seja qual for a convenção ou o termômetro.
Da perspectiva do governo, o que é importante é que as medidas que tomou para mitigar os efeitos da crise externa funcionaram, tanto que o resultado do PIB pegou os economistas, acostumados a fazer previsões, de surpresa, com uma realidade menos negativa.
A grande pergunta agora é: o que vai acontecer no segundo trimestre? Para o ministro Guido Mantega haverá recuperação, ainda que pequena. O trimestre, segundo algumas previsões, será positivo quando comparado ao primeiro trimestre do ano, mas negativo em relação ao mesmo período do ano passado. Já foram divulgados os dados da produção industrial de abril e o número foi fortemente negativo: -14,8%. As primeiras estimativas de maio indicam outro número com forte queda.
Para alguns economistas, pior do que o resultado de ontem é a história que os números contam por dentro. Eles mostram que o governo continua ampliando os gastos - nada mal se as despesas que aumentam não fossem principalmente de pessoal e de custeio - enquanto os investimentos despencam.
Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, acha que o importante é que a qualidade do desempenho da economia piorou, porque apesar de bem sucedida, a tentativa do governo de manter o consumo e o investimento "colapsou", e isso fez com que a taxa de investimento que havia subido em 2008 para 18%, voltasse a cair para a média de 2001 a 2007: 16%.
O Banco Fator lembra que a queda de 1,8% no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano anterior significa a primeira retração em bases anuais desde o quarto trimestre de 2001. Também quer dizer a queda mais forte, nessa mesma base de comparação, desde 1998. As reduções das importações e das exportações são as mais intensas desde o início da série histórica, em 1996.
De acordo com estimativa do economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio, e da Opus Gestão de Recursos, o resultado melhor que o esperado dificilmente fará com que a economia brasileira termine o ano no positivo. Depois de acumular queda de 4,4% nos dois últimos trimestres, o nível de atividade teria que crescer 1,7% em cada um dos próximos três trimestres para fechar o ano estável, ou seja, com crescimento zero. Olhando para a série histórica do IBGE, não há nenhum resultado tão bom quanto esse nos últimos dez anos, segundo José Márcio.
- Raras vezes o PIB brasileiro cresceu acima de 1,7%. Então é muito difícil que a economia termine o ano no positivo. O fundamental no comportamento da atividade será o mercado de trabalho. O que ainda está sustentando a economia é o consumo. Então se o mercado de trabalho piorar, o consumo também será atingido - afirmou Camargo.
Luis Otávio Leal, do banco ABC Brasil, ressalta que a queda do investimento também provoca uma redução do PIB potencial do país, ou seja, aquilo que a economia é capaz de crescer sem gerar inflação.
- O PIB potencial sairá desta crise caindo de 5% para 4%. Isso quer dizer que se a economia brasileira crescer acima dessa taxa, haverá pressões inflacionárias e o Banco Central será obrigado a subir juros para frear a atividade - explicou.
Não que os economistas estejam procurando o lado ruim da boa notícia, ou que o governo esteja comemorando a má notícia, mas o resumo do resultado é que o PIB do primeiro trimestre não foi tão ruim quanto os economistas haviam previsto, nem tão bom quanto avaliou o governo. Recessão é recessão, e isso não é bom.