O Estado de S. Paulo - 18/06/2009 |
O Brasil ama os Bric, os outros Bric preferem amar os parceiros do mundo rico. Essa é a maior diferença entre a concepção estratégica do governo brasileiro e as políticas seguidas pelas autoridades da Rússia, da Índia e da China. O governo russo espera entrar na Organização Mundial do Comércio (OMC) até o fim do ano, disse há duas semanas o vice-ministro russo de Relações Exteriores, Alexander Yakovenko. Isso dependerá do apoio das autoridades americanas e da União Europeia, mas o problema parece quase resolvido. O representante dos Estados Unidos para o comércio exterior, Ron Kirk, já mostrou otimismo quanto à conclusão do processo. Autoridades europeias também dão como praticamente certo o final feliz. As negociações haviam sido interrompidas em agosto de 2008, por causa da invasão da Geórgia. Mas era preciso, além disso, completar o lado econômico das negociações. Estados Unidos e União Europeia demoraram muito mais que o Brasil para concluir as conversações com a Rússia. A pauta de cobranças de americanos e europeus era muito mais ampla. Também por isso eles têm as maiores cotas de exportação de carnes para o mercado russo. O Brasil, bonzinho, não tem cotas e negociou apenas acordos sem grande significado comercial e de valor prático muito duvidoso - nos setores militar e de energia, por exemplo. Mas o capítulo das carnes é uma pequena parte da história: os mercados da Europa e dos Estados Unidos são muito mais importantes e o governo russo não parece tão fascinado quanto o brasileiro pelo desenvolvimento das trocas Sul-Sul. Até porque a Rússia não é considerada por seus governantes um país geopoliticamente "do Sul". Afinal, o país é o oitavo membro do G-8 e seus governantes partilham a mesa com os colegas dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, parece haver esquecido esse detalhe, na semana passada, quando anunciou a morte do G-8, poucos dias antes da reunião de cúpula dos Bric, na cidade russa de Ecaterimburgo. Índia e China são membros da OMC e também do G-20 comercial, organizado por iniciativa do Brasil, em 2003, para as negociações sobre agricultura na Rodada Doha. A aliança funcionou razoavelmente enquanto se tratou de cobrar do mundo rico a eliminação ou redução de barreiras ou de subsídios. Deixou de funcionar quando chegou a hora de oferecer contrapartidas. Indianos e chineses não têm interesse em participar de um mercado agrícola concorrencial, com facilidades de acesso para todos. O governo indiano empenhou-se com muito vigor na proposta de salvaguardas especiais para seus agricultores e assim contribuiu para dificultar a conclusão da Rodada. Outros "aliados estratégicos" também se afastaram do Brasil quando o fim das negociações parecia próximo. A Argentina, por exemplo, insistiu em manter barreiras de proteção à indústria bem maiores que aquelas consideradas aceitáveis pelos brasileiros. O governo brasileiro define como prioridades o fortalecimento do Mercosul e o comércio Sul-Sul. Os parceiros eleitos como estratégicos pela diplomacia brasileira operam com agendas diferentes. No caso do Mercosul, o maior sócio do Brasil tem como prioridade a proteção da própria indústria, seja qual for o custo para os vizinhos e para a integração comercial do bloco. No caso de outros emergentes, como a China, a Índia e a Rússia, o comércio com os principais mercados do mundo rico é muito mais importante que o intercâmbio com os parceiros do Sul. Nenhum deles tem no topo uma reforma da geografia econômica. Todos pretendem maior influência nas decisões de alcance mundial, mas em nome de interesses nacionais, e não de uma ideologia terceiro-mundista. Se o mercado latino-americano é hoje especialmente importante para a China, é apenas porque a demanda encolheu no mundo rico e é preciso buscar novos compradores. Nesse esforço, a indústria chinesa tem tomado espaço da indústria brasileira no mercado argentino, enquanto os argentinos impõem barreiras a produtos do Brasil. A reunião de cúpula dos Bric terminou com declarações vagas e genéricas sobre a reforma financeira internacional e sobre a liberalização do comércio. Não podia ser muito diferente, por falta de uma convergência maior de interesses. O Brasil continuará apostando na formação de um grupo. Rússia, China e Índia usarão o Bric segundo seus interesses, guiadas por uma visão adulta da estratégia internacional. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, junho 18, 2009
Brasil, o bonzinho dos Bric Rolf Kuntz
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