Clicar para original
A Dilma Rousseff dona-de-casa talvez decida sem hesitações quando se reúne com a cozinheira para combinar o cardápio da semana. A Dilma Rousseff ministra talvez esbanje agilidade na hora de designar funcionários da Casa Civil para serviços complicados ─ a montagem de um dossiê, por exemplo. A Dilma Rousseff mãe do PAC ameaça implodir a imagem de rápida no gatilho que amigos e companheiros tentam vender desde janeiro de 2003. Dois anos depois da gravidez anunciada pelo presidente Lula, permaneciam no ventre 97% das 10.914 obras agrupadas no Plano de Aceleração do Crescimento. Só 319 filhotes choravam no berço ou já engatinhavam.
Se é que será consumado, trata-se do parto mais demorado de todos os tempos: pelo balanço divulgado no fim de semana pelo jornal O Estado de S. Paulo, é mais fácil encontrar um entrevistado por institutos de pesquisa que um trabalhador dando duro num canteiro de obras do PAC. Dos R$ 646 bilhões separados para antecipar-se o futuro do colosso tropical, só R$ 47,7 bilhões foram liberados. Essa é a soma que tirou do papel os esquálidos 3%.
Em dezembro, 23% das obras estavam "em andamento". O restante continuava na linha imprecisa que separa a ficção da realidade. Ali se aglomeram boas intenções, promessas inviáveis e fantasias caça-votos ─ além de urgências sempre empurradas para o fim da fila ou irresponsavelmente omitidas. Nessa zona de sombra descansam, por exemplo, os aeroportos concebidos durante o apagão, o trem-bala entre o Rio e São Paulo, os presídios de segurança máxima que ficariam prontos até 2006, a ressurreição das ferrovias assassinadas, a reconstrução das malha rodoviária federal devastada pela inépcia ou a reinvenção do transporte fluvial.
Abstraídos os projetos patrocinados por empresas estatais, comprovou o Estadão, o que resta é quase nada. Tanto basta para que siga em frente, ao som da discurseira do padrinho, a candidatura da mãe do que não há.