Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 10, 2009

Você e a crise em 2009

O que fazer para não
ser o pato em 2009

Saiba como proteger o seu dinheiro e não
ser abatido pelo tiroteio da crise financeira


Cláudio Gradilone e Juliana Garzon

Up Ilustração


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abaixo

O tolo e seu dinheiro
Lição de investimento
Finanças a dois

No segundo semestre de 2008, uma pedra gigantesca desabou sobre as águas plácidas da economia mundial. As ondas que partiram do mercado financeiro, epicentro do desastre, devem se espraiar em círculos cada vez mais amplos em 2009. As previsões de crescimento para o Brasil, no ano que vem, falam em 2,4%. Isso é menos da metade do que se verificou em 2008. Nesse cenário, o indivíduo que descuidar de suas finanças poderá ser abatido como o proverbial patinho na lagoa. Quem agir poderá não apenas preservar o seu dinheiro, mas também multiplicá-lo. Nas próximas páginas, o leitor encontra um guia para atravessar 2009 em segurança do ponto de vista financeiro.

A primeira reportagem enfoca os dez tipos de investimento mais comuns, analisa o impacto que a crise pode ter sobre eles e indica como escapar das armadilhas. "O tolo e seu dinheiro" aborda o "inimigo interno" de todo investidor – as inclinações naturais da espécie humana, exploradas por duas ciências jovens, a economia comportamental e a neuroeconomia, que nos levam a tomar decisões desastradas ao lidar com dinheiro. A guerra em torno das finanças domésticas, que leva a quatro em cada dez divórcios segundo uma nova pesquisa, e a necessidade de cuidar da "alfabetização financeira", seja com leituras, seja nos cerca de 500 cursos voltados a essa finalidade no Brasil, completam o quadro.

Haja ou não crise, alguns fundamentos básicos da arte de investir não mudam. Um deles é a necessidade de diversificar as aplicações para reduzir os riscos. Nossas avós diziam para não colocar todos os ovos na mesma cesta – ditado que foi confirmado por vários prêmios Nobel de Economia. Investir, além disso, sempre será parecido com fazer uma viagem. Nada vai dar certo se o investidor não tiver um objetivo claro. Assim como o viajante, ele pode escolher entre uma jornada rápida e arriscada e outra em que se contempla a paisagem, mas que demora mais tempo. Há, finalmente, recomendações como a de Warren Buffett, um dos três homens mais ricos do mundo: não invista em nada que você ache incompreensível. Investir é como escolher uma roupa. Além de olhar se combina, o investidor tem de se sentir confortável com o que está usando.

Nos últimos dez anos, uma mudança cultural considerável já se deu no Brasil. Há mais informação circulando, e mais gente alerta para a necessidade de planejar sua vida financeira – pois isso, no fim das contas, se traduz em capacidade para realizar as próprias aspirações. É o que se vê com clareza na bolsa de valores. Atualmente, mais de meio milhão de brasileiros já se habilitaram a comprar e vender ações diretamente na Bovespa. As primeiras ondas da crise iniciada em 2008 machucaram esse grupo de pessoas: no segundo semestre, o índice Bovespa despencou quase 50%. Diante de tamanho prejuízo, seria de esperar que os pequenos investidores bateriam em retirada. Não foi o que ocorreu. Encerrado o ano, a bolsa contava com 80 000 novos investidores. É sinal de que surgiu uma nova mentalidade, e de que o poupador brasileiro, especialmente o mais jovem, sabe que um pouco de ousadia e diversificação das aplicações é necessário para alcançar uma rentabilidade maior. Junte-se a ele.

10 decisões financeiras

Ilustrações Stefan

1 - POUPANÇA
É a porta de entrada para o mundo dos investimentos. Aplicação segura, isenta do imposto de renda e de taxas de administração. Mas o rendimento é pequeno.
O cenário atual: em 2008, a poupança bateu a inflação por muito pouco: rendeu 8%, contra 6% do IPCA. O ganho real, portanto, é ínfimo.
Não seja o pato: com aplicações a partir de 1 000 reais já é possível encontrar fundos de investimento tão seguros quanto a poupança – e mais rentáveis. Diz Marcelo Xandó, diretor da Verax Serviços Financeiros: "A caderneta deve ser usada para acumular um volume inicial de recursos, que depois devem ser distribuídos em outras aplicações".

2 - FUNDOS DI E DE RENDA FIXA
Aplicações lastreadas por títulos públicos e privados, são um porto seguro em tempos de crise. O rendimento fica próximo ao da taxa básica de juros definida pelo Banco Central, descontados impostos e taxa de administração.
Cenário atual: no fim de 2008, o BC deu sinais de que vai reduzir a taxa de juros, atualmente em 13,75% ao ano, na próxima reunião de seu Comitê de Política Monetária, em 21 de janeiro. É uma medida para estimular a economia. Se a tendência de redução se mantiver ao longo de 2009, a rentabilidade dos fundos DI e de Renda Fixa poderá ser menor que os 12% alcançados em 2008 – mas ainda bastante elevada em termos comparativos: basta lembrar que países como Estados Unidos e Inglaterra derrubaram seus juros para perto do zero.
Não seja o pato: preste atenção às taxas de administração cobradas pelos bancos: elas podem devorar boa parte do rendimento da sua aplicação. Fuja de fundos DI ou de renda fixa que tenham taxas de administração acima de 2% ao ano.

3 - CDBs
São os certificados de depósito bancário, um título emitido pelas instituições financeiras para levantar capital.
Cenário atual: com o enxugamento do crédito externo causado pela crise global, os bancos passaram a pagar juros mais elevados na tentativa de atrair investidores para os seus papéis. Essa tendência deverá continuar em 2009, tornando os CDBs uma das aplicações mais atraentes do momento.
Não seja o pato: o maior risco de aplicar em CDBs é a quebra da instituição que os emitiu. O setor bancário brasileiro tem solidez para enfrentar a crise – mas não custa se precaver. Privilegie os CDBs de grandes bancos, públicos ou privados. Se aplicar volumes superiores a 60 000 reais, que são garantidos, pense na possibilidade de distribuir a aplicação em mais de uma instituição financeira. rfaa de administraç

4 - AÇÕES
Cada ação é uma parcela de participação numa empresa. O preço dos papéis reflete a expectativa de lucros futuros daquele negócio
Cenário atual: Depois de cinco anos seguidos de alta e euforia, a Bovespa teve um 2008 trágico: perdeu quase metade de seu valor. No curto prazo, a alta volatilidade torna a aplicação arriscada. Mas a Bovespa dá sinais de recuperação e acumula alta de 11% neste ano. "As ações apresentam boas oportunidades de investimentos, especialmente no segundo semestre, com a perspectiva de retomada na economia mundial", diz Julio Martins, diretor da Prosper Gestão de Recursos. Lembre-se de que, apesar da perda do ano passado, a Bovespa acumula alta de 280% desde o início de 2003
Não seja o pato: A chave é diversificar. Mesmo os investidores mais experientes não aplicam todos os seus recursos em ações, e nunca nos papéis de uma única empresa. Evite comprar papéis de empresas novatas na bolsa (elas até podem se provar lucrativas no futuro, mas tendem a ser apostas arriscadas). Nunca haja por impulso. Não se deixe levar pelo comportamento de manada, que conduz ao mais grave dos erros: comprar ações na euforia da alta para vendê-las (com prejuízo) no pânico da baixa

5 - FUNDOS DE AÇÕES
Como diz o nome, eles têm a maior parte de seus recursos aplicada em ações. São ideais para quem quer colocar ao menos parte do seu dinheiro na bolsa, sem a necessidade de negociar diretamente os papéis
Cenário atual: Esses fundos acompanham a oscilação vertiginosa das ações, o que os torna arriscadíssimos para quem precisa do dinheiro no curto prazo. Mas há boas chances de eles voltarem a ser um dos investimentos mais rentáveis em 2009
Não seja o pato: Antes de escolher um fundo, veja em quais papéis ele aplica os recursos. Privilegie aqueles que tenham papéis de empresas sólidas em sua carteira. Mantenha o sangue-frio em caso de desvalorização. Quando a maré virar, o capital poderá ser recuperado. Não se esqueça de que perdas e ganhos só ocorrem de fato quando o investidor decide sacar os recursos

6 - FUNDOS MULTIMERCADOS
Suas carteiras contêm vários tipos de papéis. Os conservadores concentram suas apostas em títulos públicos e ações. Mas existem os mais agressivos e até os ultra-arriscados — que não se detêm sequer diante dos famigerados "derivativos tóxicos"
Cenário atual: Com valorização média de 5%, tiveram em 2008 resultado menos desastroso que o dos fundos de ações. Mas perderam da inflação
Não seja o pato: Mais uma vez, preste atenção em que tipo de papéis o fundo aplica os recursos. Se quiser evitar surpresas desagradáveis, opte por aqueles que invistam apenas em títulos públicos e em ações de grandes empresas. Mais vale ser um conservador com dinheiro do que um especulador falido

7 - DÓLAR
A divisa dos Estados Unidos é a moeda mais negociada e mais aceita no mundo, sendo um refúgio para os investidores em momentos de turbulência
Cenário atual: Depois de cinco anos seguidos de queda, o dólar voltou a se valorizar em 2008. Muitos investidores estrangeiros tiraram divisas do Brasil para cobrir obrigações lá fora. Se o dinheiro desses investidores voltar, a cotação da moeda deverá recuar novamente. É a aposta dos especialistas. Diz Silvio Campos Neto, economista do banco Schabin: "O movimento global de valorização do dólar deverá se reverter".
Não seja o pato: Tratar o dólar como um investimento é algo altamente arriscado. A cotação oscila muito, e rapidamente. Nenhum economista consegue prever com exatidão a cotação futura. Não especule. Isso é coisa para profissionais. Caso tenha alguma viagem programada, compre dólares aos poucos, aproveitando os movimentos de baixa

8 - PREVIDÊNCIA PRIVADA
São fundos nos quais se deposita todo mês uma parcela do salário, para garantir a renda depois da aposentadoria
Cenário atual: Há fundos compostos exclusivamente por títulos públicos e outros mais agressivos, que aplicam até 30% de seus recursos em ações. Os primeiros tiveram alta de 11% em 2008. Os segundos, queda de 10%
Não seja o pato: Tenha em mente o seu horizonte de aplicação. Quem tem mais de 50 anos e está prestes a se aposentar deve optar por fundos conservadores, não sujeitos à volatilidade das ações. Os poupadores mais jovens podem ousar e contratar carteiras carregadas de ações. "Aplicações mais arriscadas ficam bem mais interessantes quando ainda falta muito tempo para o investidor se aposentar", afirma o consultor Caio Torralvo.

9 - IMÓVEIS
A compra da casa própria é de longe a decisão financeira mais importante na vida da maioria das famílias. Costuma representar a fatia mais encorpada do seu patrimônio
Cenário atual: Com a crise, caiu o ritmo de vendas de casas e apartamentos novos. Há uma boa quantidade de apartamentos e casas à venda. O comprador ganhou poder de barganha para obter um desconto. Além disso, há bancos que não subiram os juros do financiamento imobiliário.
Não seja o pato: Pesquise, reflita e pechinche. Analise sua condição financeira a fundo e não assuma uma dívida que comprometa mais de 30% de seu salário. Lembre-se de que se trata de um financiamento longo, em geral superior a dez anos

10 - CARROS
O carro novo é um objeto de desejo, e o principal bem de consumo durável de uma família
Cenário atual: Os estoques das montadoras estão elevados, e o governo diminuiu os impostos. O resultado é que os carros novos ficaram mais baratos – especialmente para quem não se importar em adquirir um modelo com ano de fabricação de 2008. Mas os financiamentos ficaram mais caros e mais difíceis. Além disso, os preços dos usados, que normalmente servem de entrada na aquisição de um veículo novo, caíram bastante, o que deixou a troca mais complicada
Não seja o pato: É preciso pesquisar, e muito, em diversas concessionárias – tanto para obter o menor preço possível pelo novo a ser comprado como para conseguir a melhor cotação para o seu usado. Quem for financiar precisa comparar minuciosamente as taxas de juros cobradas. Elas variam bastante entre os bancos. Nem sempre a financeira da concessionária oferece as melhores condições

==O tolo e seu dinheiro

Ao explicar como as emoções distorcem nossos cálculos
e percepções, a "economia comportamental" está fazendo
uma revolução na teoria e na prática dos investimentos


Juliana Garzon e Jerônimo Teixeira

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Lição de investimento
Finanças a dois

Em muitas das teorias econômicas fundamentais as pessoas de carne e osso, falíveis e volúveis, não existem. Essas teorias só funcionam com o "homem estatístico", o somatório de agentes econômicos vistos como máquinas de calcular que administram com rigor seus recursos limitados. O pai da economia moderna, o escocês Adam Smith (1723-1790), enxergava um mundo ordenado em que cada indivíduo agia sempre no interesse pessoal e da família e, assim, acabava contribuindo para a prosperidade geral da nação. Disse Smith: "Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover o próprio autointeresse". Talvez a maioria das pessoas do círculo de conhecidos de Smith na Edimburgo protestante do século XVIII fossem mesmo seres racionais, donos do próprio destino e empenhados na promoção do seu autointeresse econômico. Mas é mais comum encontrar gente que gasta mais do que ganha e compra aquilo de que não precisa.

Nas últimas quatro décadas, os teóricos da economia têm tentado contemplar em suas análises pessoas de carne, osso e sangue quente. Essa escola, a "economia comportamental", nascida na década de 70 com o trabalho dos psicólogos Amos Tversky e Daniel Kahneman, da Universidade Hebraica de Jerusalém, incorporou as inconstâncias humanas aos seus modelos de previsão. Tversky e Kahneman focaram seus estudos sobre o comportamento das pessoas em situações de incerteza e de alta carga emotiva, consideradas por eles, com acerto, como predominantes nas grandes decisões econômicas – seja a compra do primeiro apartamento ou a venda de ações nos momentos de queda das bolsas.

A economia comportamental arejou o pensamento econômico dando lugar a modelos mais sensíveis às vicissitudes da psicologia humana, com suas falhas de cálculo e percepções enganosas. Talvez seu maior mérito seja entender que os criteriosos padeiros e cervejeiros de Adam Smith existem, são numerosos, mas convivem com multidões para quem a racionalidade financeira no dia-a-dia é tão estranha quanto o popular esporte escocês de arremesso de troncos. Kahneman ganhou o Prêmio Nobel de economia em 2002, tornando-se o único psicólogo a conseguir esse feito. No mundo de Kahneman os padeiros e cervejeiros nem sempre tomam decisões sóbrias e corretas. Eles agem de acordo com os misteriosos mecanismos mentais de aceitação e rejeição do risco. Uma mesma pessoa que só bebe água mineral e morre de medo de bactérias pode ser vista fazendo bungee jumping, esporte em que o praticante se joga de uma ponte sobre um abismo amarrado por uma corda elástica. No mundo econômico, atitudes incoerentes como essa são quase a regra.

Aplicadas ao estudo do comportamento dos investidores nas bolsas, as teses de Kahneman e seus colegas mostram que a convivência de atitudes racionais e irracionais é uma força considerável. Entre o início de 2003 e o máximo de alta em maio de 2008, o índice Bovespa, da Bolsa de Valores de São Paulo, valorizou-se 350%. Nesse período, a maioria dos investidores enxergou todos os acontecimentos, os bons e os ruins, com a lente da euforia. Passaram despercebidos os sinais precoces da crise que viria a se abater sobre a economia mundial com repercussões fortes no Brasil no fim do ano passado. Mesmo os investidores profissionais não estão imunes a ilusões. A mais comum é acreditar que projeções baseadas em dados recentes podem ser tomadas como tendências duradouras. O americano Robert Shiller, da Universidade Yale, ouviu investidores que acabavam de perder um naco considerável do valor de suas ações na famosa "Segunda-Feira Negra", como ficou conhecida a queda da Bolsa de Nova York em 19 de outubro de 1987. As ações perderam 22% de seu valor em um único dia. Shiller quis saber por que os investidores não caíram fora antes do desastre. A resposta que o professor de Yale ouviu foi que os investidores se achavam tecnicamente aparelhados para "saber" com certeza quando as ações cairiam. Que técnica era essa? Oitenta e oito porcento disseram que se tratava de feeling, palavra que pode ser traduzida como intuição.

No fundo, os investidores deixaram-se cegar pela confiança exagerada em suas habilidades confirmadas pelos excelentes retornos obtidos antes da Segunda-Feira Negra. Diz Plínio Chap Chap, professor de finanças corporativas da escola de negócios Brazilian Business School (BBS): "Bastam alguns ganhos para que as pessoas se julguem mais capazes que as outras para escolher ações". À confiança sem base técnica se junta, em especial nos mercados ainda imaturos como o brasileiro, a busca de conselhos de investimento junto a pessoas despreparadas. Diz José Fajardo, professor de finanças do Ibmec-Rio que estuda a interação social dos investidores brasileiros: "Os principais assessores do pequeno investidor brasileiro são o amigo, o colega de trabalho e o parente".

Nem todos os enganos são originários da autoconfiança. O investidor também pode ser atrapalhado por uma emoção de natureza bem diversa: a angústia. O investidor novato, sobretudo, tende a entrar no mercado com a sensação de que está atrasado – e de que seus amigos ganhavam fortunas enquanto ele aplicava nos fundos conservadores de seu banco. Essa sensação conduz a escolhas precipitadas. Em vez de traçar uma estratégia sólida, o novato dá grandes tacadas de uma vez só, para evitar a tensão de analisar e optar – ou não – por determinada ação. A impaciência custa caro. "Ficamos vulneráveis porque somos intolerantes às frustrações. Essa intolerância nos faz buscar caminhos mais fáceis e rápidos", diz a psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira, representante no Brasil da Associação Internacional de Pesquisa em Psicologia Econômica. As frustrações se tornam ainda mais agudas quando as cotações caem. O investidor que tomou sua decisão de compra sem base sofre por não saber se deve vender as ações que estão patinando e estancar as perdas ou apostar na recuperação dos papéis e mantê-los em carteira.

Uma recomendação básica é nunca tomar decisões em momentos de euforia ou de tristeza profunda – essas emoções passageiras comprometem a avaliação a longo prazo. Em tempos de vacas magras, o melhor é respirar fundo e estudar o mercado. Não se deve, porém, levar a cautela ao ponto da paralisia. A tendência de projetar a conjuntura recente para o futuro não é equivocada apenas nos momentos de alta. O mercado vive hoje um momento de pânico, que cria distorções de percepção poderosas. Mas o investidor que der um passo atrás para observar o cenário com emoções menos exacerbadas poderá ter uma visão mais realista da economia brasileira e de suas perspectivas: uma boa oportunidade de investimentos tanto para os padeiros e cervejeiros de Adam Smith quanto para os bungee jumpers de Kahneman.

O nascimento da neuroeconomia

Montagem sobre fotos de Photodisc/Bettmann/Corbis/Latinstock/Istock

AUTOINTERESSE
O mundo de Adam Smith tinha padeiros, açougueiros e cervejeiros racionais e sóbrios

Se a economia comportamental introduziu o estudo mais detalhado das emoções na análise financeira, era apenas natural que alguns pesquisadores dessem o passo seguinte para investigar muito literalmente como funciona a cabeça do investidor. A neuroeconomia combina as mais recentes descobertas da neurociência – em particular, técnicas de mapeamento cerebral como a ressonância magnética funcional (fMRI), aperfeiçoada nos anos 90 – com os conceitos da psicologia financeira e da economia. É um campo de estudos ainda recente – conta cerca de uma década –, mas já acena com um entendimento fascinante da biologia do investidor.

A neurociência tem avançado muito com o estudo de pacientes que sofreram alguma lesão cerebral, e o mesmo se dá com a neuroeconomia. Um experimento feito com pessoas que sofreram danos no córtex pré-frontal – área do cérebro responsável por grande parte do raciocínio – confirmou a incapacidade delas para o planejamento econômico. Esses pacientes assistiram, na televisão, a uma série de comentários financeiros feitos por especialistas e tiveram a oportunidade de comparar essas previsões com os resultados efetivos do mercado. Mas, ao ser questionados sobre qual seria o melhor comentarista, eles recorreram a critérios aleatórios – um dos pacientes optou pelo comentarista que tinha atrás de si um fundo verde, pois, afinal, era primavera.

Embora o experimento mostre a importância do pensamento racional, será um equívoco concluir que a mente do investidor é pura objetividade. Exames de ressonância magnética realizados enquanto o paciente participa de um jogo eletrônico de apostas financeiras mostram atividade no núcleo acumbens, uma parte do cérebro vinculada ao sentimento que as pessoas têm ao ganhar uma recompensa (e é importante inclusive no sexo). O mais curioso é que a atividade do núcleo acumbens é mais intensa antes da confirmação de um ganho financeiro no jogo. Esse é um dado importante da psicologia do investidor: a expectativa por um bom resultado acaba se revelando mais excitante que o resultado em si.

A neuroeconomia tem encontrado seus críticos. Em um texto duro publicado em 2005, o economista Ariel Rubinstein, das universidades de Nova York e Tel-Aviv, acusou os estudos com ressonância magnética de ser vagos e inconclusivos. De modo geral, porém, a neuroeconomia encontra-se em um estágio semelhante ao da neurociência em geral: conheceu avanços imensos nos últimos anos – e está apenas começando.

Em busca de palpites

O engenheiro catarinense Alfio Kalil, 29 anos, desenvolveu um método próprio para tomar decisões em relação às ações em que vai investir: "Sempre consulto antes três amigos ou familiares". Entre seus conselheiros, há pessoas que trabalham no mercado financeiro e outras que, como ele, só gostam de palpitar. Há dois anos investindo em ações, Kalil se tornou leitor de sites e revistas especializadas, de onde também retira informações para amparar suas escolhas. Jura que jamais saiu no prejuízo. Ele reconhece, no entanto, suas próprias limitações. "Sou apenas mais um amador na bolsa."

==Lição de investimento

Começam a proliferar no país cursos que ensinam
as melhores formas de fazer o dinheiro render.
Com a crise, as salas de aula ficaram cheias


Marcos Todeschini

Egberto Nogueira

ECONOMÊS NA CARTILHA Escolas passaram a oferecer aulas de educação financeira: os alunos aprendem a economizar e a investir dinheiro de mentirinha



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a seguir

Finanças a dois

As aulas de educação financeira, novidade em escolas particulares brasileiras, tornaram-se fonte de diversão para crianças como Gabriel Chofi e seus colegas. Aos 8 anos, eles começam a ser apresentados ao básico do mercado financeiro. Brincam de apostar dinheiro (de mentira) nos mais variados fundos e, num linguajar simples, recebem explicações sobre a crise financeira mundial. Diz Gabriel, em coro com os demais: "Agora consigo entender um pouco da conversa dos adultos". Foi a pedido dos próprios pais que escolas como a dele decidiram, de três anos para cá, incluir a matéria no currículo. A preocupação número 1 era que desenvolvessem certo senso de responsabilidade em relação ao dinheiro. A outra dizia respeito à necessidade de "alfabetização financeira" num momento histórico em que o mercado de investimentos brasileiro se consolida. Necessidade, aliás, que adultos também sentem, e procuram preencher com cursos destinados a formar investidores – que nos últimos meses de 2008, com a crise global instalada, viram sua procura subir 20%. "Diante da turbulência, surgem as dúvidas. Quem já tinha dinheiro investido quer saber o que fazer. Quem estava fora do mercado se pergunta se é hora de comprar ações, aproveitando a baixa da bolsa", diz o economista José Alberto Netto Filho, professor de educação financeira da BM&FBovespa.

São ao todo 500 cursos de educação financeira no país. Eles acontecem em escolas, faculdades, corretoras e na própria Bovespa. Há versões enxutas, nas quais os alunos procuram absorver em um dia os conceitos do mercado financeiro, ou cursos de uma semana. A densidade da informação também varia. Para os iniciantes, lições elementares: como cortar gastos no dia-a-dia, o que é a bolsa de valores, como funciona a transação dos papéis. As discussões vão adiante para alunos de conhecimento mais avançado. Os professores ensinam, por exemplo, o que é uma carteira de ações conservadora e opinam sobre o panorama atual de diferentes setores e empresas. Cada aula custa, em média, 100 reais. Na BM&FBovespa, elas são gratuitas. O objetivo é atrair novos investidores. "Com o curso, eles se sentem mais seguros para apostar no pregão", diz Paulo Oliveira, diretor da instituição. Para a corretora XP, que cobra pelas aulas, a decisão de oferecer educação financeira, em 2004, também se revelou acertada. Diz André Albo, um dos donos: "Mais de 60% dos investidores da corretora vêm dos cursos".

Lailson Santos
RICAS ANTES DOS 40 As amigas Daniela Sávio
e Talita Ferreira, de 19 anos, são novatas na bolsa: querem chegar aos 40 sem se preocupar com dinheiro

Ocorre hoje no Brasil o mesmo que se passou nos Estados Unidos três décadas atrás. A proliferação dos cursos sobre finanças tem, afinal, relação direta com a consolidação da própria bolsa e com a estabilidade da economia depois de um período inflacionário. Até meados dos anos 90, a poupança, que empregava índices de correção monetária, rendia três vezes mais que a bolsa de valores. Desde então, a situação se inverteu. Mesmo com a crise, que derrubou em mais de 40% o Índice Bovespa em 2008, a bolsa foi a melhor opção de investimento nos últimos anos: uma carteira composta exclusivamente de papéis das empresas mais sólidas da bolsa, tais como Petrobras e Vale, rendeu 233% em seis anos – três vezes mais que a poupança. O surgimento do sistema de home broker, que permite investir em ações pela internet, foi decisivo para que, enfim, as pessoas físicas ingressassem maciçamente no pregão. O número aumentou 20% em 2008, chegando a 550 000 pessoas. Cerca de 10% delas frequentaram pelo menos um curso de finanças.

Quem mais se matricula são jovens entre 20 e 35 anos, 70% deles homens, a metade com algum dinheiro já acumulado – mas sem experiência na bolsa. Os dados pertencem a um levantamento nacional da corretora XP. Um dos tipos mais comuns em sala de aula é o recém-formado que sonha abrir o próprio negócio. Em 1980, eram 15% dos jovens brasileiros. Hoje, eles representam 35%. É gente como o estudante de engenharia Felipe Mograbi, 26 anos, que, em 2007, começou a apostar na bolsa. Não tomou a decisão sem antes procurar uma aula sobre o assunto. Felipe faz uma boa síntese do que leva jovens empreendedores ao mercado de ações: "Minha tentativa é acumular dinheiro mais rápido e poder abrir uma empresa de semicondutores". Com a crise, ele perdeu 30% do que havia colocado na bolsa, mas tenta aplicar aquilo que aprendeu no curso de finanças. "Mesmo que às vezes bata a ansiedade, estou mantendo o sangue-frio. Não vou tirar o dinheiro que investi."

Outro impulso para os cursos de finanças vem de uma mudança de hábito dos jovens brasileiros: eles estão mais econômicos – e com mais dinheiro para investir. O instituto de pesquisas Quorum, que fez um levantamento sobre o assunto, descobriu que, entre todas as faixas etárias, é na juventude que mais gente no Brasil costuma poupar. Quase 40% das pessoas de 18 a 25 anos têm hoje alguma economia. É o dobro do restante da população. O número surpreende. Mesmo que os jovens muitas vezes ainda vivam com os pais, e tenham menos contas para pagar, no começo da vida profissional os ganhos não são polpudos. Economizar não é tão fácil. Mas gente como a estudante de administração de empresas Talita Ferreira, 19 anos, tem conseguido. Com os 1 000 reais que juntou no último ano de trabalho, já mira a bolsa. Foi depois de um curso básico de educação financeira na BM&FBovespa que a moça decidiu aventurar-se pela primeira vez no pregão. Quer aproveitar o momento em que o preço das ações de grandes empresas está mais baixo. Talita resume o pensamento de outros novatos que só ingressaram na bolsa depois de frequentar um curso. Estão cientes dos riscos, mas também cheios de esperança. "Quem sabe chego aos 40 numa situação financeira confortável."

Up Ilustração

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Nervoso e vulnerável

Lailson Santos


O sobe-e-desce da bolsa mexe com os nervos do publicitário paulista Fabio Aubin, 29 anos. Quando bate a ansiedade, ele começa a comprar e vender ações freneticamente. Participante assíduo de um fórum de discussões sobre finanças na internet, Fabio costuma investir em ações nas quais os conhecidos apostam. "Caso contrário, fico consumido com a sensação de estar perdendo uma grande oportunidade de ganhar dinheiro", diz. Meses atrás, seus colegas de site diziam tratar-se de um bom momento para investir em ações da Telebrás e, num efeito dominó, todos eles colocaram algum dinheiro nisso, inclusive o ansioso Fabio. O preço das ações, de fato, subiu, mas logo despencou. E o publicitário até hoje não se recuperou do prejuízo. "Na bolsa, o mais difícil é manter o sangue-frio."

As emoções do capitalista

Ilustração Stefan


Embora sejam instrumentos fundamentais na tomada de decisões, as emoções também podem distorcer a capacidade de avaliação de quem busca oportunidades na bolsa. Cada investidor deve encontrar seus próprios meios de evitar essas armadilhas, de acordo com sua personalidade. Mas algumas dicas gerais dos especialistas são sempre úteis

Arrogância
O ERRO Depois de ter obtido ganhos na bolsa, o investidor se torna confiante demais nas próprias previsões – e entra em uma "bolha" do mercado
AS RAZÕES Uma história de sucesso no mercado pode criar o que os psicólogos chamam de "ilusão de controle" – a falsa ideia de que a realidade obedece às previsões que você faz sobre ela
O REMÉDIO A autoconfiança é importante, mas é necessário discipliná-la. Manter um diário de investimentos pode ser uma maneira de ganhar uma consciência mais objetiva do mercado

Tristeza
O ERRO Deprimido, o investidor vende antes da alta e compra ações ruins por preços elevados
AS RAZÕES Pessoas tristes são presas da necessidade de mudanças drásticas de situação. São, portanto, mais propensas a fechar negócios impensados
O REMÉDIO Nunca tome decisões financeiras quando estiver triste ou deprimido. Em casos de depressão continuada, busque ajuda profissional de um psiquiatra

Empolgação
O ERRO O investidor confia em uma dica "quente" de um primo ou de um site na internet - e entra em uma roubada
AS RAZÕES A promessa de ganhos fáceis e rápidos ativa o chamado "mecanismo da recompensa" no cérebro - que muitas vezes contorna as decisões mais racionais do córtex pré-frontal
O REMÉDIO Nunca invista apenas por impulso ou entusiasmo. Às vezes, basta contar mentalmente até 10 para "desativar" o mecanismo de recompensa

Medo
O ERRO A demora na tomada de decisões acaba levando o investidor a comprar uma ação quando ela já está no pico
AS RAZÕES A ansiedade faz o investidor buscar confirmação para suas apostas. E o medo leva a uma percepção exagerada dos riscos do mercado
O REMÉDIO O melhor modo de superar o medo é tomar consciência dele. Alguns investidores usam "escalas de sentimento" - pesquisas que buscam aferir o nível de ansiedade no mercado. Avaliar o medo coletivo é um bom meio de superar o medo individual

Orgulho
O ERRO A ação está em queda há tempos, mas o investidor teima em segurá-la, na esperança de que ela volte a subir
AS RAZÕES Estudiosos da psicologia financeira atribuem esse equívoco ao medo do arrependimento. Vender uma ação é admitir um equívoco – e muitas vezes é mais fácil ater-se ao erro do que admiti-lo
O REMÉDIO Estabeleça um limite para suas perdas e seja rígido na sua aplicação: venda assim que atingi-lo

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Finanças a dois

Brigas por dinheiro motivam quatro em cada dez divórcios. Planejamento e diálogo podem evitar o final infeliz


Marcos Todeschini

Lailson Santos

RINDO À TOA
Depois de muitas brigas, Talita e Marcos
se entenderam em relação aos gastos



Dinheiro costuma ser uma grande fonte de conflito entre casais. A situação piora quando chegam ao altar dois tipos antagônicos – como uma noiva perdulária e um sujeito espartano nas finanças. Nesse gênero tão comum de união, desavenças sobre o rumo dos gastos invariavelmente aparecem. Em casos extremos, elas levam à separação. Uma pesquisa recente deu os números. Depois de ouvir 1 500 casais recém-divorciados, a conclusão é que 40% deles se referem ao dinheiro como o principal motivo das brigas que levaram àquele desfecho. O levantamento, feito nos Estados Unidos pelo instituto Gallup, ajuda a dimensionar o problema – e lança luz ainda sobre sua principal causa. A maioria dos divorciados jamais havia feito alguma espécie de planejamento financeiro em comum, tampouco tratado do tema em casa. O papo só vinha à tona na hora de pagar as contas, muitas vezes em discussões acaloradas. O artista Marcos Casuo, 35 anos, ex-integrante do Cirque du Soleil, já teve várias dessas brigas com a maquiadora Talita Makimoto, com quem é casado há três. O casal conseguiu, no entanto, alcançar certo equilíbrio. "Talita já foi mais irracional com dinheiro. Vivia passando do limite no cartão de crédito. Hoje é perita em fazer compras de bom custo-benefício", conta Casuo.

Nem sempre os casais conseguem a almejada harmonia financeira sem ajuda externa. É quando surge em cena um novo tipo de profissional: o consultor financeiro pessoal, ou CFP. A princípio, ele é contratado pelos casais para organizar contas e planejar investimentos. Na prática, o que mais faz é apaziguar ânimos e mediar conflitos. "Meu papel é o de um economista, mas acabo funcionando também como uma espécie de terapeuta", diz o CFP Marcos Crivelaro. Ele e outros com a mesma especialidade conduzem o problema de forma parecida. Começam recomendando o básico: que o casal converse sobre dinheiro. Algo que, segundo a pesquisa do instituto Gallup, é "raríssimo" em 60% dos matrimônios. "O maior problema no meu caso foi não ter conseguido contar à minha mulher que não estava pagando nossas dívidas em dia", diz o artista plástico Fabiano Cintra. O casamento se desfez depois de sete anos, quando a educadora Valéria de Almeida descobriu a verdade. "Perdi a confiança nele." Recentemente, reataram o namoro. E, pela primeira vez, sentaram-se à mesa para falar sobre finanças.

Manter projetos de longo prazo a dois também ajuda a explicar a harmonia alcançada nos casamentos em relação a dinheiro. Com base no que observou ao prestar consultoria financeira para centenas de casais, o economista Fabiano Calil resume: "Só há paz em relação a dinheiro quando as duas partes chegam a um consenso mínimo sobre o que esperam do futuro e fazem um esforço conjunto para atingir tais metas". Nesse sentido, o casal de médicos Wilson Aguiar, 35 anos, e Rita Furtado, 30, é exemplar. Ao se casarem, cinco anos atrás, os dois tomaram a decisão de esperar até a conclusão do doutorado de ambos para ter o primeiro filho. Nesse tempo, investiram firmemente na carreira e passaram a ganhar mais. Só aí Rita engravidou. Hoje com dois filhos, eles tentam preservar a racionalidade nas compras e procuram conter os excessos. Têm um mesmo objetivo: "Patrocinar a melhor educação possível às crianças e chegar à velhice trabalhando por prazer, e não por necessidade".

Outra medida pacificadora entre casais é a divisão das contas do mês. Funciona melhor quando as duas partes destinam um mesmo porcentual do salário para uma conta conjunta. Quem ganha mais, naturalmente, arca com um valor maior. Com o restante do dinheiro, cada qual faz o que bem quiser. O acordo, em geral, dá certo. "Ele evita que os mais econômicos se sintam lesados e os gastadores de plantão vivam tolhidos", explica o consultor financeiro Gustavo Cerbasi, autor do best-seller Casais Inteligentes Enriquecem Juntos. "Esse tipo de fórmula, que preserva a liberdade de cada um em relação ao próprio dinheiro, é eficiente para manter o equilíbrio", diz a psicóloga Vera Mello Ferreira, da PUC de São Paulo. Foi decisivo para que a arquiteta Letícia Nobell, propensa ao consumo, e Marcelo Galvão, de perfil mais comedido, encontrassem a paz financeira. Depois de algumas desavenças, eles acertaram que as contas da casa seriam repartidas. Também decidiram que cada um cederia um pouco. Hoje, Marcelo se esforça para ser menos contido nos gastos e Letícia, um pouco mais moderada. Ela comemora: "Nunca mais discutimos".

Brigas por dinheiro não são um fenômeno circunscrito aos casamentos modernos. No século XVIII, o rei francês Luís XVI, que não era exatamente um exemplo no quesito economia, vivia às turras com a mulher, Maria Antonieta, por causa dos hábitos ainda mais perdulários dela. Certa vez, num momento em que o país acumulava dívidas, a rainha foi às compras e voltou com um par de brincos que custava o mesmo que uma casa. Por essas e outras, ficou conhecida como Madame Déficit. Hoje, no entanto, conflitos motivados por dinheiro são mais frequentes. Os especialistas atribuem o fato, antes de tudo, a uma mudança fundamental nas sociedades modernas: o ingresso das mulheres no mercado de trabalho. No Brasil, elas ocupam 40% dos empregos – na década de 70, representavam apenas 20% das vagas. Com renda própria, passaram também a apitar mais sobre os rumos do dinheiro. Na bolsa de valores, as mulheres já respondem por um quarto dos investimentos. A essa transformação se soma ainda o surgimento de novas e variadas opções no mercado financeiro, que deixou mais difícil a tarefa de administrar o próprio dinheiro. Com tudo isso, o desafio de lidar com as finanças a dois se tornou ainda mais complexo. Sair-se bem nele é essencial para manter a paz sob o mesmo teto.

Com reportagem de Carolina Chagas

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