No atual mandato, Lula já passou quatro meses e meio no exterior
Tempo que presidente dedicou a essas viagens aumentou 68% em relação a igual período do primeiro mandato
Guilherme Scarance
Em 2007 e 2008, o presidente dedicou 138 dias - quatro meses e meio - à agenda externa. Um aumento de 68% em relação aos 82 dias que passou fora do Brasil em 2003 e 2004, igual período do primeiro mandato.
Se, em tese, refizesse todas as viagens internacionais do segundo mandato sem interrupções, uma após a outra, Lula teria se ausentado da capital federal de 1º de janeiro a 17 de maio.
A Presidência buscou novas rotas - subiu de 35 para 46 o total de países visitados no segundo mandato e de 30 para 39 o total de viagens internacionais, em comparação com 2003 e 2004. Foi da Suíça de Davos ao Vietnã, onde se encontrou com o general Vo Nguyen Giap, estrategista que derrotou a França e os Estados Unidos.
?SUCATÃO?
Poucos meses após receber a faixa presidencial, em janeiro de 2003, Lula já superava FHC em viagens . À época, se deslocava a bordo do Boeing 707, apelidado pelo ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia de "sucatão".
Nos primórdios de seu programa quinzenal de rádio, o Café com o Presidente, em junho de 2004, ele já prestava contas: "Os resultados são extraordinários. Já tivemos grande aumento das exportações."
Lula também prometeu reverter o eixo diplomático, tirando o foco dos países ricos, com a meta de desbravar novos mercados e horizontes, a diplomacia intitulada "Sul-Sul".
Os giros pelo Hemisfério Sul, tanto no primeiro como no segundo mandato, foram constantes. Em 2007 e 2008, foi cinco vezes à Argentina - principal destino no novo mandato -, três vezes ao Paraguai e à Venezuela. Visitou seis nações africanas.
AUSÊNCIA OU AVANÇO?
Para os defensores da política externa, Lula vem assegurando novos mercados e ampliando as relações com outros países, uma garantia em tempos de crise. Para os críticos, porém, ele fica tempo demais fora do País.
"Em 2002, Lula fazia críticas a FHC, dizendo que não tinha de viajar tanto. Disse que, uma vez eleito, viajaria sim, mas pelo Brasil. Felizmente, ele mudou de ideia", ironiza o deputado Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP), da Comissão de Relações Internacionais da Câmara.
Há outros motivos que explicariam as viagens. O Brasil vem acentuando seu papel protagonista - seja porque se tornou ator internacional mais relevante, seja porque o G-20 solicitou mais presença ou porque, com a crise econômica e a posse de Barack Obama, nos EUA, o Brasil é visto como capaz de ajudar a construir consensos. Quem afirma é o coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP e presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais, Gilberto Dupas.
"Lula se transformou, pessoalmente, em figura emblemática lá fora", avalia ele. "No exterior, entre as elites, ele é visto como um centro de referência, de democratização do poder. Essa circulação internacional, longe de desgastá-lo, acentuou essas características."
Tensões na América Latina - como os atritos entre a Bolívia e a Petrobrás e o entrave entre a Odebrecht e o Equador -, também explicam a agenda reforçada na vizinhança, diz o professor. Segundo ele, o momento exigiu essa movimentação.
RETÓRICA?
Quanto à política do Sul-Sul, o professor vê apenas "linguagem de retórica". Para ele, Lula sabe que a lógica do poder "não está aí", mas tenta agradar a todos os lados. "Ele tem um discurso para o povão, outro para empresários. A diplomacia internacional também é semelhante."
A assessoria do Planalto indicou o assessor de Assuntos Internacionais Marco Aurélio Garcia para comentar as viagens. Procurado, ele não respondeu.