Especial Longevidade e Juventude Idosos jovens
A hora é agora
Eles já passaram dos 65 anos, mas continuam ativos,
saudáveis e bem dispostos. São os "idosos jovens"
Naiara Magalhães
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Quem definiria Madonna como idosa? Aos 50 anos, linda, loira e sexy, mãe de três filhos pequenos, recém-separada de um homem dez anos mais novo, a cantora americana pode evocar todos os tipos de imagem, menos a de uma velha senhora. Pois houve um tempo, e não faz tantos anos assim, em que cinquentões e cinquentonas pertenciam à categoria dos idosos. Não por preconceito, mas pelo simples fato de que a expectativa de vida mundial girava em torno dos 40 anos – prova de que também a velhice é uma questão relativa. Com o envelhecimento da população e o número crescente de homens e mulheres que se mantêm ativos e sadios apesar da idade, alguns especialistas acharam por bem reformular as definições sobre a velhice. Pelos novos padrões, Madonna é apenas uma mulher de meia-idade. Quanto aos idosos... Bem, há idosos e idosos. Existem os "idosos jovens" (entre 60 e 69 anos, no caso dos países em desenvolvimento, e entre 65 e 74 anos, no caso dos países desenvolvidos), os "idosos velhos" e os "idosos muito velhos". Há trinta anos, se pedissem a uma criança que fizesse o desenho de seus avós, ela muito provavelmente rabiscaria uma senhora de coque, preparando quitutes para os netos. O avô, por sua vez, apareceria numa cadeira de balanço. Hoje esses papéis cabem aos bisavós. Vovó e vovô – "idosos jovens" – trabalham, viajam, suam na academia de ginástica, vão a festas e... namoram! É um pessoal que, afinal de contas, ainda tem muito a viver.
Inclusive no trabalho. Foi-se o tempo em que a aposentadoria representava um ponto final na vida produtiva. É comum hoje em dia que executivos aposentados continuem nas empresas como consultores ou interinos – profissionais contratados por seis meses ou um ano para cumprir uma missão específica, como preparar uma abertura de capital. Para se ter uma ideia, o número de executivos com mais de 60 anos que buscam a DBM, consultoria especializada em planejamento de carreiras, sextuplicou desde 2000. O objetivo da procura por esse tipo de orientação também mudou: "Há dez anos, a discussão que eu tinha com os executivos dessa faixa etária era sobre o que fazer com a vida sem trabalho. Agora eu os ajudo a escolher em que área eles vão começar sua segunda carreira", diz Elaine Saad, gerente-geral da Right Management Brasil, outra gigante do ramo de transição de carreiras. Executivos ou não, 22,5% dos brasileiros com mais de 65 anos de idade têm uma ocupação profissional atualmente, segundo o IBGE. E essa proporção, maior do que no passado, tende a crescer. Por necessidade extrema ou não, o fato é que esse contingente mostra uma energia surpreendente.
A cena a seguir também se tornou bastante comum: homens e mulheres com 60 anos ou mais treinando corrida ao lado de gente bem mais jovem. Muitos deles participam de provas de 10 quilômetros e até de maratonas, com 42 quilômetros. No início da década de 90, a organização da Corrida Internacional de São Silvestre criou categorias específicas para corredores com mais de 70 anos. Recentemente, dividiu os grupos da terceira idade de cinco em cinco anos. "Os corredores de 66 anos, por exemplo, não gostavam de competir com os de 61, porque queriam ter mais chance de pódio", diz Júlio Deodoro, diretor da prova. No campo afetivo, o número de brasileiros que se casam com 65 anos ou mais aumentou 70% em menos de uma década. Passou de 13 000, em 1998, para mais de 22 000, em 2006. Chegar aos 70 anos com tanta disposição muitas vezes espanta até os próprios "idosos jovens". Segundo o presidente da Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria, o médico Renato Maia Guimarães, é bastante comum ouvir de seus pacientes: "Eu não sinto ter a idade que tenho". Ele recomenda isto mesmo: esquecer a cronologia e aproveitar a vida. Nesta reportagem, o leitor confere exemplos de pessoas que fazem da terceira idade um momento de viver novas histórias, e não apenas de lembrar as passadas.
Anderson Schneider |
"Nos últimos trinta anos da minha carreira, eu viajava para o exterior a trabalho a cada quatro semanas. Preenchi catorze passaportes com 333 registros de entrada nos Estados Unidos, mais de trinta no Japão e quinze na China. Esse estilo de vida, que pode parecer estressante, me fascinava. Eu gostava muito de aprender a negociar com pessoas de outras culturas e de acompanhar de perto as mudanças históricas dos países. Aos 70, deixei a presidência da empresa e comecei a escrever um livro sobre as histórias mais interessantes que vivi na minha carreira. Depois, resolvi escrever um segundo livro, sobre o câncer de próstata, doença que tive aos 68 anos. Agora, estou planejando o terceiro. Ainda pertenço ao conselho administrativo da empresa. No restante do tempo, cuido da minha saúde e aproveito a vida. A cada seis semanas, viajo. Geralmente vou para a Alemanha, onde tenho um apartamento, ou para os Estados Unidos, onde moram uma de minhas filhas e meu neto mais novo, Matteo. Quando estou no Brasil, dois dias da semana eu dedico a meu outro neto, Nicolai, de 10 anos. Não sou um avô à moda antiga, mas gosto muito de estar com eles. Eu e Nicolai, por exemplo, viajamos juntos para a Espanha, no ano passado, e nos divertimos muito."
José Alberto Camargo, 74 anos, administrador de empresas aposentado