O valor e conteúdo desse plano vão saindo a sacarrolhas, provavelmente mais por falta de acabamento e de clareza sobre seu perfil do que por necessidade de mantê-los sob sigilo.
Os números sobre sua magnitude têm variado de US$ 775 bilhões a US$ 1 trilhão, com as nunca esquecidas ressalvas de que podem aumentar. Deverá ter a duração de no mínimo dois anos e garantir a criação de pelo menos 3 milhões de postos de trabalho, promessa solene da campanha eleitoral. A ideia é puxar pelo consumo e pela produção hoje estancada.
Cerca de 40% do plano (perto de US$ 300 bilhões) deve conter renúncias tributárias (devolução ou redução de impostos e contribuições), de forma a compensar despesas das empresas com coberturas de seguro-saúde.
O objetivo da redução de impostos é facilitar sua tramitação entre os republicanos que, em geral, não gostam de que o governo seja deixado livre para aplicar os recursos públicos; preferem deixar a opção dos gastos ao contribuinte. Outra parte corresponde a investimentos em infraestrutura (estradas, pontes, terminais, etc.).
Ontem, o presidente eleito Barack Obama, cuja posse está agendada para o dia 20, se encontrou com as lideranças do Congresso. Um dos principais objetivos desse encontro foi tentar agilizar a tramitação do projeto.
Três observações sobre o que já se sabe:
A primeira tem a ver com o tamanho do estímulo econômico. Se é para evitar a recessão ou, então, para salvar as principais empresas americanas ameaçadas de bancarrota, é provável que esse programa seja insuficiente. Os lobbies estão em acirrada campanha para arrancar fatias maiores. A acreditar na voracidade com que se lançam sobre ele, não vai haver para todos. As montadoras já deixaram claro que os US$ 13 bilhões recebidos na última semana de dezembro serão suficientes apenas para as primeiras semanas do ano. O setor da siderurgia avisou que não será possível sustentar os negócios do aço se a infraestrutura não receber pelo menos US$ 1 trilhão.
Segunda observação: esses recursos não cairão do céu. A maior parte terá de ser obtida por meio de lançamento de títulos do Tesouro americano, o que levará a um crescimento do déficit orçamentário e a um aumento do endividamento público.
Por enquanto isso não é problema. Os dois ativos mais procurados no mundo continuam sendo os títulos do Tesouro dos Estados Unidos e o dólar. Mas, à medida que o medo que até agora acionou a busca por refúgios for substituído pela vontade de ganhar mais, parece inevitável a relativa rejeição desses ativos. E isso implicará certa alta dos juros.
Terceira observação: a elaboração e a aplicação do programa exigirá que o governo Obama faça escolhas difíceis, o que inevitavelmente contrariará interesses. Sindicatos, contribuintes, dirigentes de empresas e de setores, líderes políticos estarão a postos para a primeira saraivada de críticas à nova administração. E isso pode corroer a aura de esperança que cerca a eleição de Obama.