Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Celso Ming O mundo quer confiar



O Estado de S. Paulo - 21/01/2009
 

Creso, rei da Lídia no século 6º antes de Cristo, era o homem mais rico do mundo conhecido. Mas, lá pelas tantas, inseguro sobre seu futuro, mandou consultar o oráculo de Delfos. O deus respondeu que ele deveria fugir quando o mulo ocupasse o trono do país dos medos. Creso se tranquilizou. “Nunca um mulo chegaria a rei de lugar nenhum”, disse.

Quando Ciro, rei dos medo-persas, invadiu a Lídia, Creso não fugiu como lhe recomendara o oráculo. Perdeu a coroa e sua riqueza espantosa. Tarde demais para entender. Ciro era um híbrido, filho do rei persa e de uma princesa dos medos.

Se a analogia é um tanto forçada, vale a torcida. Barack Obama, um híbrido de pai africano e mãe americana, assume o comando do país mais poderoso do Planeta e terá de enfrentar os reis do mundo financeiro e sua crise, que não podem ser deixados soltos. Como Creso, não tem agora para onde fugir. O mundo quer acreditar que essa vai ser a guerra que este mulo do século 21 vai vencer.

Na cerimônia de posse, o presidente Obama fez ligação direta com o coração e a alma dos americanos e dos demais cidadãos do mundo. Falou de escolhas novas mas baseadas em valores antigos, no uso da inteligência, no trabalho duro, no aproveitamento das oportunidades, na coragem necessária para enfrentar problema por problema.

“Nossa economia está muito enfraquecida, consequência da ganância e da irresponsabilidade por parte de alguns, mas também por nossa falha coletiva em fazer escolhas difíceis e preparar a nação para uma nova era. Casas foram perdidas; empregos destruídos; empresas fechadas. Nossa assistência à saúde é cara demais; nossas escolas reprovam demais; e cada dia traz mais evidências de que as maneiras como usamos a energia fortalecem nossos adversários e ameaçam nosso planeta.”

Não só os americanos, mas também o resto do mundo canaliza sua energia e está disposto a agarrar a confiança que vem de gente de boa vontade e sem mentira.

É provável que a nova equipe econômica de Obama não saiba ainda o que fazer agora para acabar com a crise. O novo pacote econômico, de US$ 825 bilhões, cujo projeto será formalmente encaminhado ao Congresso americano para discussão, parece de longe insuficiente para enfrentar as demandas do contra-ataque.

Obama falou também que o mercado não pode ser deixado solto e que precisa de vigilância (watchful eye). Sem isso, descontrola-se e sai dos trilhos.

O problema é que, se o mercado está globalizado, também precisa de vigilância globalizada. Instituições de bairro não darão conta de tanta supervisão.

Além disso, um olho poderoso não é nada se não houver um braço forte. E não está claro como essa coordenação pode ser feita por instituições globais, num mundo onde o poder continua sendo exercido por estados nacionais limitados e egoístas e, até agora, destituídos de liderança.

Também aí, não importa se o organismo de controle é grande ou pequeno, mas se funciona e quanto funciona.

Por ser híbrido, Ciro uniu reinos antes antagônicos e com essa união de forças enfrentou, uma a uma, as ameaças a seu império. Por isso, foi chamado de Ciro, o Grande.



Confira

A virada não aconteceu - As bolsas não se deixaram influenciar pelo pronunciamento envolvente do presidente Obama. Ao contrário, os preços caíram nas principais praças.

Prevaleceu a percepção de que não há mágica e que a saída para a crise vai demorar.

As próximas semanas enfrentarão a divulgação dos balanços. E a tendência é de que será um susto atrás do outro.

E é provável que as primeiras estimativas sobre o PIB dos países ricos no quarto trimestre também venham ruins. E aí veremos se o governo Obama terá respostas para tudo isso.

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