Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Celso Ming Mizaru, Kikazaru e Iwazaru

O ESTADO DE S PAULO



O que não enxerga é o Mizaru. O que não escuta é o Kikazaru. E o que não fala é o Iwazaru. Estes são os Três Macacos Sábios esculpidos na porta do Estábulo Sagrado do templo xintoísta do século 17 que está na cidade de Nikko, Japão.



Pois já passou da hora para que as empresas de auditoria adotem os três macacos como símbolos da corporação. São tantos os casos de fraude contábil e de desastres relacionados a elas que um dia alguém precisa se perguntar para que mesmo servem os auditores.



O leitor Loester Fragoso me dá um puxão de orelhas: "Você cita inúmeras instituições que foram omissas e incompetentes nessa crise. Mas, em nenhum momento analisou o comportamento dos auditores. Eles deveriam atestar a qualidade da saúde financeira das empresas e, no entanto, não o fizeram. Por quê?" Fragoso tem razão. Também desta vez, os auditores não têm escapatória.



Esta é uma lambança velha de guerra. Aqui no Brasil, eles não enxergaram a megafraude que até agora não se sabe se foi de R$ 10 bilhões ou de R$ 15 bilhões, no antigo Banco Nacional que quebrou em 1986. Em 2007, o auditor Marco Aurélio Diniz, que assinou os balanços em nome da KPMG, foi condenado por omissão. No naufrágio do Banco Econômico, o auditor que até a véspera avisava que tudo ia bem a bordo era a Ernest & Young.



Atrás do escândalo Enron, em 2001, nos Estados Unidos, estava a Arthur Andersen. E foi este caso que levou o Congresso americano a aprovar novas normas contábeis, muito mais severas, que ficaram conhecidas com a Lei Sarbanes Oxley. Duas outras gigantes do ramo, a Grant Thornton e a Deloitte & Touche deixaram acontecer outra fraude e tanto, desta vez na Parmalat italiana, caso também conhecido como o Enron da Europa.



Para todos os fins, uma auditoria serve para atestar a confiabilidade dos balanços das empresas. Qualquer condomínio tem quem se encarregue da conferência das contas de responsabilidade do síndico. Se essa exigência é necessária até mesmo para organizações simples, imagine o que não seria das complexas se não houvesse gente capacitada para aferir essa numerália toda.



Nesta crise foram inúmeros os casos em que os dados constantes nos balanços de tantos bancos, seguradoras, sociedades de crédito imobiliário, fundos de investimento, etc. foram escrutinados por auditores e que depois se revelaram nem um pouco confiáveis. Eles não enxergaram nem relataram, por exemplo, que os bancões e outras instituições dos Estados Unidos e do resto do mundo estavam excessivamente alavancados e que, por isso, trilhões de dólares corriam risco de virar pó, como depois viraram.



Os cartolas da contabilidade vão recitar o mantra de sempre: que todas as normas e procedimentos da profissão foram religiosamente cumpridos.



Mas, se é assim, para que servem eles se os atestados que assinam não valem nada? Os três macacos pelo menos são mais sinceros. Dizem que enxergar, ouvir e falar não é com eles.



CONFIRA



Passado sem perdão - O ex-ministro Pedro Malan costuma dizer que, no Brasil, até mesmo o passado é imprevisível. Ele se refere às decisões judiciais que tantas vezes aumentaram as despesas do governo e deveriam ter saído anos antes.



Agora se vê que na China o passado é surpreendente. Ontem, por exemplo, o governo de Pequim anunciou que, em 2007, o PIB da China não cresceu apenas 11,9%, o que já era uma enormidade. Cresceu 13,0%, o que é impressionante.



Para este ano, a China não promete um crescimento superior a 6% ou 7%. Tomara que volte a surpreender.

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