A crise global é um bicho em metamorfose. Não começou em 2008; explodiu, sim, em 2008, e não tem prazo para terminar.
Seus nomes também vão mudando. Começou como crise subprime, porque eclodiu no segmento das hipotecas podres americanas. Logo se viu que não foi só a bolha dos imóveis que estourou. A encrenca é muito maior porque, a partir de determinado momento, já não se sabia mais quais eram os preços de um grande número de ativos e, então, passou a ser chamada crise do lixo tóxico.
Em seguida, banco deixou de confiar em banco, o crédito estancou e foi preciso enfrentar a subcapitalização das instituições financeiras, fossem elas bancos ou não. Sobreveio, então, a expressão crise de desalavancagem.
E, a partir daí, tudo virou crise financeira global que já não se restringe às finanças porque há uma forte recessão encomendada e em fase de entrega, que poderá ou não degenerar em depressão.
Essa é uma crise sem precedentes. Não guarda características comuns às anteriores. Basta dizer que, nos últimos 50 anos, o primeiro efeito sempre foi o derretimento da moeda e dos títulos do país em crise. Desta vez, está acontecendo o contrário. O dólar e os títulos do Tesouro americano continuam sendo os ativos mais procurados e, portanto, mais valorizados. Mas aí já entramos na ideia desta coluna, que é a de apontar algumas novidades que podem ficar consagradas.
A primeira delas é o princípio de que banco grande não pode quebrar. Quando as autoridades entregaram o Lehman Brothers à própria sorte, imaginavam que moralizariam o mercado financeiro. Até agora, foi o maior desastre desta crise. O desmonte do Lehman espalhou o pânico em todos os mercados. Em novembro, o Citigroup arrancou US$ 307 bilhões em socorro oficial.
Outra característica sem precedentes dessa crise é a intervenção dos governos. Nunca bancos centrais e secretários de tesouro se meteram tanto nos negócios. Bancos foram parcialmente estatizados, bancos centrais compraram ativos podres de bancos ou de empresas comuns, recursos fiscais foram usados para comprar ativos rejeitados pelo mercado ou repassados ao contribuinte para que continue consumindo.
A intervenção estatal ao redor do mundo se conta aos trilhões de dólares. Mas ainda é pouco. Nos próximos meses, mais recursos e intervenções virão. Provavelmente em janeiro o governo Obama anunciará novo pacote, de US$ 850 bilhões, para socorrer a economia. Essa intervenção não ficará sem consequências. Falta saber quais serão.
E, por falar em atuação do Estado, há ainda a questão regulatória. É verdade que faltou regulação aos mercados. Mas não é verdade que essa foi a falha central. A maioria das leis e dos regulamentos está aí e não há muito o que mudar. A falha principal foi dos organismos de fiscalização e supervisão. Os bancos centrais falharam miseravelmente, as agências de acompanhamento do mercado financeiro e de classificação de risco falharam miseravelmente e os governos falharam miseravelmente.
Aí está a pergunta a ser respondida em 2009: como é que se pode contar com mais intervenção do Estado para disciplinar os mercados se o agente que mais falhou na origem desta crise foi o próprio Estado? Ou o Estado é outro animal em metamorfose?
Confira
E os fundos de pensão? Trilhões de dólares em patrimônio derreteram nessa crise: imóveis, hipotecas, ações, títulos de dívida, commodities.
Está para aparecer quem calcule a desvalorização da aposentadoria futura de tanta gente pelo mundo, que estava amarrada aos fundos de pensão.
Parte desses ativos recuperará valor. Mas sabe-se lá quanto do patrimônio anterior desaparecerá para sempre. Boa pergunta está em saber qual será a reação do cotista do fundo. Vai trabalhar mais ou esperar pela recuperação do seu patrimônio? Ou vai se conformar em viver com menos?
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2009
(3759)
-
▼
janeiro
(416)
- A saia-justa de Lula em Belém
- Estragos de um presidente ignorante Mauro Chaves
- Bolsas & famílias Míriam Leitão
- Repúdio ao protecionismo Celso Ming
- Aula magna de Heráclio Salles Villas-Bôas Corrêa
- Uma conta de chegar Dora Kramer
- Lula, a azia e Brown Clóvis Rossi
- Terra de cego Merval Pereira
- VEJA Carta ao Leitor
- VEJA Entrevista Mauricio de Sousa
- Diogo Mainardi Questão de tradição
- MILLÔR
- RADAR Lauro Jardim
- André Petry Lembra-te de Darwin
- J.R. Guzzo O preço a pagar
- Conversa com Diego Hypólito
- Aviação Lobistas cobram 18 milhões da Embraer
- Sarney se compromete com tudo e com todos
- O fim do terceiro mandato
- O PT, finalmente, expulsa Babu
- A cartada de 819 bilhões de dólares de Obama
- Investimentos Pé no freio atinge muitos proj...
- Davos O novo fórum social
- Especial Robinho: dinheiro, fama e confusão
- Tecnologia A banda larga superveloz
- O calendário maia, a nova superstição
- José Alencar: doze anos de luta contra o câncer
- O perdão para os excomungados
- Búzios: bom, bonito e caro
- Cães feios, mas queridos
- As musas do Carnaval 2009 cresceram
- Menos burocracia no dia-a-dia
- Menores, mas eficientes
- As estrelas da religião
- O Leitor, com Kate Winslet e Ralph Fiennes
- Dúvida, com Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman
- Se Eu Fosse Você 2, com Glória Pires e Tony Ramos
- Memória John Updike
- VEJA RECOMENDA
- Forum sexual mundial? Por Ralph J. Hofmann
- Transmutação quântica da consciência das zaméricas...
- Deve ser por isso... Maria Helena Rubinato
- Dora Kramer Tábua rasa
- Números contam Miriam Leitão
- Mau sinal Merval Pereira
- Clipping de 30/01/2009
- Outro mundo - Fernando Gabeira
- O que nos faz diferente desta vez-Luiz Carlos Mend...
- Maldito Estado, maldito mercado- Vinicius Torres F...
- A democracia que queremos - Marco Maciel
- Parque dos Dinossauros - Lula encontra Evo, Chávez...
- Dora Kramer Como Pôncio Pilatos
- Clipping de 29/01/2009
- Crime impune - Mírian Leitão
- Podemos exportar mais Alberto Tamer
- Obama e Lula Eliane Cantanhede
- O paradoxo de Davos Merval Pereira
- O capitalista e o comunista Clóvis Rossi
- O papel da oposição Gustavo Fruet
- O grande estelionato mercadista Vinicius Torres F...
- O governo começou Carlos Alberto Sardenberg
- A lógica circular da crise econômica Paulo R. Haddad
- Battisti, uma questão italiana Roberto Cotroneo *
- O caso Cesare Battisti Almir Pazzianotto Pinto
- Governo corta o vento que não virá por Míriam Leitão
- Burocratas do comércio Celso Ming
- O anacronismo - Mírian Leitão
- O que não faz sentido Dora Kramer
- À sombra de Obama Merval Pereira
- Por que Keynes? Antonio Delfim Netto
- Clipping de 28/01/2009
- Augusto Nunes O bravo vencedor da luta no açougue
- Paul Krugman How late is too late?
- Friedman: conflito entre palestinos e israelenses ...
- Falta governo
- Irmão gêmeo- Xico Graziano
- De lei forte e carne fraca Dora Kramer
- Retrato da crise Celso Ming
- Clipping de 27/01/2009
- Mudança dos ventos Merval Pereira
- Luzes de alerta Panorama Econômico - Mírian Leitão
- Rubens Barbosa,O BRASIL E OS EUA, DE OBAMA
- Um gato chamado ''Prestígio'' Gaudêncio Torquato
- A verdadeira face do presidente Carlos Alberto Di...
- As promessas de Jobim
- Clipping de 26/01/2009
- Clipping de 24/01/2009
- Clipping de 25/01/2009
- A ERA DA ESPERANÇA por Rodrigo Constantino
- LAPOUGE, OBAMA E AS FORMIGAS DE GAZA
- TRANSIÇÃO PARA O SOCIALISMO por Ipojuca Pontes
- FERREIRA GULLAR As razões do ódio
- VINICIUS TORRES FREIRE Lula, BNDES, fusões & aqui...
- Blindagem rompida Paulo Renato Souza
- Eleições e crise na América do Sul Sérgio Fausto
- Dora Kramer Caroço no angu
- Míriam Leitão O ar da mudança
- Celso Ming 100 bi para a mãe do PAC
- Só com palavras não se criam empregos José Serra
- Modelo distorcido Merval Pereira
-
▼
janeiro
(416)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA