FOLHA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Serra tem a seu favor experiência nacional e desempenho em pesquisas; Alckmin acena com espaço para tucanos de outros Estados
A força eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em março de 2006 terá peso decisivo na escolha do candidato do PSDB a presidente da República, segundo apurou a Folha em conversas com dirigentes tucanos nas últimas duas semanas.
A tendência será o PSDB optar pelo prefeito de São Paulo, José Serra, se for mantido o cenário atual, no qual Lula, segundo avaliação dos próprios tucanos, ainda é um candidato competitivo, apesar de bastante ferido pela crise política. No entanto, crescerá a chance de o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ser o escolhido se Lula continuar a perder cacife eleitoral e virar um candidato mais fácil de ser batido do que no cenário de hoje.
Na avaliação de integrantes da cúpula tucana, Serra continua a ser o mais forte presidenciável do partido. Alckmin está crescendo internamente e se expondo mais para se tornar mais conhecido nacionalmente. Apesar desse esforço, ainda não teria força para ganhar a indicação tucana.
A terceira via, com o governador Aécio Neves (MG), só será considerada num cenário de guerra mortal entre Serra e Alckmin, com um inviabilizando o outro. A tendência, porém, é que Aécio concorra à reeleição.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso julga Serra mais preparado para ocupar o Palácio do Planalto. No entanto, não quebrará lanças pelo prefeito se o governador avançar na disputa interna. Não é seu estilo.
Para FHC, faltaria a Alckmin a experiência nacional de Serra, além de uma visão mais global dos problemas do país e do mundo. O prefeito adotaria um receituário econômico diferente do que vigora no Brasil desde 1994, quando foi implementado o Plano Real. Alckmin tende a manter uma política econômica mais parecida com as de Lula e FHC.
No partido, há outro fator pró-Serra: com melhor desempenho nas pesquisas, atrairá mais candidatos a governador e poderá realizar alianças regionais mais fortes.
Pesquisa Datafolha feita em 13 e 14 de dezembro mostrou que Serra ultrapassou Lula no primeiro turno (36% contra 29%). No segundo, venceria por 50% a 36%.
Já Alckmin continua atrás de Lula na fase inicial -30% a 22%. No segundo turno, haveria empate técnico (Lula tem 41% e Alckmin, 40%).
Alguns tucanos, até mesmo os que não gostam de Serra, indagam: como ignorar um candidato com 14 pontos de vantagem sobre Lula em benefício de um empatado tecnicamente com ele?
Daí a avaliação de que Lula precisaria se enfraquecer mais para Alckmin empolgar o PSDB na hora da escolha do candidato.
Simpatizantes de Serra avaliam que Lula chegou ao fundo do poço, que será um erro menosprezar sua força eleitoral e que a campanha será renhida e, portanto, mais favorável a um perfil briguento como o do prefeito.
Serra tem feito articulações para "manutenção" de apoios. No PFL, fez acerto com o prefeito do Rio, Cesar Maia, e tentou aparar arestas com o clã baiano do senador Antonio Carlos Magalhães.
Maia já defendeu publicamente que seu partido se alie ao PSDB se Serra for o candidato. A velha antipatia de ACM por Serra diminuiu desde que o prefeito jantou em dezembro em São Paulo com o deputado federal ACM Neto, candidato a manter viva a liderança do grupo político do avô. Serra fez um aceno para tentar acabar com o clima de guerra entre as seções baianas do PSDB e do PFL.
Auxiliares de Serra dizem que ele deseja muitíssimo ser candidato, mas demonstra enorme e sincera dúvida nos bastidores: qual será o preço político de abandonar a prefeitura no final de março, após 15 meses de mandato, para concorrer à Presidência?
Essa questão poderá ter peso negativo numa eleição em que a ética deverá ser um dos temas principais. Daí o prefeito estar articulando de forma mais reservada em relação a Alckmin.
O governador tem dado declarações públicas de que deseja muito ser o candidato, ao contrário de um mês atrás, quando se negava a assumir a pré-candidatura. Em novembro, Alckmin ouviu um conselho importante: se continuasse a adotar comportamento discreto em relação a 2006, Serra já o teria engolido quando acordasse.
De forma hábil, Alckmin tem acenado internamente que uma Presidência sua seria uma administração de todos os caciques tucanos, na qual governadores e senadores indicariam ministros e teriam influência. Com Serra, esses caciques apitariam pouco.
Esse argumento tem sensibilizado FHC, Aécio e o presidente nacional do partido, o senador Tasso Jereissati (CE). Os três serão os grandes "eleitores" do candidato.
Os partidários de Alckmin recorrem a outro argumento para vencer Serra: o governador representaria a "novidade" na eleição de 2006. Alegam que uma batalha entre Lula e Serra seria reprise de 2002, na qual o segundo ouviria que a Prefeitura de São Paulo foi mero trampolim para se vingar da derrota de quatro anos antes.
Pesquisas qualitativas do grupo do governador de São Paulo mostrariam que Alckmin, por ser pouco conhecido nacionalmente, teria chance de crescer a ponto de bater Lula com os números que Serra ostenta hoje nos levantamentos sobre a sucessão de 2006.
Os pró-Alckmin argumentam que o governador tem um potencial maior de crescimento ao longo da campanha pela excelente avaliação como administrador do Estado e alta taxa de desconhecimento fora de São Paulo.
Serra, porém, cresceu 10 pontos percentuais no Datafolha entre junho e dezembro de 2005 na simulação de segundo turno -saltou de 40% para 50%, enquanto Lula retrocedeu de 46% para 36%.
Os aliados de Serra afirmam que estaria acontecendo nos últimos meses o que ocorreu com o petista ao longo de 2002. À época, o publicitário Duda Mendonça sintetizou o desejo de alternância que se cristalizava na onda PT no slogan "Agora é Lula". Ou seja, em 2006 seria Serra.
Aécio e FHC costuram uma articulação para evitar seqüelas no processo de escolha do candidato. Em 2002, Serra foi abandonado por parte da cúpula do partido.
A "pax tucana" atende pelo nome de fim da reeleição. O ex-presidente, beneficiário do expediente, não pode defender seu final publicamente. Mas deu aval a uma proposta que o governador mineiro prega com gosto: restabelecer o mandato de cinco anos. Valeria a partir de 2010, ou 2011, se houver acordo dos grandes partidos para esticar o mandato de quem ganhar em outubro.
Com o fim da reeleição, um tucano poderia esperar mais pacientemente a sua vez de concorrer se outro for o escolhido.
Entrevista:O Estado inteligente
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