FOLHA
As conclusões da Conferência Ministerial de Hong Kong representam pouco mais que um disfarce para o impasse que paralisa a Rodada Doha da OMC (Organização Mundial de Comércio). Mas a crise do sistema multilateral de comércio tem dimensões que ultrapassam a própria Rodada Doha. A constatação deve-se a Rubens Ricupero e foi exposta na reunião anual da Rede Latino-Americana de Política Comercial: o comércio global experimenta uma transição histórica marcada pela irresistível ascensão de novas potências exportadoras de produtos agrícolas, manufaturados e serviços. Cedo à tentação de sugerir uma expressão sintética para descrever o fenômeno. É o fator BIC: Brasil, Índia e China.
O Brasil tem sol, água e solo em abundância. Tem as terras baratas que faltam aos Estados Unidos e um potencial de expansão da fronteira agrícola que, por razões naturais, não existe na Argentina e na Austrália. Removam-se as barreiras e subsídios e dominará o comércio mundial de produtos agrícolas, inundando a Europa e a Ásia de soja, carne bovina, frango, açúcar, café e tabaco. A conseqüência seria gerar significativo volume de renda e, portanto, criar consumo nos países desenvolvidos. Mas, num paradoxo que encontra explicação fora da esfera econômica, a União Européia, os Estados Unidos e o Japão aferram-se às redomas que protegem seus agricultores pouco competitivos.
A Índia tem força de trabalho abundante e qualificada. Tem uma história colonial que transformou o inglês na sua língua franca nacional. A dinâmica da globalização transfere para lá setores inteiros da indústria de serviços. As corporações internacionais descobriram as vantagens de estabelecer na Índia uma série de serviços de apoio, como call-centers, vendas de bilhetes aéreos e contabilidade interna. Engenheiros indianos projetam e desenvolvem softwares para empresas americanas e européias. A indústria editorial ensaia deslocar para a Índia os serviços de tradução, ainda pouco internacionalizados.
A China tem chineses. Explorando a sua vantagem competitiva, experimentou um "espetáculo de crescimento" sem precedentes, ostentando durante um quarto de século a taxa média anual de 9,4% de expansão do PIB. Hoje, é o mais dinâmico exportador global de bens de consumo e de bens intermediários. Em 2004, produtos chineses representaram 21% das importações japonesas, 14% das importações americanas e 12% das importações européias. A decolagem industrial da China é a causa principal da mudança de patamar dos preços do petróleo e do persistente crescimento dos preços de diversas commodities. Na outra ponta, as exportações chinesas de manufaturados esclarecem a convivência de baixas taxas de inflação e de juros nos países desenvolvidos e aprofundam a crise mundial do emprego industrial e do movimento sindical.
O sistema multilateral de comércio, concebido no pós-Guerra, funcionou durante meio século como uma engrenagem equilibrada, cuja evolução refletia os padrões pouco contrastantes de produtividade e de custos dos países desenvolvidos. A Rodada Uruguai do GATT (1986-94), encerrada com a criação da OMC, coincidiu com o apogeu e o início do declínio do sistema. A Rodada Doha, convulsionada pelo fator BIC, assinala o seu esgotamento. Em Hong Kong, os ministros só conseguiram evitar o colapso da OMC.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
dezembro
(535)
- Mariano Grondona Sobre el síndrome anárquico-autor...
- Vozes d’África REINALDO AZEVEDO
- Merval Pereira Estranha aliança
- FERNANDO GABEIRA Globalização e as sementes do equ...
- O que sobrou de 2005? GESNER OLIVEIRA
- FERNANDO RODRIGUES Perdas e danos em 2005
- CLÓVIS ROSSI Férias?
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial de O Estado de S Paulo
- CELSO MING Mudou o foco
- Rodovias - a crise anunciada por Josef Barat*
- A saúde que faz mal à economia Robert Fitch
- Villas-Bôas Corrêa Do alto o governo não vê
- Merval Pereira Os números do impasse
- Celso Ming - Bom momento
- Não contem ao presidente LUIZ CARLOS MENDONÇA DE B...
- As limitações da política econômica FERNANDO FERRA...
- NELSON MOTTA Barbas de molho
- ELIANE CANTANHÊDE Emergência
- CLÓVIS ROSSI Emprego e embuste
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Não na frente...
- Wagner faz da Viúva militante- claudio humberto
- Sharon, o homem do ano Por Reinaldo Azevedo
- Brasil - Idéias para tirar o Estado do buraco
- Editorial de O Estado de S Paulo
- Negócio da China? PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
- JANIO DE FREITAS Votar para quê?
- DEMÉTRIO MAGNOLI O fator BIC
- MARTA SALOMON Quem tem medo do caixa um?
- CLÓVIS ROSSI O risco-empulhação
- Editorial da Folha de S Paulo
- CELSO MING A âncora da economia
- Editorial de O GLOBO
- Merval Pereira Soy loco por ti, América
- Tiro no pé abriu o 'annus horribilis' Augusto Nunes
- Sem perder a pose - Blog do Noblat
- Zuenir Ventura Louvado seja o Pan
- Editorial de O GLOBO
- ALI KAMEL Feliz ano novo
- Merval Pereira A turma do mensalão
- ELIO GASPARI O Ano da Pizza começou no Ceará
- Ação brasileira gera importante avanço JOSEPH E. S...
- FERNANDO RODRIGUES Legado do "mensalão"
- CLÓVIS ROSSI A empulhação, em números
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo PÉSSIMA IMAGEM
- Editorial de O Estado de S Paulo
- Faltou o espetáculo Celso Ming
- O Banco Central e o paradoxo do dólar Sonia Racy
- Augusto Nunes - Essa candidatura parece provoção -
- Cuecão de ouro: absolvição cara - Claudio Humberto...
- Distorções Celso Ming
- Feliz ano novo ALI KAMEL
- RUBENS BARBOSA Crise de identidade
- ARNALDO JABOR Só nos restam as maldições
- Merval Pereira Símbolos e realidade
- O procurador procura toga AUGUSTO NUNES
- Sinais alarmantes ROBERTO BUSATO
- CLÓVIS ROSSI PT x PSDB, perde o Brasil
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Lula tentou abafar investigações, diz presidente d...
- FERNANDO RODRIGUES Ingenuidade ou farsa
- VINICIUS TORRES FREIRE Ano novo, vida velha
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Carlos Alberto Sardenberg A culpa é do governo
- dívida externa e risco Brasil
- AUGUSTO NUNES Nunca se viu nada parecido
- FERREIRA GULLAR Um Natal diferente
- LUÍS NASSIF O "príncipe" dos jornalistas
- História de Natal RUBENS RICUPERO
- Força de Lula deve definir candidato do PSDB
- ELIO GASPARI Um novo estilo: o minto-logo-desminto
- ELIANE CANTANHÊDE Enquanto março não vem
- CLÓVIS ROSSI O sinal e o bocejo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Desigualdade e transferência de renda
- Pobres se distanciam de ricos e dependem mais do g...
- Daniel Piza História da ilusão
- João Ubaldo Ribeiro A qualidade de vida ataca nova...
- CELSO MING De três em três
- Governo amplia Bolsa Família, mas não ajuda benefi...
- VEJA Mensalão:Marcos Valério processa o PT
- VEJA Eduardo Giannetti da Fonseca O fim do ciclo d...
- VEJA Tales Alvarenga O nosso Muro de Berlim
- VEJA MILLÔR
- VEJA Diogo Mainardi Uma anta na minha mira
- Além do Fato: A polarização PT e PSDB Bolívar Lamo...
- 2006 não será 2002 GESNER OLIVEIRA
- FERNANDO RODRIGUES Visão de dentro da crise
- CLÓVIS ROSSI A confissão
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
-
▼
dezembro
(535)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA