Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 25, 2005

CLÓVIS ROSSI O sinal e o bocejo

FOLHA
SÃO PAULO - Para os ingênuos que ainda acreditam que o governo Lula possa adotar uma política econômica menos ortodoxa, resumo trecho de entrevista que o filósofo comunista Leandro Konder concedeu à revista trimestral "Democracia Viva", editada pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, ou instituto do Betinho).
Konder conta que ele e Carlos Nelson Coutinho, outro dos grandes intelectuais de esquerda, tiveram um encontro com o "superministro"José Dirceu, no hotel Glória (RJ).
Coutinho comentou, a certa altura: "Você [Dirceu] disse aqui, com toda razão, que seria loucura propor qualquer traço de política econômica inspirado pelo socialismo. Claro que não é nossa proposta, não pode ser, temos senso de realidade".
Em seguida, Coutinho, baiano, relata que, quando anda pelo interior da Bahia, procura sempre orientar-se na direção de Salvador. "Enquanto não vejo uma placa informando que Salvador fica naquela direção, não sossego", disse a Dirceu.
Emendou com um comentário seguido da pergunta que Konder define como "fundamental": "Vocês não tomaram nenhuma medida nem disseram quando tomarão uma que indique essa direção, que é fundamental, porque é ela que vai dar credibilidade, confiança, lastro estratégico ao que vocês estão fazendo. Quando vocês colocarão essas plaquinhas?".
Fulminante resposta de Dirceu: "Nunca".
Note o leitor que não foi a "formiguinha" Antonio Palocci quem matou qualquer ilusão em Konder e Carlos Nelson Coutinho (Konder saiu do PT para o PSOL). Foi o "companheiro de armas", o suposto socialista, o revolucionário de gabinete José Dirceu.
Portanto, não tenha ilusões, se espera outra coisa, nem tenha medo, se teme outra coisa. A política econômica de Lula é essa que está aí, juros mais, juros menos, superávit fiscal maior ou menor. Nada que provoque mais que bocejos.

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