Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 24, 2005

Razões de esperança Mauro Chaves

OESP

1. "Juliana voltou das férias feliz por rever os amigos, cumprimentou-nos carinhosamente e logo se sentou na roda para ouvir as novidades dos amigos e também contar as suas. Durante todo o semestre apresentou uma atitude de muita disposição e calma no momento da entrada.

Retomou carinhosamente seu relacionamento conosco. Extremamente meiga, sabe adequar suas necessidades às dinâmicas de uma vivência em grupo, conseguindo ter nossa atenção e respeitar também as necessidades dos amigos. Assim consegue esperar sua vez e, quando ela chega, derrete-se com uma conversinha íntima, um aconchego maior, um carinho.

Esteve muito feliz com seu grupo de amigos neste semestre. É muito requisitada e querida por todos e ela procura dividir-se diante da demanda. É muito cuidadosa para atuar de maneira correta em sua relação e não magoar os amigos e, quando isso não é recíproco, ressente-se muito.

Esteve muito interessada, atenta e atuante, nos diferentes momentos de trabalho, apresentando uma atitude muito positiva com a aprendizagem. Está completamente apropriada das possibilidades que a classe oferece no momento de atividade diversificada. Faz sua escolha de forma independente e envolve-se muito durante a execução, procurando realizar o que se propôs. Divide seu tempo de maneira a explorar todos os cantos disponíveis.

Nas atividades coletivas tem uma atitude atenta e respeitosa, conseguindo entender as instruções e encaminhar-se para o trabalho, respeitando seu ritmo calmo e de grande envolvimento.

Gostou muito de nossos momentos de conversa, apreciando a participação dos amigos e trazendo contribuições para compor nosso repertório. Fala com fluência e clareza, preocupando-se em ser entendida.

Ouviu todas as histórias e textos lidos dos diferentes gêneros de nossa língua. Faz antecipações de fatos das histórias conhecidas, estabelece comparações entre um relato e outro e também hipóteses sobre o desenrolar da trama. Assim, participou com competência de todas as etapas da nossa seqüência de atividades sobre os contos clássicos.

Esteve muito atenta a todas as atividades que abordaram a linguagem escrita. Acompanhou-nos escrevendo e registrando nossas vivências, fazendo comentários sobre as letras, relacionando-as com o nome de amigos e familiares. Explorou bastante os textos que foram anexados ao caderno de leitura, estando bastante apropriada deles.

Nas atividades de matemática atuou nos desafios que propusemos sobre pequenos cálculos. Reconhece os números e relaciona-os com a quantidade que representam. Mostrou-se competente nas explorações e usos que fizemos do sistema de numeração.

Gostou de aprender as canções novas apresentadas nesse semestre. Canta junto com o grupo e mostra-se interessada e caprichosa ao anexar as letras das canções à sua pasta de música. Nos momentos em que aliamos a musica à expressão corporal, apresentou uma participação desenvolta e feliz.

Aproveitou muito as explorações que fizemos dos materiais relativos às artes plásticas. Utilizou-os de diferentes maneiras, segundo os seus propósitos, e compôs trabalhos que a deixaram muito satisfeita.

Apresenta boa habilidade corporal tanto no que se refere aos movimentos finos como nos globais e expressivos. Tem consciência de seu corpo, utilizando-o com competência nos movimentos expansivos como nos de contenção.

Juliana viveu intensamente este ano na escola, aproveitando com alegria tudo que lhe foi oferecido e, também, buscando o que necessitava. Estabeleceu uma excelente relação com adultos, crianças e trabalho. Venceu os objetivos previstos para o Jardim I e cursará, em 2006, o Jardim II." (Relatório das professoras de minha filha, que fará 5 anos de idade no mês que vem.)

2. Enquanto eu aguardava, no segundo banco da Igreja, com minha mulher e nossa filha sentadas à minha esquerda, o magnífico concerto de Natal do maestro Diogo Pacheco (com a Orquestra e Coral Crescendo e o narrador Lima Duarte), ao meu lado direito, na ponta do banco, se sentava uma moça simpática, que puxou conversa. Aproveitei para lhe perguntar como seria o programa, onde ficariam os músicos, o maestro e o coral - pois ela disse que assistia a ele pelo quarto ano. "É o meu Natal", falou, com emoção. Continuou: "Estou com câncer, há sete anos. Já fiz sete cirurgias, virou metástase. Já atingiu o cérebro, mas operei." Controlando-me ante a surpresa da informação, vinda de quem não conhecia - mas que, certamente, precisava desabafar com o mais próximo, naquele momento -, falei dos avanços da medicina nesse campo, de tantos casos de cura de pessoas conhecidas e coisas semelhantes. Logo depois, enquanto Diogo esparramava pelo cálido ambiente a musicalidade sagrada de Purcell, Bach, Mozart, Handel, Villa-Lobos e Gruber, minha recém-conhecida permanecia emocionada, com olhos lacrimejantes, mas contida, firme. Em certo momento não resisti em segurar-llhe a mão com força e permanecer assim, por alguns instantes. Veio-me à cabeça passar-lhe uma energia positiva, algo forte, que lhe fizesse bem. Mas senti que a força estava no sentido inverso: ela é que me transmitia uma grande energia, a daqueles que não desistem da luta pela vida e nela encontram resistência vital insuspeitada. Lembrei-me da bela reza: "Que Deus não nos faça passar por tudo o que podemos agüentar."

Razões de esperança: a educação, que faz o futuro, e a luta pela vida, que faz o presente. Que hoje à noite cada família encontre, pelo menos, duas razões de esperança.

Feliz Natal!


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